O mesmo refúgio de "excelência", mas sem o ambiente do Euro

Selecção portuguesa chega hoje a Moscovo e dirigir-se-á de imediato para Kratovo, onde a aguarda um complexo desportivo de topo.

Fotogaleria

A 9 de Junho de 2016, quando o Airbus da TAP Eusébio aterrou em Paris com a comitiva portuguesa que ia disputar o Campeonato da Europa em França, os 23 convocados de Fernando Santos sabiam que após percorrem os pouco mais de 20 quilómetros que separavam o aeroporto de Orly da pacata vila de Marcoussis, teriam uma recepção calorosa na chegada ao Centre National de Rugby, o quartel-general de Portugal durante a prova. Precisamente dois anos depois, voltará a ser curta a distância que um novo grupo de 23 convocados terá que percorrer do aeroporto de Domodedovo, na Rússia, ao centro de estágio onde vão preparar a participação lusa em mais uma grande competição internacional. Desta vez, porém, a chegada a Kratovo, nos subúrbios de Moscovo, deverá ter pouca pompa e circunstância.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

A 9 de Junho de 2016, quando o Airbus da TAP Eusébio aterrou em Paris com a comitiva portuguesa que ia disputar o Campeonato da Europa em França, os 23 convocados de Fernando Santos sabiam que após percorrem os pouco mais de 20 quilómetros que separavam o aeroporto de Orly da pacata vila de Marcoussis, teriam uma recepção calorosa na chegada ao Centre National de Rugby, o quartel-general de Portugal durante a prova. Precisamente dois anos depois, voltará a ser curta a distância que um novo grupo de 23 convocados terá que percorrer do aeroporto de Domodedovo, na Rússia, ao centro de estágio onde vão preparar a participação lusa em mais uma grande competição internacional. Desta vez, porém, a chegada a Kratovo, nos subúrbios de Moscovo, deverá ter pouca pompa e circunstância.

Há dois anos, o aparato foi grande. Havia um helicóptero da polícia no ar, polícia a cavalo, muitos agentes a pé e, pelo meio, muitos portugueses efusivos pelas estradas. Quando Portugal chegou a Marcoussis, uma pitoresca vila a Sul de Paris, várias centenas de adeptos pintaram de vermelho e verde a estreita rua Jean de Montaigu, porta de entrada do centro de estágio da Federação Francesa de Rugby. Nesse dia, o primeiro treino de Cristiano Ronaldo e companhia em solo francês teve direito a bancada cheia – os bilhetes disponíveis esgotaram-se num ápice.

Hoje, o filme deverá ser totalmente diferente. Tal como Marcoussis, Kratovo é uma pequena localidade com cerca de 10 mil habitantes, mas na Rússia a comitiva portuguesa encontrará uma paisagem bem mais austera e rústica. A cerca de 70 quilómetros de Moscovo, onde a comunidade portuguesa ronda apenas as duas ou três dezenas de pessoas, Kratovo tem poucos motivos para figurar num qualquer roteiro turístico. É, no entanto, a terra natal do pianista e compositor Sergei Prokofiev, autor de obras-primas como Romeu e Julieta e Pedro e o Lobo, e é o local do centro de estágio do FC Saturn, equipa que faliu há menos de uma década, caindo por esse motivo para os escalões secundários do futebol russo.

Apesar do declínio do clube local, o quartel-general da selecção nacional durante o Campeonato do Mundo de 2018, pré-reservado pela Federação Portuguesa de Futebol (FPF) desde Agosto de 2016, recebeu obras de melhoramento no último ano, mesmo se já antes figurava entre os melhores centros de estágio na Rússia. Não será por acaso que Suleiman Kerimov – o multimilionário russo que há meia dúzia de anos contratou jogadores como Roberto Carlos, Lassana Diarra ou Samuel Eto´o numa tentativa de fazer do modesto FC Anzhi Makhachkala uma potência do futebol europeu – escolheu Kratovo como base da equipa, fugindo dessa forma aos perigos do Daguestão, considerado como um dos locais mais perigosos da Europa.

Ao longo de uma área com mais de 11 hectares, os 23 jogadores portugueses terão à sua disposição no centro de estágio do FC Saturn dois relvados naturais e um sintético, ginásio, piscina de 25 metros aquecida, duas saunas, sala de vibromassagem, campos de basquetebol, voleibol e mini-futebol. São instalações a que Fernando Santos atribuiu “excelência” a “todos os níveis”. “Temos a possibilidade de treinar à porta de casa – ou dentro de casa, como é o caso – e há um aeroporto muito perto, que nos vai evitar deslocações de cerca de duas horas. Moscovo tem um trânsito muito difícil e o aeroporto está a 15 ou 20 minutos. Tudo isso é muito importante”, afirmou o seleccionador nacional após ser revelado o local escolhido pela FPF, que repete assim a receita usada no Euro 2016 ao preferir um complexo desportivo em vez de uma unidade hoteleira.

Para além dos “relvados perfeitos”, o Ministro do Desporto da região de Moscovo Roman Terukov, citado pela sua assessoria de imprensa, revelou mais algumas exigências dos portugueses: pintura de todo o interior, mobiliário de cortiça nas varandas, plasmas de grande dimensão nos quartos e consolas de jogos ligadas em rede para os jogadores poderem competir entre si.

E, por falar em competição, apesar de as 32 selecções estarem bem distribuídas na vastidão do território russo e de a FIFA ter colocado à disposição de todos os países múltiplas opções de escolha, Portugal de Cristiano Ronaldo terá concorrência por perto: em Bronnitsy, a apenas 29 quilómetros de Krotovo, estará o quartel-general da Argentina de Lionel Messi.