Francisco Frazão será o director do Teatro do Bairro Alto

O ex-programador de teatro da Culturgest foi o candidato escolhido pela EGEAC para dirigir a sala que foi até 2017 sede do Teatro da Cornucópia.

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TIAGO MACHADO

O ex-programador da Culturgest Francisco Frazão, que assegurou a programação daquela instituição na área do teatro entre 2004 e 2017, durante o consulado de Miguel Lobo Antunes, é o candidato escolhido pela EGEAC para dirigir o Teatro do Bairro Alto, de que a Câmara Municipal de Lisboa tomou posse após a extinção do Teatro da Cornucópia, a companhia que ali esteve sediada ao longo de várias décadas. Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Frazão é também tradutor e integrou antes da sua chegada à Culturgest a comissão de leitura dos Artistas Unidos.

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O ex-programador da Culturgest Francisco Frazão, que assegurou a programação daquela instituição na área do teatro entre 2004 e 2017, durante o consulado de Miguel Lobo Antunes, é o candidato escolhido pela EGEAC para dirigir o Teatro do Bairro Alto, de que a Câmara Municipal de Lisboa tomou posse após a extinção do Teatro da Cornucópia, a companhia que ali esteve sediada ao longo de várias décadas. Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Frazão é também tradutor e integrou antes da sua chegada à Culturgest a comissão de leitura dos Artistas Unidos.

Esse passado, admite ao PÚBLICO, não deixará de contaminar o seu mandato de quatro anos à frente do Teatro do Bairro Alto, que reabrirá em data ainda por anunciar, após obras de adaptação que segundo a EGEAC se iniciarão “em breve”: “Não me posso separar do que fiz na Culturgest, e antes da Culturgest nos Artistas Unidos. Espero poder trazer essa constelação de contactos, de textos lidos, de espectáculos vistos, de autores e de artistas descobertos para o meu novo trabalho, que vejo como uma continuação e uma ruptura ao mesmo tempo.”

O júri composto por Joana Gomes Cardoso (presidente do conselho de administração da EGEAC), Sofia Campos (administradora do Teatro Nacional D. Maria II), Maria João Guardão (jornalista) e Pedro Costa (ISCTE/Dinamia) – devido a um conflito de interesses, o coreógrafo Rui Horta escusou-se depois da primeira análise das candidaturas, informou a EGEAC numa nota enviada às redacções – “apreciou [na candidatura de Francisco Frazão] uma posição curatorial permanentemente aberta, garantindo autonomia aos objectos e processos artísticos programados, bem como a apresentação de uma programação a dois tempos, que responde tanto à necessidade premente de visibilidade e sustentação dos criadores emergentes e experimentais quanto à de contrariar a velocidade actual de programação na cidade”.

Ressalvando que as propostas com que se candidatou ao cargo, e que o júri acabou por preferir às dos restantes 27 candidatos (entre os primeiros quatro classificados ficaram também o encenador e director da BoCA – Biennial of Contemporary Arts John Romão, o dramaturgo e encenador Mickael Oliveira e o encenador João Garcia Miguel), “ainda terão de passar por vários filtros antes de se tornarem realidade”, Francisco Frazão adianta que estruturou a sua programação em torno de “uma série de aberturas e fechamentos”. É também uma maneira de reivindicar o espírito do lugar, já que a metáfora lhe foi inspirada por “um espectáculo marcante da Cornucópia”, Sete Portas, de Botho Strauss, na encenação que Luis Miguel Cintra ali estreou em 1993. De resto, sublinha, não há como iludir que “a abertura do novo Teatro do Bairro Alto está ligada ao fecho de dois teatros”, na sequência da reorganização que levou a Câmara de Lisboa a optar pela concessão do Teatro Maria Matos a um operador privado, deslocando a sua programação de carácter mais experimental nas áreas do teatro, da dança e da música para a sala que a Cornucópia deixou vaga a 17 de Dezembro de 2016 e concentrando a actividade que vinha destinando ao público infanto-juvenil no recém-reaberto Teatro Luís de Camões (LU.CA).

Nessa reorganização, Frazão detectou a vontade de “abrir um caminho de especialização” que interpretou como um convite a “fechar – ou seja, focar” – o Teatro do Bairro Alto nas áreas “do experimental, do emergente e do internacional” em que se sente à vontade e que quer continuar a explorar. E o espaço “muito versátil mas nada neutro” que agora irá programar – “uma espécie de máquina de fazer de teatro que será muito interessante oferecer aos artistas da cidade e de fora, mas que certamente tem marcas de uso e memórias muito site-specific do trabalho da Cornucópia” – pode ser o lugar ideal para “novas experiências espaciais”, atendendo às múltiplas possibilidades que oferece de “metamorfosear a relação entre o palco e a plateia”.

Estes fechamentos, diz, serão “contrabalançados por uma série de aberturas”, a começar pela do próprio lugar de programação: Frazão terá assessores para as áreas da dança, da música e do pensamento, “válvulas de escape” que lhe permitirão “fugir à ideia de assinatura, ou do programador enquanto autor”, e recusará circunscrever a programação em ciclos temáticos, acreditando que “as obras [a apresentar] serão o contexto umas das outras” e que “o espectador negociará assim mais livremente as relações entre elas”.

O novo director tem ainda propostas para que “o próprio funcionamento do teatro seja menos opaco e mais discutido por quem vem de fora”, e diz-se determinado a “dar a conhecer outras vozes, vindas de outros lugares, com outros discursos” – e a fazer com que isso seja a própria matéria-prima da experimentação, em vez de “uma agenda paralela à programação”.

Entre o “fim traumático da Cornucópia” (“Este teatro não pode querer substituir-se-lhe, mas pode aprender com esse exemplo a vários níveis”) e o desmantelamento forçado, e muito contestado, do Teatro Maria Matos, de que herdará em parte a equipa (“um património importantíssimo”) o Teatro do Bairro Alto terá de ser um lugar novo. Ainda que algures no seu ADN estejam as experiências fundadoras de Luis Miguel Cintra, a atenção ao pensamento e a capacidade de trabalhar em redes europeias de Mark Deputter e o entusiasmo com que a equipa de que o último director do Maria Matos se rodeou “acompanha a programação cultural da cidade” e que Francisco Frazão se habituou a encontrar nas suas andanças. A “ruptura pela ruptura”, diz, “não faz muito sentido”: “Sempre fiz questão de ir mantendo conversas com artistas que já tinham passado por Lisboa, mas também de ir descobrindo discursos novos. Não tenho nenhuma preocupação especial em reinventar-me, mas também tenho a certeza de que este não vai ser um trabalho de continuidade.”