Miss America vai eliminar segmento de biquíni

A organização do concurso anunciou esta semana que vai deixar de julgar as concorrentes com base na sua aparência externa.

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Reuters/MARK MAKELA

Já não interessa o tamanho das ancas nem a simetria da cara. "Vamos deixar de julgar as nossas candidatas com base na sua aparência física externa", anunciou Gretchen Carlson, presidente da direcção da Miss America, no programa Good Morning America desta terça-feira. A partir da edição deste ano, que acontece em Setembro, em Atlanta, o concurso vai eliminar a fase dos biquínis, na qual as concorrentes costumam desfilar em roupa de praia.

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Já não interessa o tamanho das ancas nem a simetria da cara. "Vamos deixar de julgar as nossas candidatas com base na sua aparência física externa", anunciou Gretchen Carlson, presidente da direcção da Miss America, no programa Good Morning America desta terça-feira. A partir da edição deste ano, que acontece em Setembro, em Atlanta, o concurso vai eliminar a fase dos biquínis, na qual as concorrentes costumam desfilar em roupa de praia.

A Miss America define-se, a partir de agora, não como um pageant (concurso de beleza), mas antes como uma competição, e quer centrar-se, cada vez mais no propósito de distribuir bolsas de estudo para as jovens concorrentes – algo que já acontecia anteriormente. Será também, acrescenta Carlson, "mais inclusivo para mulheres que talvez não se tenham sentido confortáveis em participar no nosso programa antes". Ou seja, para todas as "formas e tamanhos".

Qual será, então, o critério de selecção? Aquilo que vai interessar ao júri, daqui para a frente, é "o que sai das bocas" das concorrentes e, muito concretamente, quais as suas "iniciativas de impacto social". "Estamos interessados naquilo que vos faz ser únicas", resume Carlson.

Em vez do segmento dos biquínis, cada concorrente participará numa sessão com os jurados "onde irá destacar os seus feitos principais e objectivos de vida e [explicar] como irá usar os seus talentos, paixão e ambição para cumprir o trabalho de Miss America", explica um comunicado da organização, citado pela CNN. Também o segmento de vestido de noite será diferente e as concorrentes poderão usar aquilo que entenderem.

A surpreendente decisão da Miss America foi tomada por uma direcção que é actualmente composta maioritariamente por mulheres – e tem como CEO, desde o mês passado, Regina Hopper. "Isto é um novo começo e a mudança às vezes pode ser difícil. Estamos a evoluir nesta revolução cultural", explica Carlson, em referência ao movimento #MeToo. A actual presidente da direcção –  coroada Miss America em 1989 – foi uma das mulheres a apresentar queixa de assédio sexual contra o antigo presidente e fundador da Fox News, Roger Ailes, levando à sua eventual demissão, poucos meses antes de este morrer.

Tall como Hopper, também Gretchen Carlson entrou recentemente (em Dezembro de 2017) na organização da Miss America, depois da demissão de uma série de líderes da organização, no seguimento de emails tornados públicos em que estes – inclusive o CEO Sam Haskell – insultavam antigas concorrentes.

De concurso de beleza a programa de bolsas

Dos dois principais beauty pagents dos Estados Unidos, o Miss America é o mais antigo, criado em 1921. Nasceu precisamente como um concurso de mulheres em fatos de banho, coroando Margaret Gorman como primeira Miss America. Foi da rebeldia de uma das vencedoras – Yolande Betbeze Fox, em 1951 – que viria a nascer o concurso Miss USA. Quando esta se recusou a aparecer em fato de banho para fotografias promocionais, enraiveceu um dos patrocinadores da Miss America, que prometeu acabar com a fama da vencedora e começar o seu próprio concurso, de acordo com o Washington Post. Betbeze Fox morreu em 2016, com 87 anos.

Entretanto, o concurso Miss USA, que faz parte da organização Miss Universe, foi detido, durante quase duas décadas pelo actual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, entre 1996 e 2015. Este viu-se forçado a vender a organização no ano em que se candidatou à presidência, depois dos seus comentários polémicos sobre emigrantes terem afastado as emissoras NBC e Univision, de acordo com a Rolling Stone. Entretanto, os comentários de Trump sobre como tinha por hábito entrar nos bastidores enquanto as concorrentes se vestiam, feitos em 2005 no programa de rádio de Howard Stern, vieram novamente a público, no seguimento do escândalo da gravação da Access Hollywood.

A actual Miss America, Cara Mund – licenciada em gestão pela Universidade de Brown –, recebeu com a vitória em 2017 uma bolsa de estudo de 50 mil dólares, sendo que já foi aceite para um mestrado em direito na Universidade Notre Dame, mas decidiu adiar um ano. É neste aspecto de organização de bolsas de estudo para jovens que a Miss America se quer ancorar agora mais do que nunca. "Quero inspirar milhares de jovens neste país a vir fazer parte do nosso programa. Queremos-vos e queremos celebrar as vossas conquistas e talentos. E depois queremos dar-vos bolsas", anuncia Gretchen Carlson em entrevista ao canal de televisão norte-americano.

Há anos que a organização abana a bandeira "maior fornecedora de bolsas de estudo para mulheres" – algo que em 2014 levou o comediante John Oliver a expor o número inflacionado (45 milhões de dólares) que a organização dizia tornar disponível anualmente para as suas participantes.