Economistas da campanha de Macron acusam-no de favorecer os mais ricos

As reformas económica do Presidente francês estão a alienar os que lhe deram a vitória, advertem os três especialistas.

Foto
Emmanuel Macron EPA

A política económica de Emmanuel Macron favorece os mais ricos e deve ser alterada para combater a desigualdade, diz um estudo feito por três economistas que trabalharam na campanha do Presidente francês e que foi divulgado neste sábado pelo jornal Le Monde.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

A política económica de Emmanuel Macron favorece os mais ricos e deve ser alterada para combater a desigualdade, diz um estudo feito por três economistas que trabalharam na campanha do Presidente francês e que foi divulgado neste sábado pelo jornal Le Monde.

Esta crítica é o mais recente sinal dos problemas e da rejeição que as reformas económicas estão a gerar entre as bases de centro-esquerda que elegeram Emmanuel Macron no ano passado.

Num memorando confidencial enviado a Macron e que está na primeira página do Le Monde, os economistas dizem que as reformas económicas do Presidente "não convencem nem os apoiantes mais fiéis". "Muitos dos apoiantes do então candidato expressaram o seu receio de que Macron tenha feito uma inflecção à direita motivada pela tentação de preencher o vazio político deixado pelo declínio do partido conservador", escrevem os economistas.

Jean Pisani-Ferry, o professor da faculdade de Paris Sciences Po que coordenou o programa económico do Presidente e que é uma voz influente nos círculos do poder franco-alemães, é um dos autores do estudo e do memorando. Contactado, não quis fazer comentários. 

Os dois outros autores são Philippe Martin, que foi conselheiro de Macron e que é o chefe do Conselho de Análise Económica francês, e Philippe Aghion, que pertence à elite do College de France. Também não quiseram prestar declarações à Reuters.

Macron, que fez a sua campanha sob o lema "nem à esquerda nem à direita", desviou-se para a direita no seu primeiro ano de mandato ao liberalizar as leis do trabalho e ao baixar os impostos sobre a riqueza. Ganhou o nome de "Presidente dos ricos".

Os três economistas dizem que há o risco de os franceses considerarem estas medidas injustas e de acusarem o Governo de ignorar os problemas dos mais pobres.

"O Presidente deve falar no problema da desigualdade e não deixar esse debate nas mãos dos seus opositores", escrevem os economistas.

Entre as propostas que fazem para reduzir as desigualdades está o aumento do imposto de sucessão para os mais ricos, acabar com os benefícios fiscais nos investimentos sobre a propriedade e o cancelamento da promessa de abolição do imposto sobre o património imóvel para os 20% mais ricos.

O gabinete de Macron confirmou ter recebido o memorando, mas fez saber que não comenta políticas do Governo.

O Presidente francês está no Canadá onde participa na cimeira do Grupo dos Sete países com as economias mais ricas do mundo, onde os líderes estão imersos numa guerra comercial com o Presidente dos Estados Unidos Donald Trump.