Super Bock: “A nossa ambição não se pode esgotar no mercado interno”
O Super Bock Group, antiga Unicer, teve em 2017 um desempenho recorde. Consolidada pelos resultados e redução da dívida, a ambição volta a ser internacional, explica Rui Lopes Ferreira, presidente executivo do grupo cervejeiro
O que é que muda quando uma empresa à beira dos 130 anos muda de nome e um dos seus accionistas históricos sai do capital? “Não muda nada” quanto à estratégia do Super Bock Group (SBG) a saída do BPI da Viacer, SGPS que reúne os accionistas portugueses com 56% do capital da antiga Unicer. Em entrevista, Rui Lopes Ferreira, presidente executivo do SBG, não se alonga sobre as mudanças accionistas que nos últimos meses fizeram com que o grupo Violas passasse dos anteriores 46,5% para os actuais (já aprovados pela Autoridade da Concorrência) 71,5% da Viacer SGPS.
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O que é que muda quando uma empresa à beira dos 130 anos muda de nome e um dos seus accionistas históricos sai do capital? “Não muda nada” quanto à estratégia do Super Bock Group (SBG) a saída do BPI da Viacer, SGPS que reúne os accionistas portugueses com 56% do capital da antiga Unicer. Em entrevista, Rui Lopes Ferreira, presidente executivo do SBG, não se alonga sobre as mudanças accionistas que nos últimos meses fizeram com que o grupo Violas passasse dos anteriores 46,5% para os actuais (já aprovados pela Autoridade da Concorrência) 71,5% da Viacer SGPS.
Em Fevereiro, a Violas SGPS acordou pagar 233 milhões de euros por 25% que o BPI (banco e fundo de pensões) tinha no capital da Viacer, mantendo-se, nesta, o terceiro accionista original, a Arsopi, com 28,5% do capital. E, directamente no capital do SBG, os restantes 44% da dona das marcas Super Bock e das Pedras Salgadas continuam na posse dos dinamarqueses da Carlsberg - “uma parceria que tem funcionado muito bem, que nos estimula a fazer sempre melhor”, retrata o CEO da cervejeira portuguesa.
Se esta divisão irá manter-se, responde, é assunto dos accionistas. Mas assegura: “na gestão temos os mesmos objectivos, a nossa estratégia está definida e muito alinhada” entre a administração – em que Manuel Violas permanece chairman – e actuais donos do SBG.
Sobre o valor da transacção – que avalia a antiga Unicer em 1,66 mil milhões de euros – o gestor que está há 12 anos na administração da cervejeira, depois de 20 anos no BPI, generaliza: “o valor que uma coisa tem, numa determinada altura, para o mercado, é o valor que alguém está disposto a pagar nessa altura” por esse activo – ou seja, 233 milhões por 25% da Viacer SGPS, que é dona de 56% do grupo Super Bock.
Se Lopes Ferreira não vê porque algo tem que mudar na gestão da empresa que lidera após a saída do BPI – agora detido pelos catalães do Caixabank, que se preparam para tirar o banco da praça lisboeta – o mesmo não se aplica à alteração do nome. Aqui, a mudança reflecte uma opção estratégia, de novo mais virada para o exterior, permitida agora pela solidez dos resultados nos últimos anos.
A mudança, no final do ano passado, da identidade corporativa da companhia - de Unicer para Super Bock Group, adoptando para o grupo com quase 130 anos o nome da marca que completou nove décadas em 2017 - “foi cristalizar uma realidade e afirmar a nossa identidade cervejeira” . “A Unicer [como identidade] não era conhecida lá fora” pelo seu nome, “mas sim pela marca Super Bock”. Mudar para SBG “não é um apagão na história” do grupo, “é um reforço das nossas credenciais cervejeiras”, reforça.
Rui Lopes Ferreira, CEO da empresa desde 2015, é claro: “a nossa ambição é grande e não se pode esgotar no mercado interno”, “até porque os mercados externos serão o motor de crescimento da empresa” no futuro. “No mercado interno”, nos principiais segmentos onde lidera – cervejas, com quota de 50% e águas com gás, com 60% - o crescimento terá de ser “mais lento e consistente”, porque “tem que ser orgânico”.
Mas, apressa-se a salientar, na cervejeira “o ADN manteve-se”. Ao mudar o nome do grupo com sede em Leça do Balio, “não rejeitámos nada do passado da empresa”. “Quer como Unicer, que teve períodos brilhantes, com uma equipa fantástica”, quer como “CUF Portuense [Companhia União Fabril Portuense das Fábricas de Cerveja e Bebidas Refrigerantes], que faz parte da nossa história”.
Com origem em 1890, a antiga CUFP foi transformada em Unicer - União Cervejeira EP nos anos 70 do século passado, década em que foi nacionalizada (a partir de 1975). Só em 1989 viu reprivatizado 49% do seu capital – a primeira EP a sair da esfera pública na altura - processo concluído a 100% um ano depois.
Antecipar em dois anos a década
"Temos hoje uma estrutura de capitais muito sólida", quer em termos de "resultados económicos, como em tesouraria", resume Lopes Ferreira. E, para cumprir a sua ambição internacional, o presidente executivo do SBG, que em Abril viu o seu segundo mandato confirmado à frente da companhia, reafirma que “caso surja oportunidade” o grupo tem hoje “poder de fogo” para “disparar" em qualquer situação "que possa surgir”.
E há algum dossiê que esteja a analisar agora? “Não, não temos neste momento nada debaixo do radar. Mas está a ser muita coisa monitorizada, a fim de perceber o que faça sentido”, responde. E onde? “Na Ásia, porque estamos na China” – país para onde a companhia vende desde 2009 e que desde aí se tornou o seu principal mercado externo, valendo 40% das exportações de cerveja; “em África, onde temos uma posição histórica - “em Angola não desistimos [do mercado, que chegou a ser, destacado, o principal destino de vendas externas do grupo]”; e “na Europa, onde estamos com a comunidade portuguesa em força”. Neste continente, “o desafio, muito interessante, é ultrapassar o perímetro da comunidade portuguesa” em vendas, adianta.
Hoje, o grupo tem a “serenidade e tranquilidade” económico-financeira obtida por um ano de 2017 “bastante positivo”. “Antecipámos em dois anos os objectivos financeiros a que nos propúnhamos (em 2015) para o final da década. Foram os melhores [resultados] de sempre”, garante, num ano em que as vendas atingiram os 520 milhões de euros (20% das quais no exterior). A última vez que as vendas tinham ultrapassados os 500 milhões fora em 2008, e ficaram abaixo de 2017.
Para ilustrar o que qualifica “um ano quase perfeito”, Lopes Ferreira adianta ainda que os resultados líquidos de 2017 superaram os 50 milhões e o EBITDA foi superior a 100 milhões, o que compara com 38,3 milhões e 85,3 milhões de euros em 2016, respectivamente, segundo o relatório e contas da Unicer. O grupo, que entregou 115 milhões de euros ao Estado, entre impostos e prestações sociais, reduziu a dívida em 40 milhões, para 60 milhões de euros. A empresa encerrou 2017 com um número médio de 1278 colaboradores.
Um fundo próprio para a inovação
No Super Bock Group, “temos trabalhado bem a inovação na empresa, mas agora é preciso abrir para outras entidades, ter acesso a inovação fora da nossa empresa”, explica Rui Lopes Ferreira. O que o SBG vai fazer é criar um fundo de inovação, com um capital inicial – suportado pelo grupo – de “meio milhão de euros” e “envolver neste fundo entidades científicas, universidades, aceleradores de empresas” e outros, no sentido de “desenvolver projectos inovadores” e com potencial para a actividade. A forma jurídica que irá ter este mecanismo de financiamento “ainda não está definida”, mas Lopes Ferreira tem como certo que as entidades externas ao grupo serão chamadas “para gerir o fundo” e não para trazer mais capital. E “queremos que esteja operacional no segundo semestre de 2018”, garante o presidente executivo do grupo cervejeiro.