Que tipo de adultos são os “millennials”?
Estudo retratou a geração através de um inquérito a jovens adultos de cinco países da OCDE. Portugueses fumam e bebem menos e não são grandes adeptos dos transportes públicos
Confiam no seu sucesso profissional, acham que são bons cidadãos e acreditam num país com menos desigualdade. São a favor do aborto e da eutanásia. Compram online, mas poupam muito. Não querem comprar casa, mas querem sair da beira dos pais. E a grande maioria quer ter filhos — em média dois. Em traços gerais, é este o retrato dos millennials portugueses feito pelas consultoras Multidados e CH Business Consulting, no primeiro trimestre de 2017.
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Confiam no seu sucesso profissional, acham que são bons cidadãos e acreditam num país com menos desigualdade. São a favor do aborto e da eutanásia. Compram online, mas poupam muito. Não querem comprar casa, mas querem sair da beira dos pais. E a grande maioria quer ter filhos — em média dois. Em traços gerais, é este o retrato dos millennials portugueses feito pelas consultoras Multidados e CH Business Consulting, no primeiro trimestre de 2017.
Mas nem só de portugueses se faz o estudo All about Geração Millennium, que resulta de um inquérito feito a 5000 millennials entre os 18 e os 34 anos de Portugal, Espanha, França, Inglaterra e EUA. Entenda-se por millennials (ou membros da Geração Y) aqueles que nasceram entre os anos 1980 e 2000 — uma parcela que, em 2016, representava 25% da população mundial e que, em 2025, representará 75% da força de trabalho mundial, prevê-se na pesquisa.
Muito positivos e flexíveis
Um dos dados a reter do estudo é que a Geração Y é muito optimista — quatro em cada cinco jovens (ou mais) acredita que “tem cumprido a sua missão como cidadão” e que, “em termos sociais, é possível haver menos desigualdade”. Para além disso, a grande maioria destes jovens está confiante de que vai alcançar um sucesso profissional maior que o dos seus pais (80%) e espera aumentar o seu salário significativamente nos próximos cinco anos (83%).
Os franceses são os que estão mais felizes com a sua profissão (cerca de 87%). Os ibéricos são mais contidos — pouco mais de 60% diz gostar do trabalho que tem actualmente. E porque trabalhar num escritório das 9h às 17h já é uma coisa do passado, três em cada cinco dos jovens inquiridos prefere um horário flexível a um horário fixo e, à excepção dos portugueses, mostram-se todos receptivos a trabalhar fora das instalações da empresa (em média 77%). Os lusitanos são um pouco “mais conservadores”, aponta o estudo, sendo que apenas 67% gostaria de trabalhar remotamente.
Quanto ao trabalho no estrangeiro, não há grandes surpresas. Cerca de 60% dos millennials europeus considera essa hipótese, uma posição bem diferente da dos americanos (41%) — o que não é uma novidade, tendo em conta a dimensão dos EUA.
Direitos LGBT, eutanásia e aborto: “Sim, por favor!”
De todos os temas, a eutanásia é o que mais reúne os consensos entre os diferentes países — a esmagadora maioria é a favor. Em Portugal, o número ronda os 88%. Por sua vez, o valor de França é quase absoluto — 99%. Na mesma linha, a interrupção voluntária da gravidez é amplamente aceite pela geração, independentemente da nacionalidade, sendo que 85% aprova a prática. Esta é também uma geração em que os preconceitos começam a ser mitigados, principalmente ao nível da sexualidade. Em média, 85% dos millennials acredita que os homossexuais devem ter um “tratamento de igualdade em todos os direitos da família”.
Quanto à legalização das drogas leves (como a cannabis), Portugal e Espanha são mais conservadores — mais de metade dos jovens não concorda com a legalização. Por outro lado, cerca de 63% dos anglo-saxónicos aprovam esta prática.
Poupam, adoram promoções e compram online
No que toca ao dinheiro, os primeiros nativos digitais da história não são uns mãos-largas: mais de 90% dos millennials europeus diz que costuma poupar. Para além disso, os habitantes do velho continente não têm o hábito de comprar por impulso. Principalmente os portugueses: 87% diz ser ponderado na compra. Já os americanos são mais gastadores e impulsivos.
Apesar disso, todos os inquiridos acabam por preferir a qualidade ao preço, razão pela qual a esmagadora maioria (cerca de 86%) está sempre atenta às promoções. E, como seria de esperar, esta é uma geração já bem familiarizada com a compra online.
Ao contrário do expectável, costumam esquecer as preocupações ecológicas quando vão às compras. À excepção de França, onde 84% dos jovens preocupa-se em saber se os produtos são amigos do ambiente, a maioria dos millennials não tem isso em conta. E embora a maioria declare vender artigos usados online (60%), apenas cerca de metade revela já ter usado esses sites para comprar. Ou seja, a venda é simplesmente um modo de fazer “algum dinheiro extra para comprar coisas novas”, conclui o estudo.
Preferem carro a casa, mas querem constituir família
Ter carro próprio continua a ser muito importante para cerca de 90% dos ibéricos e dos franceses. Destaca-se, ainda, que os portugueses são os que menos usam transportes públicos. Só 41% recorre a este meio de transporte, um valor incomparável com o de França, que está na ordem dos 85%.
E se ter carro próprio é essencial para a maioria, quando se fala de casa própria a conversa já não é a mesma. Para a maioria dos portugueses, a compra da casa pode esperar — apenas 41% planeia comprar casa nos próximos cinco anos. Ainda assim, não querem ficar em casa dos pais: 73% dos jovens portugueses afirma que não é provável que, nos próximos cinco anos, ainda viva com os familiares.
Diga-se que a maioria dos inquiridos se considera financeiramente independente, com destaque para os EUA (69%). Portugal e Espanha, como seria de esperar tendo em conta os números do desemprego jovem, apresentam um valor mais baixo — 60% e 58%, respectivamente.
Quanto ao casamento, a percepção é unânime: em média, 40% dos millennials não querer casar, um valor que é um pouco mais baixo nos EUA e em Espanha. Mas nem por isso a vontade de constituir família é menor. “Contrariando alguma ideia feita sobre o suposto egoísmo dos millennials, traduzido na eventual rejeição a ter filhos, as respostas registam uma vontade de paternidade/maternidade sempre acima dos 85% e são bastante homogéneas”, lê-se no documento. Aliás, a maioria quer mais do que um filho e, em Portugal, a média é de dois filhos. Outro dos dados que comprova a importância que a geração dá à família é o facto de, na Europa, cerca de 80% dos inquiridos afirmar priorizar os motivos familiares relativamente ao trabalho.
Bons hábitos na Península Ibérica
As questões sobre os hábitos de fumar e ingerir bebidas alcoólicas foram as que obtiveram respostas menos homogéneas, mas a Península Ibérica portou-se razoavelmente bem, comparativamente. Enquanto que em Portugal e Espanha 21% a 24% dos millennials fuma, em França e Inglaterra o valor é quase o triplo. No consumo de álcool, a história não se altera muito: o nível de pessoas que ingere este tipo de bebidas pelo menos uma vez por semana dispara em França (62%) e em Inglaterra (59%), enquanto a Península Ibérica apresenta valores na ordem dos 35%.
Na alimentação, prevê-se ainda uma tendência para a diminuição do consumo de carne por parte dos millennials europeus. Isto porque a maioria das opiniões expressas declara, num grau próximo ou superior a 60%, que nos últimos três anos reduziu o consumo deste tipo de alimento.
Quanto tempo passam nas redes sociais?
Em relação ao mundo digital, o estudo revela que a maioria dos jovens europeus gasta por dia entre uma e três horas a navegar nas redes sociais, com valores que variam entre os 44% (Espanha) e os 62% (França). Já a grande maioria dos americanos gasta mais de três horas, realçando-se que 27% deles passa lá mais de cinco horas. Em Portugal, apenas um em cada sete millennials dedica esse mesmo tempo às redes.
Tal como seria de esperar, o gosto pela partilha da vida pessoal é unânime. Mais de metade dos millennials costumam divulgar acontecimentos e fotos nas suas redes e uma percentagem semelhante usa as redes sociais como ferramenta profissional. E o vício não acaba quando se sai do computador — apesar de terem em média 15 apps instaladas, dão mais atenção às das redes sociais. Um dado interessante é que, em Portugal, o número de pessoas que declara a utilização frequente do Instagram é quase idêntico ao do Facebook, algo que não ocorre em mais nenhum país da amostra.
A pesquisa, publicada em 2017, foi baseada num inquérito online, que teve seguimento telefónico com validação de respostas, e apresenta uma margem de erro de 5%.