Catarina Martins avisa sobre risco de desiludir gerações de precários
A coordenadora bloquista disse que ia entregar uma proposta no Parlamento para penalizar as empresas com "níveis muito elevados de desigualdade salarial".
A coordenadora do BE, Catarina Martins, alertou este sábado para o risco de a maioria parlamentar desiludir, nas matérias da precariedade, "gerações de trabalhadores que nunca conheceram o trabalho com direitos". "Uma maioria parlamentar que os desiluda mais uma vez, substituindo medidas consequentes contra a precariedade por conceitos vagos e excepções que quase suplantam as regras, pagará o preço de não estar à altura da esperança que fez nascer", avisou Catarina Martins.
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A coordenadora do BE, Catarina Martins, alertou este sábado para o risco de a maioria parlamentar desiludir, nas matérias da precariedade, "gerações de trabalhadores que nunca conheceram o trabalho com direitos". "Uma maioria parlamentar que os desiluda mais uma vez, substituindo medidas consequentes contra a precariedade por conceitos vagos e excepções que quase suplantam as regras, pagará o preço de não estar à altura da esperança que fez nascer", avisou Catarina Martins.
A coordenadora bloquista discursava no encerramento de uma conferência europeia sobre "género, autodeterminação e políticas LGBTI+", no jardim de Inverno do Teatro São Luiz, em Lisboa.
Catarina Martins alertou para o risco de serem goradas expectativas de "gerações de trabalhadores que nunca conheceram o trabalho com direitos", e, referindo-se às propostas laborais negociadas em concertação social, considerou "lamentável" que o ministro do Trabalho, Vieira da Silva, tenha "basicamente atirado aos patrões as conquistas que tinham sido feitas antes", no pacote anti-precariedade, alcançado entre BE, PS e Governo.
"Todas as propostas introduzidas pelos patrões e aceites pelo ministro têm o objectivo de abrir janelas para que entrem os abusos a que tínhamos fechado a porta. Não foi um bom momento deste processo, mas não nos esquecemos de uma coisa muito importante: quem representa o país é a Assembleia da República, não são as confederações patronais", afirmou.
Na sua intervenção, a coordenadora bloquista referiu-se a uma proposta que o BE entregará na segunda-feira no Parlamento para penalizar as empresas com "níveis muito elevados de desigualdade salarial", impedindo-as de fazer contratos com Estado ou receber benefícios e apoios públicos.
"O que diz esta proposta? Coloca na lei um princípio muito simples: se existe uma empresa em que o salário mais alto é muito superior ao salário mais baixo, essa empresa não pode fazer contratos com o Estado ou receber benefícios e apoios públicos", revelou Catarina Martins.
A coordenadora do BE argumentou que a lista das empresas que receberam mais benefícios fiscais é também aquela onde se encontram as maiores desigualdades salariais, como a "EDP, com o salário milionário de António Mexia, que recebe 50 vezes o que recebe um trabalhador com salário médio" daquela empresa.
"Lá estão os CTT, com Francisco Lacerda, o administrador que remunerou a administração dos CTT acima das possibilidades da empresa, a receber por mês o equivalente a 45 salários médios na empresa. Lá está o Pingo Doce, com Pedro Soares dos Santos a receber por mês o que ganham 130 trabalhadores com salário médio na sua empresa. Afinal de contas, para quem ganha tanto com o trabalho dos outros sabe bem pagar tão pouco", sustentou.
Catarina Martins ancorou os seus argumentos em dados conhecidos recentemente que apontam que "nas empresas do PSI-20, o salário do presidente-executivo da empresa é, em média, 38 vezes superior ao salário médio dos trabalhadores".
"O salário médio, note-se bem. Isto significa que entre o Presidente e os trabalhadores com salário mais baixo a diferença será ainda maior. Quanto maior a diferença, maior o cinismo. Na Jerónimo Martins, Pedro Soares dos Santos, um visionário que teve o talento de herdar a empresa do pai, tem um salário mais de 130 vezes superior ao salário médio dos trabalhadores da empresa que dirige", apontou.