Pequenos-almoços sobre rodas

Breadfast e Meals on Wheels são serviços de entrega da primeira refeição do dia e dois exemplos de ideias de negócio que fazem parte da paisagem food tech portuguesa.

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Os relatórios das consultoras estão para os empreendedores como o GPS está para a estrada. Mas, tal como o condutor que chega ao destino sem radar, também há empresas que nascem sem precisarem dos gurus dos negócios. Às vezes, basta estar atento às nossas próprias necessidades. E no caso de Pedro Fontes, 30 anos, a enzima que catalisou o nascimento da Meals on Wheels foi a fome — num momento inesquecível da vida dele.

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Os relatórios das consultoras estão para os empreendedores como o GPS está para a estrada. Mas, tal como o condutor que chega ao destino sem radar, também há empresas que nascem sem precisarem dos gurus dos negócios. Às vezes, basta estar atento às nossas próprias necessidades. E no caso de Pedro Fontes, 30 anos, a enzima que catalisou o nascimento da Meals on Wheels foi a fome — num momento inesquecível da vida dele.

“É uma história com o seu quê de romântico”, sintetiza Pedro, cuja família detém uma das padarias tradicionais de Vila Nova de Gaia, a Mirassol. “A minha lua-de-mel foi em Itália e foi uma coisa tipo road trip, não levávamos nada marcado, apenas tínhamos escolhido as cidades e à chegada alugávamos um apartamento. Certo dia, levantei-me para tratar do pequeno-almoço. E tive de caminhar dois quilómetros para comprar dois pães e aquilo deixou-me um bocado frustrado.” Resolvido este problema, pensou: “Espera lá, se isto me acontece em Verona, em Milão ou em Veneza,… deve acontecer o mesmo a outro no Porto.” E foi determinado a encontrar uma solução que este licenciado em Ciências do Meio Aquático regressou a Portugal, numa altura em que também estava a fazer um MBA. Em 2016, nasceu a Meals on Wheels, marca do serviço que criou, integrado na padaria da família, e que entrega pequenos-almoços em casa na região do Porto e concelhos vizinhos.

A história de Mário Tarouca, 25 anos acabados de fazer, tem algumas semelhanças com a de Pedro Fontes. Criou uma empresa a partir de uma ideia de negócio que surgiu para satisfazer uma necessidade dele. “Tenho alojamentos locais em Lisboa. No Verão de 2017, comecei as primeiras experiências de oferta de pequeno-almoço num dos nossos apartamentos. Os turistas adoraram. Procurei uma empresa que prestasse este serviço e como não encontrei, decidi criar a minha própria solução. E foi assim que surgiu a Breadfast.”

A Meals on Wheels (que cobre algumas zonas da região do Porto) e a Breadfast (que entrega pequenos-almoços entre Algés e o Parque das Nações e a Baixa até à Segunda Circular), são dois exemplos portugueses de empresas que entregam comida. Há outras: Miss Morning (Porto e Lisboa), A Tigela Nova (Lisboa e linha de Cascais), Doce Manhã (Grande Lisboa, incluindo Margem Sul), DaJoana (Porto) ou The Crum Box (Porto).

Na Internet abundam os relatórios que apontam a entrega de comida como uma das áreas que lideram a transformação das indústrias da alimentação e hotelaria. Colocadas no pote da Food Tech, muitas destas empresas nascem “à antiga” — para suprir uma necessidade — mas crescem e, nalguns casos, florescem à custa de dois elementos-chave do mundo actual: a digitalização e a personalização.

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Fonte: Mixing Bowl

Não é tanto o caso dos exemplos nacionais aqui citados. Ainda que todas apostem na personalização (exemplo: menus apropriados para quem tenha restrições alimentares), a componente da digitalização ainda é incipiente ou então nem existe. A Meals on Wheels tinha uma loja online no Facebook, mas acabou com ela. A Breadfast, que nasceu em Janeiro deste ano, não pensou numa app, porque desenhou o site em modo responsive, o que facilita a interacção online.

Por outro lado, o número de clientes particulares nestas empresas é baixo. A principal fonte de receita da MoW e da Breadfast é o alojamento local, explicam Pedro e Mário (que se formou em Gestão). Entregam em média 150 e 350 pequenos-almoços por mês, a maioria em casas de aluguer de curta duração. Apostam em produtos típicos portugueses, com dois e seis menus, respectivamente.

No mercado português, os preços variam tipicamente entre os oito e os 15 euros por refeição, o que não é competitivo para um particular recorrer a eles numa base diária. Mas, como lembra Pedro Fontes, pode ser uma solução interessante para a nova hotelaria, para empresas ou para um particular surpreender alguém com um pequeno-almoço no trabalho ou à porta de casa.