Oftalmologia: o melhor artigo científico da Harvard Medical School é (outra vez) da Inês

Inês Laíns venceu, pelo segundo ano consecutivo, o prémio de melhor artigo científico na área da Oftalmologia da Harvard Medical School. A médica e investigadora dedica-se ao estudo do diagnóstico da principal causa de cegueira em pessoas acima dos 50 anos.

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Inês Laíns, durante o evento de entrega do prémio DR

A portuguesa Inês Laíns publicou, pelo segundo ano consecutivo, o melhor artigo científico na área da Oftalmologia da Harvard Medical School, instituição norte-americana onde desenvolve investigação há já quatro anos sobre a degenerescência macular relacionada com a idade (DMI). O prémio — que, no passado, só por uma vez tinha sido atribuído duas vezes à mesma pessoa — foi entregue na última sexta-feira, 8 de Junho. “Estamos a tentar desenvolver biomarcadores que nos indiquem quais as pessoas com maior risco de ter DMI ou de ficar pior com o passar do tempo”, explica a médica, ao telefone com o P3 a partir de Boston, onde vive.

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A portuguesa Inês Laíns publicou, pelo segundo ano consecutivo, o melhor artigo científico na área da Oftalmologia da Harvard Medical School, instituição norte-americana onde desenvolve investigação há já quatro anos sobre a degenerescência macular relacionada com a idade (DMI). O prémio — que, no passado, só por uma vez tinha sido atribuído duas vezes à mesma pessoa — foi entregue na última sexta-feira, 8 de Junho. “Estamos a tentar desenvolver biomarcadores que nos indiquem quais as pessoas com maior risco de ter DMI ou de ficar pior com o passar do tempo”, explica a médica, ao telefone com o P3 a partir de Boston, onde vive.

A degenerescência macular relacionada com a idade é “a principal causa de cegueira em pessoas acima dos 50 anos” e, numa fase precoce, é “maioritariamente assintomática”. “Estudos indicam que 69% dos doentes que nos chegam já estão numa fase avançada da doença, já perderam a visão e não há muito que possamos fazer”, diz a médica, para quem urge “identificar as pessoas mais cedo”. A pensar nisso, a também investigadora de 32 anos está a trabalhar numa “nova técnica” com “resultados muito encorajadores” que mostram como “as pessoas com DMI apresentam diferenças numa análise ao sangue, quando comparadas com pessoas da mesma idade que não a têm”. “E essas alterações variam com a evolução da doença.”

A conimbricense, formada no Centro Hospitalar e Universitário da sua cidade, simplifica: “Quando vamos ao médico de família, ele pode pedir análises ao sangue. Sabemos que se tivermos um nível de colesterol elevado apresentamos um risco maior de sofrer um enfarte ou um acidente vascular cerebral — e temos que tentar modificar alguma coisa. E isso é o que nós chamamos biomarcadores.” Na Universidade de Harvard, Inês está a tentar identificar algo semelhante no sangue que esteja relacionado com a DMI.

“Potencial e idealmente, este deveria ser um teste feito a todas os indivíduos com mais de 50 anos”, continua. “Claro que podemos diagnosticar as pessoas que vão ao oftalmologista, mas o problema é que muitas não vão de uma forma regular.” Esta doença, com “uma prevalência enorme”, tem consequências terríveis para a qualidade de vida dos doentes porque “mesmo quem não perde a visão tem uma distorção e alterações na visão central”. “Imagina o que é viver com uma zona preta no meio do campo visual.”

Esta doença “muito complexa” precisa de ser estudada, acredita Inês, até porque é “multifactorial”: “Tanto envolve factores genéticos como ambientais e nós não compreendemos muito bem como é que esses factores interagem para promover o seu aparecimento.” A investigação em curso em Harvard — em colaboração com o Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra — foi inicialmente financiada pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) e pelo programa Harvard-Portugal. Há 500 doentes envolvidos: 200 dos Estados Unidos, seguidos no Massachusetts Eye and Ear Hospital, e 300 portugueses, seguidos na unidade de Coimbra.

Existem diferenças entre os pacientes portugueses e os norte-americanos, sim, e o objectivo da investigação é explorá-las. “Queremos perceber como é que essas diferenças se relacionam com as diferenças genéticas e com o estilo genético de ambos os grupos”, refere. Os investigadores têm informações sobre a dieta dos participantes, bem como estudos genéticos dos mesmos, e o próximo passo é “voltar a ver os doentes ao fim de cinco anos”. Isto porque as conclusões publicadas agora resultam de dados colhidos em 2015 e 2016 e a ideia é analisar o perfil do sangue dos doentes, quer daqueles que sofreram agravamento da DMI, quer daqueles cujo estado se manteve inalterável.

Em 2017, o artigo premiado pela Universidade de Harvard — Structural Changes Associated with Delayed Dark Adaptation in Age-Related Macular Degeneration —, focava-se no teste de adaptação ao escuro, que também é útil para a compreensão dos mecanismos da DMI. Isto porque existe apenas um único tratamento para a doença, desenvolvido por Joan Miller. Inês e o grupo de investigação onde está inserida dedicam-se ao diagnóstico e à compreensão da doença. “Se compreendermos melhor os mecanismos, vamos conseguir ajudar quem estuda o tratamento.”

Depois de vencer pela segunda vez o Evangelos S. Gragoudas Award — que inclui uma “gratificação pessoal” de 5000 dólares (4237 euros) — com o trabalho Human Plasma Metabolomics Study Across All States of Age-related Macular Degeneration Identifies Potential Lipid Biomarkers, Inês prepara-se para repetir a especialidade médica em Oftalmologia para poder exercer nos Estados Unidos. “Estive quatro anos só a fazer investigação, tenho saudades de ver doentes.”