António Costa: “Crise em Itália prova custos do atraso na reforma do euro”
Política de migrações e conclusão da União Económica e Monetária são dois dos temas da visita de trabalho de Angela Merkel a Portugal.
O primeiro-ministro português recebe nesta quarta e na quinta-feira a chanceler alemã numa altura em a Europa está outra vez em perda de dinamismo. Cinco perguntas para saber o que espera dela.
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O primeiro-ministro português recebe nesta quarta e na quinta-feira a chanceler alemã numa altura em a Europa está outra vez em perda de dinamismo. Cinco perguntas para saber o que espera dela.
Como vê esta visita, que é mais do que um mero contacto de trabalho?
A visita de trabalho da chanceler Merkel corresponde ao novo relacionamento económico entre os nossos países. A Alemanha é não só um dos nossos principais clientes, é o principal investidor produtivo externo. Mais importante ainda, o investimento alemão tem vindo a diversificar-se, com crescente intensidade na valorização da qualidade da nossa engenharia e dos centros de investigação nacionais. Daí o programa dar destaque à colaboração exemplar da Bosch com várias empresas nacionais e a Universidade do Minho, no domínio da mobilidade, em paralelo com a que desenvolve com a Universidade de Aveiro no domínio da energia. Dará também maior visibilidade à excelência da investigação científica nacional, com a visita ao i3S, no Porto.
Ainda é possível, no Conselho Europeu de 28 e 29 de Junho, uma proposta conjunta de Angela Merkel e de Emmanuel Macron sobre a reforma da zona euro?
A segunda dimensão da visita será a oportunidade de ajudarmos a construir consensos que permitam à UE vencer os desafios com que se confronta, da política de migrações à conclusão da União Económica e Monetária. O Conselho Europeu de Junho tem de dar um bom impulso para a conclusão dos debates em curso.
Não o preocupa a Itália? Dificulta ainda mais as negociações e pode vir a ser o “choque assimétrico” de que tanto se fala, mas apenas como um risco futuro?
A situação política italiana revela os custos do adiamento da conclusão da UEM e as fragilidades a que a zona euro se expõe. Felizmente, o caminho feito nestes dois anos nas finanças públicas portuguesas – crescimento económico, redução do défice e da dívida, saída do Procedimento de Défice Excessivo, subida dos ratings – e a gestão prudente que foi feita na colocação da dívida pública, permite enfrentar este movimento dos mercados com toda a tranquilidade.
Tem uma boa relação com a chanceler. Pensa que ela já tem uma ideia mais clara sobre como é possível a um governo de centro-esquerda endireitar as contas, mesmo que tenha criticado bastante o programa de ajustamento?
Para ser sincero, encontrei sempre a chanceler mais preocupada com os resultados do que com o caminho para os alcançar. E, em alguns momentos críticos, o seu papel foi importante para dar confiança aos mais cépticos. Uma União a 28 entre países democráticos só sobrevive com o respeito pelos compromissos comuns, no quadro da liberdade de escolha dos eleitores nacionais quanto à melhor forma de os respeitar.
O Governo tem hoje maior margem de manobra nas múltiplas negociações de Bruxelas?
Portugal e Alemanha são, seguramente, dos países da União que melhor procuram compreender o ponto de vista de cada um dos outros 27, que é condição para criarmos o cimento de união entre todos. Esta forma construtiva de estarmos na União aproxima-nos, mesmo a partir de óbvias distâncias geográficas, económicas e culturais. Mas sabemos bem que é essa diversidade que enriquece e fortalece a União.