Melhores alunos estudam uma hora por dia depois das aulas

Nas semanas anteriores aos exames, o tempo dedicado ao estudo aumenta para cinco horas. Este ritmo não é suficiente no superior, concluiu investigação na Universidade do Porto.

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Na época de exames, os alunos inquiridos admitem que estudam cerca de sete horas e meia por dia Miguel Manso

Uma hora por dia, depois das aulas, é quanto alguns dos melhores alunos do país, com médias de ensino secundário acima dos 18 valores, dizem dedicar ao estudo ao longo do ano lectivo. Em época de exames nacionais, o tempo destinado a preparar as provas sobe para cerca de cinco horas diárias. No entanto, não basta estudar mais para conseguir melhores resultados, avisa a professora da Universidade do Porto Joselina Barbosa, autora da investigação de que resultaram estes dados.

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Uma hora por dia, depois das aulas, é quanto alguns dos melhores alunos do país, com médias de ensino secundário acima dos 18 valores, dizem dedicar ao estudo ao longo do ano lectivo. Em época de exames nacionais, o tempo destinado a preparar as provas sobe para cerca de cinco horas diárias. No entanto, não basta estudar mais para conseguir melhores resultados, avisa a professora da Universidade do Porto Joselina Barbosa, autora da investigação de que resultaram estes dados.

O trabalho de Jaoselina Barbosa envolveu estudantes da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP). Em média, estes alunos dizem ter dedicado, durante o período lectivo, sete horas semanais aos estudos para lá das aulas enquanto frequentavam o ensino secundário. Nas semanas após o final das actividades lectivas e de preparação para os exames nacionais, o tempo dedicado aumentou: foram 33 horas semanais, ou seja cerca de cinco horas por dia.

No último ano lectivo, a FMUP teve uma média de entrada no concurso nacional de acesso ao ensino superior de 18,33 valores. Foi o curso de Medicina com a nota de ingresso mais elevada e o quarto curso superior do país com a entrada mais exigente. Ou seja, os alunos que participaram nesta investigação estão “entre os melhores do país”, sublinha a autora, com médias sempre acima dos 18 valores no final do ensino secundário.

Joselina Barbosa conclui que é, no entanto, impossível estabelecer uma correlação entre o tempo dedicado ao estudo e os resultados escolares dos alunos. “Não podemos dizer que quem estuda mais tem melhores notas”, afirma a investigadora da FMUP. Para um aluno com técnicas de trabalho desajustadas ou incapacidade para distinguir o essencial do irrelevante numa determinada matéria, pode até ser contraproducente passar mais tempo a estudar.

Um outro dado a que chegou a autora na sua investigação aponta também no sentido de que mais tempo dedicado ao estudo não significa melhores notas. Uma vez entrados no curso de Medicina, estes mesmos alunos duplicam o tempo de estudo, o que não é suficiente para manterem o mesmo nível nas notas.

Após o primeiro ano da licenciatura, os alunos de Medicina têm 13 valores de média final, apesar de destinarem 14 horas semanais (isto é, duas horas por dia) ao estudo, em período de aulas. Nas épocas de exames, os mesmos alunos estudam em média 52 horas por semana – cerca de sete horas e meia diárias.

Esta terça-feira, 77 mil alunos fazem o exame nacional de Português do 12.º ano, a mais concorrida das provas do ensino secundário. A época de exames começou esta segunda-feira com o de Filosofia do 11.º ano e prolongam-se até ao próximo dia 27 de Junho.

Os dados do estudo de Joselina Barbosa foram recolhidos no ano lectivo 2014/15 junto dos estudantes da FMUP. O trabalho desta docente da Universidade do Porto faz parte de uma investigação mais lata, que se prolongou durante quatro anos e que envolveu estudantes de todos os cursos de Medicina das universidades nacionais.

Este estudo tinha como principal objectivo entender as condições em que é feita a transição dos estudantes entre o ensino secundário e o ensino superior. Como demonstrou a investigadora da FMUP, estes alunos, que entram na faculdade com médias superiores a 18 valores, acabam o primeiro ano de curso com uma média de 13.

O impacto dos novos métodos de ensino e a maior exigência das matérias de um curso superior, fazem com que estudantes “habituados a serem os melhores” a tornarem-se “alunos medianos”, explica Joselina Barbosa. “Muitos deles colocam em questão se realmente vão conseguir fazer o curso, se vão ser bons médicos se ainda conseguem não adquirir as competências que são necessárias”, acrescenta.

A sua investigação tentou por isso perceber quais são as condições em que os estudantes conseguem ter sucesso e concluiu que aqueles que têm melhor desempenho académico são capazes de conjugar um número elevado de horas dedicadas ao estudo com uma baixa sobrecarga de trabalho. Este último indicador é medido pelo volume de trabalho percepcionado pelos alunos, não sendo um valor absoluto.

Ou seja, “para atingir os níveis de aprendizagem desejados” os alunos de Medicina têm mesmo que “estudar muito”, mas sobretudo que “estudar bem”, defende a investigadora. O que distingue os alunos com melhor desempenho académico é a sua a motivação e a “aprendizagem auto-dirigida”, isto é a capacidade de orientarem autonomamente o seu estudo.

Estas são características de cada estudante que “podem ser desenvolvidas durante o curso”, defende Joselina Barbosa, uma vez que não são estáticas, ao contrário das características de personalidade. A investigadora da FMUP propõe por isso que, à chega ao ensino superior, os estudantes tenham formação, para “aprender a aprender”. A isso deve ser acrescentado um apoio por parte dos professores para que os alunos não sintam o “choque” da mudança. Este suporte deve ser “gradual”, reduzindo-se ao longo do primeiro ano lectivo no novo curso.