Portugal, a renovação dentro da estabilidade

Ser campeão europeu nada garante num Mundial de futebol, mas a selecção de Fernando Santos apresenta-se com argumentos para ir longe na Rússia.

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Já aconteceu de tudo aos campeões europeus em Mundiais de futebol. Houve aqueles que nem sequer se qualificaram para o torneio depois do título europeu, como a Dinamarca em 1994 ou a Grécia em 2006, houve aqueles que não passaram da fase de grupos, como a França em 2002 ou a Espanha em 2014, e houve aqueles que fizeram a dobradinha Europeu-Mundial, a RFA em 1974 e a Espanha em 2010. São estes dois bons exemplos que a selecção portuguesa campeã da Europa vai tentar seguir na Rússia. Pelo que fez há dois anos, no Stade de France, a selecção de Fernando Santos pode até entrar no lote dos candidatos, mas esse estatuto não marca golos nem serve de barreira invisível para impedir os golos dos adversários.

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Já aconteceu de tudo aos campeões europeus em Mundiais de futebol. Houve aqueles que nem sequer se qualificaram para o torneio depois do título europeu, como a Dinamarca em 1994 ou a Grécia em 2006, houve aqueles que não passaram da fase de grupos, como a França em 2002 ou a Espanha em 2014, e houve aqueles que fizeram a dobradinha Europeu-Mundial, a RFA em 1974 e a Espanha em 2010. São estes dois bons exemplos que a selecção portuguesa campeã da Europa vai tentar seguir na Rússia. Pelo que fez há dois anos, no Stade de France, a selecção de Fernando Santos pode até entrar no lote dos candidatos, mas esse estatuto não marca golos nem serve de barreira invisível para impedir os golos dos adversários.

Claro que ser campeão mundial é um destino reservado a apenas uma selecção de quatro em quatro anos e essa não será a medida do sucesso ou do fracasso da selecção portuguesa. Ou melhor, ganhar o Mundial será um sucesso incrível, não o ganhar não será necessariamente um desastre. Um verdadeiro desastre será acontecer algo semelhante ao que aconteceu há quatro anos, no Brasil, ou em 2002, no Mundial da Coreia-Japão, em que a selecção portuguesa nem sequer passou da fase de grupos. Essa é a primeira meta definida por Fernando Santos. “Se não passarmos a primeira fase, é muito mau.”

O historial da participação portuguesa em Mundiais é feito de altos e baixos. Começou em alta em 1966, com o terceiro lugar dos Magriços, prosseguiu em 1986 com o caso Saltillo, manteve-se em baixa em 2002 e só voltou aos pontos altos com uma presença nas meias-finais em 2006. Quatro anos depois, o Mundial da África do Sul foi um relativo fracasso, mas um sucesso quando comparado com o desastre brasileiro, entre o calor e os altos “índices de suspeição lesional”. Desta vez, parece estar tudo no lugar, uma convocatória sem polémicas e um sentimento de unidade. Não fosse a crise do Sporting que poderá (ou não) afectar o rendimento de quatro jogadores (Rui Patrício, Bruno Fernandes, William Carvalho e Gelson Martins) e a selecção portuguesa teria sido um ambiente de total tranquilidade na preparação do torneio

Esta selecção é uma boa mistura de continuidade e renovação para que o Rússia 2018 seja um ponto alto da história portuguesa nos Mundiais. Esta é uma selecção de continuidade porque mantém o mesmo seleccionador e tem 14 dos jogadores campeões em França. E de renovação porque Fernando Santos não foi demasiado sentimental e abdicou de nove dos heróis de 2016 – um deles Éder, o herói de Paris, outro deles Nani - para poder incluir jogadores em ascensão como Bernardo Silva, Gonçalo Guedes, Gelson Martins, Bruno Fernandes, Ruben Dias e André Silva, que são o presente e o futuro da selecção nacional - um futuro em que não houver Cristiano Ronaldo, mas isso ainda estará longe de acontecer.

Com todos os títulos e distinções individuais que já ganhou, Ronaldo tem algo a provar neste Mundial, sobretudo ao seu actual empregador, o Real Madrid, com quem a relação não parece ser a mais pacífica e de onde parece (mais uma vez) estar de saída. Não pelo que fez nesta época – 44 golos marcados e contribuição decisiva para mais uma Champions -, mas pelo que ainda pode fazer. Ronaldo quer mostrar neste Mundial que, aos 33 anos, continua em plena posse das suas capacidades e que não é um jogador descartável. Para a selecção, não é, de certeza. Este vai ser o seu quarto Mundial consecutivo, talvez o último, e a grande oportunidade para fazer história também neste palco.

Ronaldo será, então, o centro de gravidade desta selecção, com um elenco de suporte para dividir as despesas do ataque, que tem, indiscutivelmente, mais soluções. O problema estará no sector mais recuado, em que a veterania dos centrais é uma prova de que a renovação de valores está a ser mais difícil. Talvez Rúben Dias, depois de uma grande época no Benfica, entre no “onze” no decorrer do Mundial, mas as primeiras opções de Fernando Santos parecem ir na direcção de Pepe e Bruno Alves, dois trintões avançados. E a lesão de Danilo Pereira também terá pesado nestas coisas, já que o médio do FC Porto seria uma opção mais que competente no eixo da defesa.

Nada é garantido, mas a composição do Grupo B quase que obriga a selecção portuguesa a ficar entre os dois primeiros lugares, sobretudo com o ambiente de caos em que entrou a selecção espanhola nos últimos dias. Irão e Marrocos serão adversários, à partida fáceis, mas os iranianos têm Carlos Queiroz (e todo o seu conhecimento do futebol português), e os marroquinos já ganharam a Portugal num Mundial (em 1986). O título europeu em 2016 foi uma soma de circunstâncias extraordinárias. Portugal não era favorito de entrada, continuou a não ser favorito durante as eliminatórias, e também não era favorito quando chegou à final com a França. Mas ganhou.