Mais perto ou mais longe da maioria absoluta?
O conflito social, nomeadamente com os professores, renderá mesmo votos, como Louçã sugere? O PS sempre teve tradicionalmente o apoio de grande parte dos professores e já perdeu uma maioria absoluta quando entrou em guerra com estes.
O próximo Orçamento do Estado tinha tudo, à partida, para ser um dos mais fáceis de aprovar. É o último da legislatura, há mais folga orçamental e falta fechar poucas medidas dos acordos assinados em novembro de 2015. Contudo, os últimos dias têm sido de crescente tensão. De uma indisfarçável tensão. Os parceiros não gostaram da forma como António Costa se apresentou ao Congresso do PS, recentrando o discurso, ignorando os partidos que o ajudaram a chegar a São Bento, no fundo, piscando o olho a uma maioria absoluta sem pronunciar a expressão.
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O próximo Orçamento do Estado tinha tudo, à partida, para ser um dos mais fáceis de aprovar. É o último da legislatura, há mais folga orçamental e falta fechar poucas medidas dos acordos assinados em novembro de 2015. Contudo, os últimos dias têm sido de crescente tensão. De uma indisfarçável tensão. Os parceiros não gostaram da forma como António Costa se apresentou ao Congresso do PS, recentrando o discurso, ignorando os partidos que o ajudaram a chegar a São Bento, no fundo, piscando o olho a uma maioria absoluta sem pronunciar a expressão.
Costa teve o PS a aprovar a eutanásia sem nunca dar a sua posição pessoal sobre o assunto, avançou para mudanças nas leis laborais que só podem ser viabilizadas pelo PSD de Rui Rio, remeteu a revisão do Serviço Nacional de Saúde para uma próxima legislatura, endureceu o tom nas negociações com os professores para o descongelamento de carreiras. E atrasou propositadamente a negociação do próximo Orçamento quando no ano passado por esta altura já havia rondas negociais.
Instalou-se a desconfiança, que acabou por ser verbalizada por Francisco Louçã, o ‘tutor’ do BE. “O governo quer um Verão e um Outono em conflito social porque acha que essa é uma estratégia que rende votos”, confia Louçã, acusando, nos seus espaços de opinião na SIC e no Expresso, o PS de “provocar” os partidos de esquerda e avisando-o que nos dossiês em que não conseguir chegar a entendimento com os parceiros nesta legislatura muito dificilmente conseguirá acordo numa próxima.
Já Jerónimo de Sousa não perdoou a Costa ter admitido pela primeira vez a queda do Governo caso não consiga aprovar um orçamento, naquilo que lhe soou como um ultimato. Não aprovamos orçamentos de “olhos fechados”, respondeu.
Chegamos, pois, ao Verão com os partidos da “geringonça” - que tiveram o grande mérito de mostrar união suficiente ao longo de quase uma legislatura - quase à guerra. O debate quinzenal desta semana mostrou isso à evidência.
Uma dúvida, porém. O conflito social, nomeadamente com os professores, renderá mesmo votos, como Louçã sugere? O PS tem tradicionalmente o apoio de grande parte dos professores. Quando estes estiveram em guerra com a ex-ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, por causa do modelo de avaliação, o PS perdeu, em 2009, a maioria absoluta. Agora, os professores socialistas já vieram alertar para “a necessidade do PS recompor as relações do Governo com os professores portugueses, depois de anos de ataque”. Até onde estará Costa disposto a negociar com os professores?