Magistrados do MP defendem perfil da procuradora-geral, PCP recusa alimentar “ruído”
O mandato de Joana Marques Vidal terminará em Outubro, seis anos depois do seu início.
O Sindicato dos Magistrados do Ministério Público (SMMP) defendeu esta segunda-feira um perfil idêntico ao da actual procuradora-geral da República para o cargo, sublinhando que o mandato deve ser único, apesar do “bom trabalho”.
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O Sindicato dos Magistrados do Ministério Público (SMMP) defendeu esta segunda-feira um perfil idêntico ao da actual procuradora-geral da República para o cargo, sublinhando que o mandato deve ser único, apesar do “bom trabalho”.
“A nossa posição de princípio é a de que um procurador-geral deve cumprir um único mandato. Não é uma questão pessoal. Por uma questão de não procurar a recondução, de não estar submetido a determinados efeitos de vinculação a quem o nomeou”, disse o presidente do SMMP, António Ventinhas, após reunião com dirigentes do PCP, em Lisboa, sobre a área da justiça.
A actual procuradora-geral da República, Joana Marques Vidal, termina este ano o seu mandato de seis anos à frente da instituição e têm existido declarações públicas de diversos protagonistas políticos, nomeadamente do Governo e do PS e também da oposição, a favor e contra a possibilidade de a mesma ser reconduzida no posto, algo não explícito na Constituição da República.
“Relativamente à questão da doutora Joana Marques Vidal em si, entendemos que o próximo procurador-geral deverá ter um perfil muito parecido, designadamente no que diz respeito a impulsionar este combate à criminalidade económico-financeira e de dar autonomia aos magistrados para poderem investigar. Seria alguém que pudesse continuar o caminho que ela tem feito até agora e está no bom caminho”, continuou António Ventinhas.
O responsável do SMMP adiantou uma “análise muito positiva” sobre a procuradora-geral e a “nova perspectiva no combate à corrupção”, segundo a qual “os cidadãos percepcionam que não há ninguém acima da lei”. Para Ventinhas, é essencial que não haja “submissão do poder político ao poder económico” ou “forças ocultas” na “condução dos destinos do país”, que “deve pertencer aos cidadãos”, até para o “aperfeiçoamento do sistema democrático”.
O secretário-geral comunista, Jerónimo de Sousa, afirmou que o PCP também tem “uma visão positiva” do exercício de funções da actual procuradora-geral, “tendo em conta a evolução de alguns grandes processos que hoje estão colocados”, mas recusou alimentar o “ruído”.
“Não podemos fulanizar esta questão, porque hoje é esta procuradora-geral, amanhã poderá ser outra. Transformar a procuradora-geral numa arma de arremesso político – estamos em profunda discordância. Não daremos nenhuma contribuição para que esse ruído aumente e essa arma de arremesso se transforme, de facto, num aspecto negativo para a justiça portuguesa”, declarou o líder do PCP.
Segundo Jerónimo de Sousa, “é preciso que o Ministério Público tenha meios para investigar e que os juízes tenham meios e condições para julgar”, tendo defendido, sobre o sistema judiciário, o “acesso dos cidadãos à justiça em condições de igualdade”, a necessidade de “combate à corrupção” para “impedir que o poder económico se sobreponha ao poder político” e uma “grande afirmação de autonomia do Ministério Público”.
O presidente do SMMP já tinha partilhado as suas “grandes preocupações” com a “falta de investimento na área da investigação criminal” e o atraso no processo de elaboração de um novo estatuto dos magistrados, assim como na redefinição das carreiras, assuntos com que o líder do PCP concordara.