Ter um ter um sonho não é só a prerrogativa dos grandes líderes mundiais
É possível fazer inovação a partir das redações e das empresas jornalística, independentemente da situação económica, da dimensão ou do ambiente político de cada Estado membro.
Eu tenho um sonho: um dia, as empresas de media serão o mais inovador sector de atividade no mundo porque as pessoas querem e precisam de confiar cada vez mais na nossa visão pluralista e diversificada, na nossa missão e na nossa curadoria.
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Eu tenho um sonho: um dia, as empresas de media serão o mais inovador sector de atividade no mundo porque as pessoas querem e precisam de confiar cada vez mais na nossa visão pluralista e diversificada, na nossa missão e na nossa curadoria.
Esta é a primeira e mais genérica lição que aprendi desde que estou no conselho do fundo da Digital News Initiative, do Google [O fundo DNI financia projectos inovadores de jornalismo na Europa; o PÚBLICO recebeu financiamento do fundo.]
Há quatro anos, quando este sonho começou a concretizar-se, depois de seis longos anos de construção, a única coisa que eu tinha certeza era que inovação nas redacções e nas empresas jornalísticas em geral era percebida principalmente a partir de um ponto de vista tecnológico e a maioria desse trabalho, no tempo, foi desenvolvido pela WAN-IFRA (cujo congresso mundial comemorativo dos seus 70 anos estamos a receber em Portugal) e por alguns fornecedores tecnológicos.
Telecomunicações, fornecedores de redes e internet, agregadores e redes sociais pertenciam a um outro mundo, apenas este restrito e técnico mundo, que era, até então, apenas fornecedor para a nossa tarefa quando investigamos e difundimos ou distribuímos informação jornalística e noticiosa.
Mas o mundo estava a mudar e, um dia, contemplando os biombos Namban num museu em Lisboa (do século XVII do Japão, retratando o comércio português na Ásia), percebi que as diferenças no futuro dos meios de comunicação não estavam só na venda de conteúdos, publicidade ou ajudas do estado como as concebemos nesta indústria. Estava também na cultura das organizações e na liderança das pessoas.
A mudança deve ser centrada na inovação, no produto em si. Como Marshall McLuhan disse tão fortemente (e eu estava lá na Unesco, ouvindo essas palavras mágicas), os meios de comunicação são a mensagem, que tem de ser equilibrada entre o conteúdo e plataformas.
Mas tem que ser uma mensagem de liberdade de imprensa, de independência e autonomia, de diversidade e de pluralismo. Como Sean McBride escreveu no relatório “Um mundo muitas vozes” (e algumas poucas linhas lá eram minhas), tem de ser uma mensagem também sobre a vida que nos rodeia, seja para prazer ou tristeza, por cultura ou pelo ambiente.
A segunda lição que aprendi nestes anos no conselho do DNI é que é possível fazer inovação a partir das redações e das empresas jornalísticas, independentemente da situação económica, da dimensão ou do ambiente político de cada Estado membro da União Europeia. O maior projeto apoiado pelo Fundo nasceu em Portugal e reúne pela primeira vez na Europa empresas de media de diferente âmbito e dimensão.
A terceira lição é que também é muito importante informar sobre os projetos e seus impactos no chamado ecossistema comunicacional. Só assim, os impactos – que, sublinho, são muito semelhantes por toda a Europa – podem servir de exemplo e de incentivo para outros apoios e outros fundos, complementando assim outra das missões em que sempre acreditei que é a de acordar consciências e mobilizar boas vontades.
Sempre a pensar na liberdade de imprensa e de informação.
Por isso, não posso deixar de referir que, de entre os mais de três mil projetos analisados e das centenas de projetos apoiados, os que sempre me vêm à memória são os que tiveram e estão a ter impacto direto na possibilidade de aumentar a diversidade e o pluralismo da informação.
Não se estranhará que sejam projetos pensados e estruturados na Polónia ou na Hungria ou nas mais distantes fronteiras orientais da Europa. Mas são também projetos que visam facilitar a igualdade de género, quer no tratamento da informação, quer no acesso à actividade, traduzindo preocupações que todos partilhamos.
Recordo também projetos que visam melhorar o acesso a informação das comunidades europeias espalhadas pelo mundo, integrando esses europeus (portugueses, irlandeses, espanhóis, croatas ou gregos) na vasta circulação de informação noticiosa e jornalística sobre ou com origem na Europa.
Ao aproximarmo-nos do final do primeiro envelope de financiamento do fundo (falta neste momento conhecer os resultados da 5ª ronda e lançar a seguir a 6ª) posso afirmar que, na Europa (e mesmo nalgumas regiões do mundo que nos acompanham mais de perto o que por cá se passa pela facilidade das suas línguas veiculares), nada será como antes no reino da inovação nas empresas europeias de comunicação social.
Ao abordar um novo ciclo de financiamento – e sem esquecer que a monetização foi uma preocupação e um objetivo transversal das rondas já executadas – as empresas europeias de media, os seus colaboradores e em especial os jornalistas estão preparados para olhar para o mundo digital com novas armas e competências, reduzindo assim o impacto concorrencial negativo em que se sentiam fechados.
O trabalho a fazer é continuadamente o de afirmar que o DNI apenas vai à frente no tempo e, com informação transparente e continuada, abre novas oportunidades e sustenta a diversidade e o pluralismo na sociedade da informação, o que afinal justifica todo o esforço e interesse que os meus colegas de conselho, os responsáveis técnicos na análise dos projetos e os criadores do fundo têm feito para assegurar que o fundo é mais do que uma porção de dinheiro – é um verdadeiro projeto de luta e suporte por um vibrante e independente jornalismo no século XXI.
João Palmeiro é presidente da Associação Portuguesa de Imprensa e presidente do conselho do fundo Google DNI.