Salvini cada vez mais cómodo no meio do terramoto político italiano

Líder da Liga dispara nas sondagens e é o único dirigente político que está a colher frutos do bloqueio governativo em Itália. Sugestão de Savona para as Finanças revelou-se cartada triunfante para a extrema-direita.

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Líder da Liga tem sabido aproveitar a crise para colher protagonismo FLAVIO LO SCALZO/EPA

No meio do caos provocado pelo terramoto político das últimas semanas em Itália há alguém com razões para sorrir e com vontade de continuar a assistir ao arrastar da crise: Matteo Salvini.

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No meio do caos provocado pelo terramoto político das últimas semanas em Itália há alguém com razões para sorrir e com vontade de continuar a assistir ao arrastar da crise: Matteo Salvini.

O colapso da solução de governo Liga-Movimento 5 Estrelas (M5S), a escolha de Carlo Cottarelli para liderar um executivo técnico e a ameaça da novas eleições abalaram os mercados e atingiram em força as estratégias e a reputação de praticamente todas peças do xadrez italiano. Mas, ao contrário do Presidente Sergio Mattarella ou do chefe político do M5S, Luigi Di Maio, o líder da extrema-direita tem somado pontos nos últimos dias e é neste momento o principal interessado na manutenção do impasse.

Provas disso são a sua recusa em aderir ao plano de destituição de Mattarella, concebido pela plataforma anti-sistema M5S, e a rejeição ao regresso à mesa das negociações com o M5S para recuperar uma solução política para o bloqueio.

De acordo com uma sondagem da IPSOS, publicada na quarta-feira pelo jornal Corriere della Sera, a Liga registou uma subida de cerca de 8% nas intenções de voto dos italianos, em comparação com os resultados alcançados nas legislativas. Um outro estudo da SWG, de segunda-feira, aponta para os 27,5% – mais 10% que nas eleições de Março.

Face a estes números, é difícil não olhar para a insistência de Salvini em oferecer a pasta da Economia e Finanças a Paolo Savona como um gesto calculado, integrado numa estratégia disruptiva de alcance mais amplo. Foi a escolha do eurocéptico descrente nas vantagens da zona euro para Itália que levou Mattarella a chumbá-lo. Essa decisão resultou no descarrilamento do compromisso com Di Maio, o que levou o Presidente a nomear Cottarelli, um tecnocrata, para tentar formar governo e, face à rejeição dos partidos a esta solução, no aumento significativo das probabilidades de se virem a realizar eleições antecipadas.

Empolgado com as sondagens, Matteo Salvini insiste que o voto é “a melhor forma de se sair deste pântano” e já está por isso em campanha para umas eleições que deverão ocorrer no final do Verão. A preferência assumida pelo Presidente por um governo pró-Europa permitiu-lhe apregoar com ainda mais fervor o seu eurocepticismo e fazer das próximas eleições um autêntico referendo ao papel da Itália no seio da União Europeia.

Ao mesmo tempo que prepara a Liga para o assalto ao poder com o foco em Bruxelas, Salvini vai ainda alimentando o descontentamento da população com os tradicionais ataques ao establishment italiano e à arquitectura política que diz protegê-lo.

No próximo sábado, o líder da extrema-direita trocará os salões do palácio presidencial – onde se comemora a Festa da República Italiana – pelas ruas, para recolher assinaturas para alterar a Constituição no modo de eleição do Presidente: em vez da actual votação no Parlamento, por deputados e senadores, uma eleição directa por todos os italianos. 

Uma verdadeira acção de campanha para um Verão eleitoral que se adivinha quente em Itália. “As próximas eleições serão um plebiscito – a população e a vida real contra as velhas castas políticas”, promete Salvini.