"Sextas-feiras negras" no SNS a crescer, três meses depois do início do movimento
Às sextas-feiras, os profissionais vestem-se de negro e colocam crachás com a inscrição "SNS in Black", uma forma de manifestar o seu descontentamento "sem prejudicar os utentes".
O movimento que cumpre há três meses as "sextas-feiras negras" no Serviço Nacional de Saúde (SNS) alastrou-se a mais de 30 unidades, com os fundadores a denunciarem ameaças a profissionais que aderem à iniciativa.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
O movimento que cumpre há três meses as "sextas-feiras negras" no Serviço Nacional de Saúde (SNS) alastrou-se a mais de 30 unidades, com os fundadores a denunciarem ameaças a profissionais que aderem à iniciativa.
Filipe Froes, um dos médicos fundadores, explica que o movimento "espontâneo de cidadania" rejeita "ser cúmplice da destruição do SNS", tendo nascido de um grupo de médicos e alastrando rapidamente a todo o tipo de profissionais de saúde.
O movimento partiu da necessidade de mostrar "o lado B do SNS", que "não passa no discurso oficial" e que muitas vezes fica sem visibilidade pública.
Às sextas-feiras, os profissionais vestem-se de negro e colocam crachás com a inscrição "SNS in Black", uma forma de manifestar o seu descontentamento "sem prejudicar os utentes".
"É visível, transmitimos uma mensagem e não prejudicamos ninguém", refere a médica Ana Paiva Nunes, outra das três fundadoras da iniciativa, que conta que já participam no movimento profissionais de mais de 30 unidades do SNS, de quase todo o país, incluindo as regiões autónomas.
O movimento, que tem também uma expressão nas redes sociais, começou em meados de Fevereiro com o objectivo ser mensal. "Foi a crescente adesão dos profissionais, que espelha o seu descontentamento, que fez com que passasse a ter periodicidade semanal", explica a médica Ana Paiva Nunes.
Filipe Froes refere que "o movimento ganhou vida própria", com cada vez mais profissionais a usarem as t-shirts e os crachás do "SNS in Black" e até com utentes a pedirem também os símbolos do movimento.
Ana Paiva Nunes, Filipe Froes e António Diniz, o outro fundador da iniciativa, indicaram à agência Lusa que sentem "solidariedade da parte dos utentes" e também, de alguma forma, a vontade de se associarem.
Para beneficiar os utentes
"Os utentes vêem eles próprios as dificuldades às quais nos referimos. Vêem cadeiras e camas partidas, impressoras que não funcionam, cabos de monitores colados com fita-cola, etc", refere Ana Paiva Nunes, lamentando as condições em que os profissionais trabalham e em que os utentes são atendidos.
Aliás, os três fundadores do movimento consideram que esta iniciativa não serve para beneficiar um grupo profissional específico, mas para beneficiar precisamente os utentes e todo o SNS.
O pneumologista Filipe Froes frisa que "um SNS mais forte tem de ser mais do que a soma das partes de cada grupo profissional", lembrando que "todos devem ter e merecer a mesma dignidade".
Por isso, os três fundadores ponderam promover uma concentração que envolva as várias classes profissionais e trabalhadores do SNS, para exibir problemas "que são comuns a todos" e reivindicar mudanças.
Intimidação
Apesar da "crescente adesão" às "sextas-feiras negras" no SNS, os médicos fundadores do movimento referem que "há várias histórias de intimidação ou de tentativas de intimidação" dentro de instituições do SNS.
Segundo os médicos, há profissionais a quem foi aconselhado a não usarem a t-shirt preta do movimento nem o crachá com a inscrição "SNS in Black" e casos de chefias que questionaram directamente os trabalhadores.
"Temos relatos de intimidação e de ameaça", sintetiza Filipe Froes, indicando que há trabalhadores "com medo de usar o crachá e a t-shirt".
O médico António Diniz lembra, contudo, que o movimento vai persistir, frisando que não se trata de "meia dúzia de malucos que decidem chatear o Governo", mas antes de um conjunto vasto de profissionais "com razões objectivas de queixa nos locais onde trabalham".