De olhos mal fechados

É muito, muito entediante e, de forma ironicamente fiel à sua temática, um convite permanente a que fechemos os olhos.

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Em Esplendor, Naomi Kawase aborda uma questão plena de precedentes, tão “poéticos” como “teóricos”: a relação entre a emoção e os sentidos, em especial o sentido da visão, naturalmente uma relação fulcral quando se trata das “artes da imagem”, e do cinema em particular (e, de Godard a Skorecki, com maior ou menor ironia teórica e justeza poética, quantas vezes não se leu já que para se ver um filme é preciso começar por “ter os olhos bem fechados”).

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Em Esplendor, Naomi Kawase aborda uma questão plena de precedentes, tão “poéticos” como “teóricos”: a relação entre a emoção e os sentidos, em especial o sentido da visão, naturalmente uma relação fulcral quando se trata das “artes da imagem”, e do cinema em particular (e, de Godard a Skorecki, com maior ou menor ironia teórica e justeza poética, quantas vezes não se leu já que para se ver um filme é preciso começar por “ter os olhos bem fechados”).

Temos então, em Esplendor, o encontro entre duas personagens que se debatem com o “fechamento dos olhos”: uma mulher que trabalha na adaptação de filmes para espectadores invisuais, através de uma narração audio, e um fotógrafo que, por doença, está gradualmente a perder a visão.

O que Kawase faz com isto, no entanto, é do menos interessante que se pode imaginar: acentuando o que tem sido a infeliz marca dos seus últimos filmes, tudo parece ter como método e como meta um sentimentalismo muito light, uma “filosofia” inspiradora digna de magazine domingueiro, que ao mesmo tempo parece — e é — uma versão adocicada até à náusea do carácter “místico” que o cinema japonês representa para muitos espectadores ocidentais (e, de resto, conforme o atesta boa parte da sua obra, ninguém é hoje tão “especialista” em “cinema japonês para estrangeiros” como Naomi Kawase).

Como é de “emoção” que se trata, abundam os diálogos à procura de um profundidade que no entanto nunca passa da superfície, nem faltam, às carradas, os planos em contraluz de pores do sol com música de pianinho por cima, dir-se-ia capazes de envergonharem o próprio Terrence Malick, grande utilizador e abusador do processo. É muito, muito entediante e, de forma ironicamente fiel à sua temática, um convite permanente a que fechemos os olhos.

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