A arquitectura como ferramenta para o crescimento do futebol

O Mundial 2018 realiza-se num país onde o desporto nacional continua a ser o hóquei no gelo, mas o arquitecto alemão Peter Knoch, radicado na Rússia há 15 anos, considera que a prova pode ajudar a inverter esse cenário.

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O interior do Estádio Nizhny Novgorod MAXIM SHEMETOV/Reuters

O primeiro jogo será com a Espanha no Estádio Fisht, em Sochi, já na próxima sexta-feira. Segue-se um duelo com Marrocos, dia 20, no Estádio Luzhniki, em Moscovo e, para encerrar o Grupo B do Campeonato do Mundo de 2018, Portugal defronta o Irão, na Arena Monrovia, em Saransk. No entanto, se a selecção nacional se ficar pela primeira fase apenas terá conhecido um quarto dos palcos do Mundial da Rússia. No total, serão 12 os recintos que vão acolher as 64 partidas da principal prova organizada pela FIFA, e segundo Peter Knoch, arquitecto em Moscovo, arquitetonicamente a grande mais-valia do investimento da Rússia neste Mundial estará nas envolventes aos estádios.

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O primeiro jogo será com a Espanha no Estádio Fisht, em Sochi, já na próxima sexta-feira. Segue-se um duelo com Marrocos, dia 20, no Estádio Luzhniki, em Moscovo e, para encerrar o Grupo B do Campeonato do Mundo de 2018, Portugal defronta o Irão, na Arena Monrovia, em Saransk. No entanto, se a selecção nacional se ficar pela primeira fase apenas terá conhecido um quarto dos palcos do Mundial da Rússia. No total, serão 12 os recintos que vão acolher as 64 partidas da principal prova organizada pela FIFA, e segundo Peter Knoch, arquitecto em Moscovo, arquitetonicamente a grande mais-valia do investimento da Rússia neste Mundial estará nas envolventes aos estádios.

Os jogos do Mundial da Rússia ainda não começaram, mas já arrancou a competição arquitectónica entre os 12 estádios que vão acolher o evento. As arenas russas estão distribuídas por quase 3000 quilómetros e, se em cinco situações a estratégia passou por apostar em edifícios já existentes, sujeitá-los a renovações e acoplar-lhes instalações de carácter temporário destinadas a assegurar a lotação exigida pelos padrões FIFA, há sete estádios que foram construídos de raiz: o de São Petersburgo, inaugurado em 2017, e os de Nizhny Novgorod, Rostov, Samara, Saransk, Volgogrado e Kaliningrado, todos estreados já este ano. É certo que as estruturas que vão acolher os jogos mais aguardados do ano podem não ter um carácter tão nómada quanto as criadas, por exemplo, para os Jogos Olímpicos de 2016 no Rio de Janeiro – em que a Arena do Futuro, utilizado pelo andebol, foi concebida de forma a ser posteriormente transformada em quatro escolas –, mas a Rússia quis igualmente evitar “elefantes brancos”.

“O Campeonato do Mundo e a arquitetura dos seus estádios são uma ferramenta para aumentar a importância do futebol na Rússia”, defende o arquitecto alemão Peter Knoch, que, radicado desde 2003 em Moscovo, aí fundou a companhia Mplus e com ela integra a rede internacional Guiding Architects. Todos os anos conduz 1500 pessoas através de visitas guiadas especificamente concebidas para revelar o edificado e paisagem de Moscovo a arquitectos, engenheiros e outros profissionais do sector da construção e do planeamento, e reconhece que “é habitual esses visitantes demonstrarem interesse nos estádios russos enquanto edifícios complexos com propositado bom design”. Mas a modalidade a que essa arquitectura se destina faz a diferença: “Na Rússia, o desporto nacional é o hóquei no gelo, pelo que, hoje em dia, são os pavilhões dessa modalidade os mais interessantes”.

Isso não impediu que a Mplus tenha registado um aumento na procura de roteiros por estádios de futebol e respectivas envolventes, até porque essa terá sido a consequência mais positiva dos investimentos gerados pela escolha da Rússia para sede do Campeonato do Mundo. “A maioria destes estádios está incorporada em paisagem nova ou que se renovou especificamente devido ao Mundial”, explica Peter Knoch, em conversa com o PÚBLICO. Esses arranjos urbanísticos ajudarão a garantir aos novos edifícios um uso social que lhes permita recuperar com facilidade o investimento e, nisso, um requisito comum foi a sustentabilidade.

“Em termos financeiros, a utilidade futura dos estádios e das áreas desportivas foi tida em conta e há muitas actividades planeadas para que esses espaços se possam manter funcionais e rentáveis”, avalia o arquitecto. Foi esse o princípio aplicado à Ekaterinburg Arena, que, no essencial, consiste num palco construído de raiz no enquadramento de um estádio histórico e por isso ainda exibe a sua anterior fachada como parte integrante e protegida do novo edifício. “Isto criou-lhe limitações de tamanho, mas, para corresponder às exigências da FIFA sem prejudicar a sustentabilidade futura do imóvel, foram instaladas no exterior da Arena duas bancadas temporárias que daí serão removidas no final do campeonato”, conta Knoch. O mesmo acontecerá no Estádio de Volgogrado, onde as bancadas superiores utilizadas durante o Mundial serão removidas após o evento para reduzir a capacidade do recinto a números que evitem prejuízo. Ambas as soluções permitem assegurar aos estádios a capacidade desejada durante a época alta do futebol e retomar depois uma lotação mais modesta até à festa seguinte.

Já no que se refere a sustentabilidade de ordem ambiental, Knock admite que essa “foi menos considerada do que aconteceria em países ocidentais” e avança com a justificação: “Como a energia na Rússia é barata e as taxas de juro são altas, na ordem dos 13 a 17%, não há interesse em poupanças de longo prazo”.

Cálculos e outras contas à parte, Peter Knoch acredita que em qualquer estádio da FIFA se poderá apreciar “a força das soluções estruturais e de engenharia” que sempre caracterizaram a arquitectura russa, mas assume ter favoritos: “O estádio em Saransk é bom, o do Spartak em Moscovo é óptimo e o de Volgogrado é espectacular”. Neste último, o arquitecto aprecia-lhe “o telhado bem desenhado, a estrutura da fachada, as escadas e bancadas confortáveis, e os acessos para espectadores com mobilidade reduzida – tudo isso integrado num parque em plena margem do Volga”. com Alexandra Couto