Cottarelli prepara governo no meio de crise que deixa os mercados de nervos em pé
Nomeação de Governo tecnocrata e cenário de eleições no final do Verão levou bolsa de Milão a cair cerca de 3%. Ministros são conhecidos até quarta-feira.
Carlo Cottarelli, o primeiro-ministro designado pelo Presidente italiano, já esteve no Palácio do Quirinale, onde devia ter apresentado os nomes escolhidos para formar um governo tecnocrático - a solução preferida por Sergio Mattarella depois de ter recusado a composição do executivo que lhe propunham a Liga e o Movimento 5 Estrelas.
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Carlo Cottarelli, o primeiro-ministro designado pelo Presidente italiano, já esteve no Palácio do Quirinale, onde devia ter apresentado os nomes escolhidos para formar um governo tecnocrático - a solução preferida por Sergio Mattarella depois de ter recusado a composição do executivo que lhe propunham a Liga e o Movimento 5 Estrelas.
A instabilidade política desencadeada em Itália pela recusa do Presidente Mattarella em aceitar como ministro da Economia e Finanças um reconhecido eurocéptico - Paolo Savona - provocou um abalo nos mercados financeiros por toda a Europa.
A Liga e o Movimento 5 Estrelas (M5S) abandonaram os planos para a formação de governo, no domingo. O Presidente decidiu então nomear um ex-director do Fundo Monetário Internacional, Carlo Cottarelli, para liderar um executivo tecnocrata.
Com os investidores preocupados com o provável cenário de novas eleições na terceira maior economia da zona euro - uma vez que o governo Cottarelli não tem hipóteses de ser aprovado no Parlamento italiano -, a bolsa de Milão chegou a cair cerca de 3%, esta terça-feira, antes de recuperar um pouco, e a contagiar outras praças europeias.
Os efeitos estão igualmente a fazer-se sentir nos juros da dívida italiana, que dispararam para novos máximos desde 2013, com os investidores a escaparem para activos de menor risco, como o dólar ou a dívida alemã.
A agência de notação financeira internacional Moody's avisou que a nota italiana pode baixar, se o próximo governo de Roma não conseguir lidar com a sua enorme dívida. E o nível de confiança dos consumidores revelou-se mais baixo do que o previsto para Maio.
O euro caiu para o valor mais baixo dos últimos seis meses e meio, em relação ao dólar, chegando a 1,510 dólares.
A ideia de uma possível saída da Itália do euro ganhou um novo fôlego: para os investidores, as hipóteses de ter de deixar a moeda única triplicaram, de 3,6% para 11,3%, diz uma análise Sentix, citada pelo Guardian.
Portugal também está a ser afectado, com a bolsa de Lisboa a cair cerca de 2% e o BCP a liderar as perdas (as acções do banco estão a cair perto de 8%). O PSI-20 negoceia no valor mais baixo desde o mês passado. Na dívida pública, o prémio de risco que os investidores estão dispostos a pagar também está a sofrer os efeitos da tensão italiana, com os juros das obrigações do Tesouro a dez anos a subir para o valor mais alto desde Outubro.
Sem a confiança necessária no Parlamento – dominado pela plataforma anti-sistema de Luigi Di Maio e pelo partido de extrema-direita de Matteo Salvini – o Governo de Cottarelli ficará reduzido ao papel de gestor das contas públicas do país até à realização de novas eleições, no final do Verão. A lista de ministros que o auxiliarão nessa missão a prazo deverá ser finalizada até quarta-feira de manhã, quando o Presidente voltará a recebê-lo, escreve a imprensa italiana.
Confrontado com os efeitos negativos da crise nos mercados financeiros, o governador do Banco de Itália quis passar uma mensagem de tranquilidade esta manhã. Ignazio Visco assegurou que “a confiança na força do país é grande”, independentemente das “avaliações mesquinhas e desequilibradas” que se estão a fazer do impacto da crise na economia italiana.
Na primeira mensagem aos italianos, na segunda-feira, Cottarelli procurou descansar os mercados, garantindo que o Governo liderado por ele “asseguraria uma gestão prudente” das contas italianas e lembrando que a participação na zona euro é “essencial” para Itália – algo que Savona colocou em causa, precipitando a rejeição de Mattarella.