Áudio capta o choro e desespero das crianças separadas dos pais na fronteira dos EUA

Mais de 2300 crianças foram retiradas dos pais desde Abril, quando a administração Trump ordenou uma política de “tolerância zero”.

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Retidas na fronteira, separadas dos pais, a gritar em prantos “mamã!” e “papá!”: é este o estado das crianças que estão retidas desde a semana passada num centro na fronteira entre os Estados Unidos e o México, perceptível num clipe de áudio de cerca de sete minutos divulgado pela organização norte-americana de jornalismo de investigação ProPublica. “Bem, temos aqui uma orquestra”, brinca um dos agentes da patrulha fronteiriça, enquanto as crianças choram e gritam pelos pais. “O que falta é um maestro.”

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Retidas na fronteira, separadas dos pais, a gritar em prantos “mamã!” e “papá!”: é este o estado das crianças que estão retidas desde a semana passada num centro na fronteira entre os Estados Unidos e o México, perceptível num clipe de áudio de cerca de sete minutos divulgado pela organização norte-americana de jornalismo de investigação ProPublica. “Bem, temos aqui uma orquestra”, brinca um dos agentes da patrulha fronteiriça, enquanto as crianças choram e gritam pelos pais. “O que falta é um maestro.”

“Mamã!”, “Papá!”, ouve-se por entre gritos e choros de outras crianças, conversas de funcionários consulares e agentes. “Não chores”, diz um agente a uma criança que pede para ir com a sua tia.

Ao todo, são mais de 2300 crianças (pelo menos uma centena delas com menos de quatro anos) que foram retiradas dos pais desde Abril, quando a administração Trump ordenou uma política de “tolerância zero”, que visa desencorajar a imigração sem documentos e faz com que os imigrantes sejam acusados criminalmente – uma medida que está a ser considerada “desumana” por várias organizações. Enquanto os pais que tentam entrar no país são detidos e levados para ser julgados, as crianças ficam retidas em armazéns nas fronteiras, dormindo em tendas e até em gaiolas.

“É completamente errado separar as crianças das suas famílias em qualquer situação e sobretudo quando estão em sofrimento, como quem está a fugir da violência e da repressão, como é o caso das pessoas na América Central”, disse à BBC o alto comissário para os Refugiados das Nações Unidas, Filippo Grandi. “Portanto avisamos o governo dos Estados Unidos de que esta não é a forma correcta de lidar com este fenómeno de pessoas que procuram asilo do outro lado da fronteira.”

Na segunda-feira, Trump disse que não iria tolerar que os Estados Unidos se tornassem num campo de migração e agora partilhou uma série de tweets em que diz que “sem fronteiras, não há país” e oferece explicações para o que se vive na fronteira: “Temos sempre de deter as pessoas que tentam entrar no país de forma ilegal. Das 12 mil crianças, 10 mil estão a ser enviadas pelos pais numa viagem muito perigosa, e só 2000 estão a viajar com os pais, sendo que muitos deles já tentaram entrar no nosso país em várias ocasiões”.

“Também quero ir embora”, ouve-se uma criança a dizer no clipe de som. “Não quero que eles mandem parar o meu pai”, sussurra outra criança, em espanhol. “Não quero que eles o deportem”. “Vai ligar para a minha tia para que ela me possa vir buscar?”, pergunta uma menina de seis anos originária de El Salvador a uma funcionária, dizendo que sabe o número de cor. “Para que depois a minha mãe possa vir o mais rápido possível”, acrescenta.

A ProPublica conseguiu falar com a tia da criança, que diz estar chocada com toda a situação: “Foi o momento mais difícil da minha vida. Ela estava a chorar e a implorar-me que a fosse buscar. E dizia ‘eu prometo que me vou portar bem, mas por favor tira-me daqui. Estou sozinha’”. Mais difícil ainda era o sentimento de impotência, conta, já que não podia ir buscar a sobrinha porque também tinha entrado de forma ilegal nos Estados Unidos há dois anos.

“Eu sei que ela não é uma cidadã americana”, disse a tia sobre a sua sobrinha. “Mas é um ser humano. É uma criança. Como é que a podem tratar assim?”