Mulheres russas devem evitar relações com homens estrangeiros de outras etnias, diz deputada
Preocupações com o aumento de famílias monoparentais e discriminação de crianças de outras etnias estão na base das polémicas declarações.
Uma deputada russa advertiu as mulheres russas para se absterem de terem relações sexuais com estrangeiros de outras etnias que estejam no país para o Mundial 2018, que começa nesta quinta-feira.
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Uma deputada russa advertiu as mulheres russas para se absterem de terem relações sexuais com estrangeiros de outras etnias que estejam no país para o Mundial 2018, que começa nesta quinta-feira.
Tamara Pletnyova, presidente da Comissão para os Assuntos da Família, Mulheres e Crianças, afirmou, durante uma entrevista na quarta-feira à estação de rádio Govorit Moskva, que as mulheres russas devem evitar interagir sexualmente com homens estrangeiros durante o campeonato. Isto porque podem tornar-se mães solteiras de crianças mestiças que vão sofrer de discriminação.
A deputada do Partido Comunista da Federação Russa afirmou que, mesmo que casem com homens estrangeiros, essas relações geralmente acabam mal e as mulheres são abandonadas. "Uma coisa é se os pais forem da mesma raça, mas outra completamente diferente é se forem de raças diferentes", disse Pletnyova citada pela agência Reuters, referindo-se ainda a preocupações sobre um possível aumento das famílias monoparentais.
As declarações de Tamara Pletnyova surgem na sequência de uma referência, durante a entrevista, aos chamados "filhos das Olimpíadas" – termo usado, durante a era soviética, para descrever o boom na natalidade depois dos Jogos Olímpicos de Verão de 1980, em Moscovo, que se refere a crianças fruto de relações entre mulheres russas e homens estrangeiros provenientes de África, da América Latina ou da Ásia. "Essas crianças vão mais tarde sofrer e sofreram na era soviética", disse a deputada citada pelo jornal Moscow Times. "Nós deveríamos dar à luz os nossos próprios filhos. Eu não sou uma nacionalista, mas ainda assim…", acrescentou. Porém, Pletnyova não deixou de assegurar que apoia os cidadãos russos que se casam "por amor, independentemente da sua etnia".
Apesar de os caucasianos serem a principal etnia do país, existem dezenas de grupos minoritários na Rússia, assim como uma grande força de trabalho imigrante predominantemente da Ásia Central e do Cáucaso. De acordo com o jornal Moscow Times, a taxa de natalidade na Rússia atingiu o nível mais baixo, numa década, em 2017 e os esforços por parte do Governo para reverter esta tendência demográfica têm sido insuficientes.
Em declarações à mesma estação de rádio Govorit Moskva, um outro deputado russo afirmou ainda que os apoiantes dos vários países podem ser portadores de vírus e infectar os russos durante o Mundial 2018, de acordo com a Reuters. Tanto a FIFA como o comité organizador do Mundial 2018 na Rússia não comentaram, até agora, as declarações.
As reacções aos comentários de Pletnyova não se fizeram esperar, com o deputado Mikhail Degtyaryov a incentivar, por outro lado, a população russa a não se coibir de ter relações sexuais com os fãs estrangeiros e a apelar ao amor e à natalidade. “Quanto mais histórias de amor tivermos relacionadas com o Campeonato do Mundo, mais pessoas de diferentes países se apaixonam, mais crianças nascem, melhor”, disse Degtyaryov à agência de notícias russa Tass, segundo o diário britânico Guardian. “Daqui a muitos anos, essas crianças vão-se lembrar que a história de amor dos seus pais começou durante o Mundial na Rússia em 2018”, acrescentou.
O porta-voz do presidente Putin, Dmitry Peskov, distanciou o Kremlin da polémica, dizendo apenas que “quanto às mulheres russas, elas farão a sua própria avaliação”. Para além do voto de confiança, não se coibiu de tecer elogios às mulheres russas: “Elas são as melhores mulheres do mundo”.
Numa altura em que a Rússia tenta mostrar o seu lado mais acolhedor durante o Mundial 2018 – que motivou a chegada ao país de centenas de milhares de fãs de futebol de todo o mundo -, os comentários de Pletnyova foram motivo de polémica. Piara Powar, director da Fare – uma organização contra a discriminação no futebol – afirma, de acordo com o mesmo jornal britânico, que as declarações em causa são um exemplo da “falta de jeito arrogante” das autoridades russas relativamente a questões de raça e discriminação. Se, por um lado, as relações entre Moscovo e o Ocidente estão bastante tensas, com várias crises a motivar sanções internacionais, Piara Powar assegura que o Mundial 2018 pode ser uma oportunidade para a Rússia “se abrir ao mundo”.
Espera-se que milhares de fãs de futebol, de 31 países diferentes, viajem até à Rússia para assistir ao Mundial 2018, que começa nesta quinta-feira, com a equipa da casa a defrontar, no primeiro jogo da competição, a Arábia Saudita. Os comentários de Pletnyova chegam um mês depois de a Federação Argentina de Futebol (FAF) ter sido criticada por distribuir um manual que dava conselhos a dirigentes, jogadores e jornalistas sobre como seduzir mulheres russas, o que motivou um pedido de desculpas.
Texto editado por Hugo Daniel Sousa