Cinco anos depois, pouco resta do antigo Bom Sucesso no novo mercado
O novo Bom Sucesso trouxe uma nova vida à zona da Boavista, mas a zona de frescos tem apenas dois vendedores. Esta quarta-feira, David Fonseca faz as honras da festa.
Estamos em plena hora de almoço no Bom Sucesso, onde, há cinco anos, as portas do novo mercado se abriam pela primeira vez. Está cheio e os tabuleiros são obrigados a subir ao primeiro piso, onde restam ainda algumas mesas vagas. De volta ao rés-do-chão, ultimam-se os preparativos para o concerto de David Fonseca, marcado para a noite desta quarta-feira.
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Estamos em plena hora de almoço no Bom Sucesso, onde, há cinco anos, as portas do novo mercado se abriam pela primeira vez. Está cheio e os tabuleiros são obrigados a subir ao primeiro piso, onde restam ainda algumas mesas vagas. De volta ao rés-do-chão, ultimam-se os preparativos para o concerto de David Fonseca, marcado para a noite desta quarta-feira.
Há precisamente sete anos, despediram-se do Mercado Bom Sucesso caras que o conheciam desde 1952. E dessa época, pouco é o que resiste. A oferta continua a ser vasta, mas diferente. Basta percorrer o corredor à direita da entrada principal para reparar que a cozinha portuguesa se funde com os sabores italianos. Há bolo do caco, leitão, queijo, focaccia, piadina e até doces regionais de Amarante. Do lado oposto, encontraríamos decerto gastronomia japonesa, norte-americana ou brasileira.
No meio deste cosmopolitismo, o Mercado de Frescos, ao fundo do mesmo corredor, passa despercebido. Aqui o ambiente está mais calmo e quem lê “talho, peixaria, frutas e legumes, flores e produtos bio”, na placa à entrada, fica desiludido. A florista Fúria das Flores, à frente, e a banca de frutas e legumes Ludite, à nossa direita, são as únicas que restam. Todos os comerciantes deste espaço chegaram depois da reestruturação, em 2013. E Antero Pinto, que trabalha no mercado há 60 anos, é dos únicos que sobrevive para contar a história.
A Pérola do Bom Sucesso, loja de que é proprietário, remonta à inauguração do mercado. Na mercearia exterior, virada para a praça, pouco mudou. As prateleiras deixaram de ser de madeira, os produtos estão mais visíveis e poucos deles são ainda pesados. De resto, tudo igual, mas no interior do mercado o cenário é outro. No espaço renovado, com seis mil metros quadrados, 28 lojas e 44 bancas convivem com um hotel de quatro estrelas, com uma área de escritórios e com a Fundação Manuel António da Mota. As notícias são animadoras e no ano passado foi batido o recorde de 13 milhões de visitantes.
Mas se antigamente os portuenses encontravam ali todos os produtos que precisavam para o dia-a-dia, hoje é cada vez mais difícil encontrar frescos. “O mercado tinha de tudo, tinha mercearias, tinha queijarias, tinha talho. Deixou de ter tudo para não ter nada”, lamenta Antero Pinto.
No site do Mercado Bom Sucesso pode ler-se que a reabilitação do edifício não interferiu com “a alma deste espaço”, mas o comerciante discorda. O Mercado dos Frescos, que tentou manter viva a tradição do local, diz Antero Pinto, nunca resultou. O talho encerrou passados “um ano ou dois”, a peixaria também não durou muito. “Os frescos praticamente acabaram e passamos a ter aquilo que lá está, que digamos que é um mercado de alimentação. A frutaria e os legumes ainda se conseguem aguentar, mas tudo o resto fechou”, nota o lojista de 78 anos.
A localização, escondida e sem acesso directo para a rua, bem como a subida do valor das rendas são apontadas como algumas das razões para a falta de actividade no local. O PÚBLICO tentou falar com a administração do mercado, mas, até ao momento, não obteve uma resposta.
Uma comerciante do Mercado dos Frescos, que prefere não ser identificada, não partilha da mesma opinião. Abriu o espaço em 2013 e garante estar satisfeita: “Estão sempre à procura de trazer para cá operadores que tenham algum produto ou algum serviço diferenciado, variedade nesses serviços e tem sido uma constante promoção do espaço”.
Para os turistas o Mercado Bom Sucesso é “um ponto de referência”, afirma, quer pela localização, quer pelo conceito diferenciador. Aqui, vê pessoas de todas as idades, prontas para descobrir produtos tradicionais e experimentar a gastronomia do país.
O Mercado Bom Sucesso encerrou ao público no dia 3 de Junho de 2011, depois da Câmara do Porto ter aprovado a concessão da reabilitação do espaço à Mercado Urbano, subsidiária da bracarense Eusébios, em Julho de 2009. O contrato para a cedência do direito de superfície foi assinado um ano e meio depois e a reabilitação do edifício começou em Agosto desse ano.
A 13 de Junho de 2013, as portas reabriram com um novo conceito. O mercado tem conquistado o público portuense, mas também estrangeiros admiradores da cozinha portuguesa e produtos gourmet. Mas o comércio e a restauração não são as únicas razões para o sucesso do Bom Sucesso. Hoje, os visitantes podem usufruir também de uma agenda cultural variada, que inclui música, teatro, dança, exposições e workshops. Os frescos, esses têm de ser procurados noutras paragens.
Texto editado por Abel Coentrão