Presidente encarrega ex-director do FMI de formar Governo e abre caminho a novas eleições

Rejeição de um eurocéptico proposto pela Liga e pelo M5S para a pasta da Economia e Finanças precipitou convite a Cottarelli para formar governo tecnocrático. Chumbo previsível no Parlamento dá força a um cenário eleitoral a partir de Agosto.

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Carlo Cottarelli TONY GENTILE / Reuters

Sergio Mattarella desafiou um antigo funcionário do Fundo Monetário Internacional (FMI) para assumir o papel de primeiro-ministro interino e formar Governo em Itália. O convite a Carlo Cottarelli foi oficializado nesta segunda-feira e surge um dia depois do colapso da solução governamental que a Liga e o Movimento 5 Estrelas tinham apresentado ao Presidente.

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Sergio Mattarella desafiou um antigo funcionário do Fundo Monetário Internacional (FMI) para assumir o papel de primeiro-ministro interino e formar Governo em Itália. O convite a Carlo Cottarelli foi oficializado nesta segunda-feira e surge um dia depois do colapso da solução governamental que a Liga e o Movimento 5 Estrelas tinham apresentado ao Presidente.

A possibilidade de o partido de extrema-direita e da plataforma anti-sistema formarem um executivo inédito em Itália, quase três meses depois das eleições, caiu por terra no domingo, depois de Mattarella ter rejeitado a escolha do eurocéptico Paolo Savona para o Ministério das Economia e Finanças.

O Presidente justificou a sua decisão com as ameaças de Savona de retirar a Itália da zona euro – “alarmaram investidores italianos e estrangeiros” – e pediu a Matteo Salvini e a Luigi Di Maio que escolhessem outra pessoa para esta pasta. Os líderes das duas forças rejeitaram fazê-lo e colocaram ponto final nas negociações que duravam há várias semanas. O M5S pondera mesmo avançar com um processo de destituição de Mattarella.

“Ontem [domingo] foi o dia mais negro que a democracia italiana alguma vez testemunhou. A verdade é que não querem que tomemos o poder”, lamentou Di Maio, através do Facebook. 

“Não se pode formar um Governo em Itália sem o ‘ok’ de Berlim, Paris e Bruxelas. É uma loucura. Peço à população italiana que continue connosco, porque quero devolver a democracia a este país”, disse, por sua vez, Salvini.

A nomeação de Cottarelli dificilmente será aprovada pelo Parlamento. Liga e M5S já deram a entender que não darão o voto de confiança necessário ao novo Governo, posição também assumida pela Força Itália, de Silvio Berlusconi. O cenário de novas eleições em Itália é, por isso, praticamente inevitável.

O próprio Cottarelli assumiu-o sem rodeios, esta segunda-feira, na hora de pedir luz verde ao Parlamento para o seu programa: “Apresentar-me-ei ao Parlamento com um programa que incluirá a proposta de orçamento para 2019. Se for aprovado, o Parlamento será dissolvido e teremos eleições no início de 2019. Se não tiver apoio, o Governo demitir-se-á e a sua função será levar o país a eleições depois do mês de Agosto, mantendo a neutralidade”.

O antigo funcionário do FMI fez ainda questão de deixar uma mensagem de confiança para Bruxelas, lembrando que “a economia italiana se encontra em pleno crescimento” e que as suas contas públicas estão “sob controlo”. 

“Um Governo liderado por mim asseguraria uma gestão prudente das nossas contas públicas. O nosso papel na UE permanece essencial, bem como a nossa participação na zona euro”, afiançou Cottarelli, citado pelo El País, pouco depois do encontro com Mattarella no palácio presidencial, em Roma.

Em declarações à Reuters, um dirigente do banco de investimento Berenberg mostra-se preocupado com a possibilidade de novas eleições e acredita que os partidos anti-sistema vão sair fortalecidos. “Os radicais vão fazer uma campanha ainda mais audível contra o establishment italiano pró-europeu. E a Liga vai encarar uma nova eleição como um autêntico referendo ao papel da Itália na Europa”, vaticina Holger Schmieding.

A terceira maior economia da zona euro encontra-se sem Governo desde as eleições de 4 de Março. O Movimento 5 Estrelas foi o partido mais votado, a Liga foi a força que juntou mais votos dentro dos partidos integrantes coligação de direita, mas nenhum dos dois logrou votos suficientes para poder apresentar um executivo em nome próprio.

A ameaça de Mattarella de nomear um Governo “técnico” levou os dois partidos a sentar-se à mesa e a apresentar um programa fortemente eurocéptico, anti-imigração e securitário. O Presidente aceitou a escolha de Giuseppe Conte para primeiro-ministro, mas acabou por fechar a porta a Savona, precipitando o fim da formação de um executivo Liga-M5S.

Emmanuel Macron gostou de ver o seu homólogo italiano bater o pé aos partidos populistas e elogiou o “espírito de responsabilidade” por ele demonstrado. “Gostaria de expressar o meu apoio ao Presidente Mattarella, que tem a tarefa essencial de defender a estabilidade democrática e institucional do seu país e que a está a cumprir como muita coragem e com um enorme espírito de responsabilidade”, afirmou o Presidente francês, citado pela Reuters.