Sim, a Expo ’98 nasceu aqui
Antes de ser um exemplo urbanístico, a zona onde se ergueu a Exposição Internacional de Lisboa era uma parcela da cidade escondida na sucata. 20 anos depois da Expo ’98, o repórter Bruno Portela lembra esse lugar inóspito através de um conjunto de fotografias espalhadas pelo Parque das Nações.
Pare, escute e olhe: uma cidade pode esconder outra. E, olhando para tudo aquilo, quem imaginaria a cidade que ali estava escondida? Entulho à beira-rio, barcos podres, um muro de contentores, material de guerra obsoleto, barracas, sucata variada, bidões de petróleo e bilhas de gás, animais a caminho da morte, fábricas desertas. Há 24 anos, uma Lisboa que não era bem Lisboa era assim. E daquela amálgama se fez cidade.
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Pare, escute e olhe: uma cidade pode esconder outra. E, olhando para tudo aquilo, quem imaginaria a cidade que ali estava escondida? Entulho à beira-rio, barcos podres, um muro de contentores, material de guerra obsoleto, barracas, sucata variada, bidões de petróleo e bilhas de gás, animais a caminho da morte, fábricas desertas. Há 24 anos, uma Lisboa que não era bem Lisboa era assim. E daquela amálgama se fez cidade.
Fez-se a Expo ’98, depois Parque das Nações. Lisboa percebeu que ali também havia Lisboa. Passaram-se 24 anos, mas foi como se tivesse passado um século. “Há muita gente que não tem noção do que lá estava antes. As pessoas não punham lá os pés.” O fotojornalista Bruno Portela assistiu a tudo – o que era antes, o que se fez, como ficou depois. Em 1994, aprovada a realização da Exposição Mundial em 1998, calcorreou aquele território durante meio ano para “fazer um levantamento exaustivo” da situação existente.
Foi um trabalho “de urgência”, lembra Portela. “Aquela paisagem ia desaparecer e era preciso fazer um registo fotográfico das actividades que lá havia, das pessoas que lá estavam.” A Parque Expo, então liderada por António Mega Ferreira, percebeu a necessidade de eternizar aquela memória e encomendou-lhe o trabalho. Que agora, 20 anos depois da Expo, é mostrado no espaço público do Parque das Nações em grandes painéis. São 78 fotografias, escolhidas por Bruno Portela e pelos repórteres fotográficos Francisco Leong e José Manuel Ribeiro, que ajudam a contar o último grande feito urbanístico do século XX que aconteceu na capital.
“O que faz sentido é as fotografias estarem na rua”, comenta o repórter em conversa com o P2. “Era impossível colocá-las no sítio exacto onde existiam as coisas fotografadas”, mas, ainda assim, é possível que os visitantes se “encontrem com o presente e reflictam que o trabalho feito foi enorme”.
Através deste trabalho, vemos espaços de uma cidade remetida ao seu próprio mundo. Como o velho matadouro. “Parecia quase uma antiga quinta, com uma porção de currais”, recorda Bruno Portela, evocando “uma coisa impressionante, muito selvática”. Ou o depósito de material de guerra, onde olhos alheios não eram bem-vindos. Ou até mesmo a refinaria, que “fazia com que os petroleiros atravessassem o rio todo com o crude”.
Olhando para trás, não há nostalgia possível nas palavras do fotojornalista. “A doca dos Olivais [onde hoje se ergue o Oceanário] era uma poça de lodo, onde havia uns barcos encalhados.” Noutro local, os contentores. “Diziam que era um muro de contentores, mas aquilo era quase um bairro de contentores.” Mais à frente, o Trancão poluído, as margens decoradas a lixo, cartão-de-visita indesejado de uma capital europeia. “Plasticamente, fotograficamente, é bonito. Tem esse lado gráfico que é bonito”, admite Bruno Portela.
Mas é só isso. “No fundo, o que a Expo fez foi entregar à cidade uma zona que estava vedada aos lisboetas”, analisa o fotojornalista. “A Expo foi um exemplo. Mesmo depois de acabar, houve muitos países que vieram ver como é que tinha sido feito”, diz Portela, que ainda trabalhou para a Parque Expo durante anos. Outros países, mas não só. Várias cidades portuguesas, ao pensarem os seus Polis, buscaram inspiração neste espaço lisboeta.
O mesmo onde agora se exibem as fotografias de Bruno Portela, numa exposição apadrinhada pela EGEAC (empresa municipal de Cultura de Lisboa) que propõe um “percurso que facilmente se percorre”. Da torre Galp ao Parque Tejo, com paragens no Oceanário, Pavilhão de Portugal, Centro Comercial Vasco da Gama, Jardins Garcia da Orta e Torre Vasco da Gama. “Você não está aqui” pode ser vista até ao último dia de Setembro, data em que é lançado o livro “Uma cidade pode esconder outra”, com edição e textos de João Paulo Cotrim. Até lá, no primeiro domingo de cada mês, há visitas comentadas com o próprio Bruno Portela e um convidado: João Paulo Velez, Ana Sousa Dias e Rui Cardoso Martins.