Itália já tem o seu Governo anti-sistema, Europa pede "unidade e solidariedade"
Giuseppe Conte e os seus ministros da Liga e do Movimento 5 Estrelas tomaram posse, pondo fim a uma crise política que parecia ter deixado o país num caminho sem regresso para novas eleições.
Quase ao mesmo tempo que os espanhóis assistiam à queda do Governo de Mariano Rajoy, num processo de que muitos duvidavam até há poucos dias, os italianos seguiam pela televisão uma tomada de posse que já poucos julgavam ser possível. Ao fim de uma semana de impasse, o Presidente Sergio Mattarella assinou os papéis e consumou a chegada ao poder de um Governo nacionalista e anti-sistema, a meias entre a Liga e o Movimento 5 Estrelas.
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Quase ao mesmo tempo que os espanhóis assistiam à queda do Governo de Mariano Rajoy, num processo de que muitos duvidavam até há poucos dias, os italianos seguiam pela televisão uma tomada de posse que já poucos julgavam ser possível. Ao fim de uma semana de impasse, o Presidente Sergio Mattarella assinou os papéis e consumou a chegada ao poder de um Governo nacionalista e anti-sistema, a meias entre a Liga e o Movimento 5 Estrelas.
À frente do novo Governo italiano está o primeiro-ministro Giuseppe Conte, um até agora discreto e independente professor de Direito de 53 anos que foi levado pelo Movimento 5 Estrelas para a ribalta política.
Mas foi um dos seus dois vices que marcou o estado de espírito do novo Governo, com uma fotografia sorridente no Twitter: "Confesso, estou emocionado e feliz", disse Matteo Salvini, líder da Liga – o partido nacionalista e anti-imigração que foi responsável por metade dos 37% obtidos pela coligação de direita nas eleições legislativas de 4 de Março.
O outro vice-primeiro-ministro é Luigi Di Maio, líder do Movimento 5 Estrelas, o partido radical anti-sistema e eurocéptico que foi o mais votado nas eleições, com 32%. No seu canto no Twitter, DiMaio mostrava-se mais desprendido em relação à sua imagem pessoal, partilhando uma fotografia de conjunto dos 18 novos ministros: "Aqui está o Governo da mudança."
A entrada em funções de um Governo composto pelos dois partidos mais votados nas eleições de Março chegou a estar condenada ao fracasso até há poucos dias, depois de o Presidente Mattarella ter rejeitado a nomeação de Paolo Savona, um eurocéptico, para a pasta da Economia e Finanças.
Mas esse obstáculo foi ultrapassado esta semana, com a escolha de Giovanni Tria, que questiona o euro mas não o põe em causa. Savona, o homem que estava no centro do impasse, entrou mesmo no Governo, mas para a pasta dos Assuntos Europeus.
Entre os principais objectivos do novo Governo italiano destacam-se as propostas para reduzir impostos, aumentar os gastos com a segurança social, reformular as regras da União Europeia sobre os orçamentos nacionais e expulsar imigrantes em situação ilegal.
"Mercados tranquilos", titulou o La Stampa. "O mercado de acções sobe, o spread desce", escreveu o mesmo jornal, recordando os tempos de incerteza que marcaram a última semana.
Mas se o impasse em Itália chega ao fim, as reacções de alguns líderes europeus fazem crer que começa um período de incerteza. E nem as garantias de que a União Europeia vai ouvir Conte, Salvini e Di Maio escondem o desconforto com o primeiro governo anti-sistema da Europa Ocidental nos tempos modernos.
"A Comissão Europeia vai estar ao lado de Itália no seu caminho reformador e mantém-se aberta às suas expectativas e propostas para o futuro da União Europeia", disse o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker.
O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, enviou uma carta a Giuseppe Conte, em que se destaca a ideia de que a nomeação "chega num momento crucial para a Itália e para toda a União Europeia".
"Para ultrapassarmos os desafios comuns, precisamos de unidade e de solidariedade mais do que nunca", disse Tusk, num apelo a um Governo que tem como principal promessa reclamar mais independência e mais soberania em relação à União Europeia.