As peças do xadrez político italiano para os próximos meses
Escolha de Cottarelli para assumir Governo tecnocrata abre caminho a novas eleições e lança cinco personalidades da arena política italiana à disputa pelo protagonismo.
O colapso da solução que podia juntar a extrema-direita e o anti-sistema italiano no Governo e a subsequente nomeação presidencial de um ex-director do FMI para primeiro-ministro baralharam as contas em Itália e deixaram via livre para novas eleições, em Setembro ou Outubro. Serão estes os protagonistas do Verão italiano:
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O colapso da solução que podia juntar a extrema-direita e o anti-sistema italiano no Governo e a subsequente nomeação presidencial de um ex-director do FMI para primeiro-ministro baralharam as contas em Itália e deixaram via livre para novas eleições, em Setembro ou Outubro. Serão estes os protagonistas do Verão italiano:
Matteo Salvini
O líder da extrema-direita italiana pode vir a ser o grande beneficiado com a possibilidade de novas eleições. A Liga está em ascensão nas sondagens e ele tem somado pontos a Berlusconi junto do eleitorado da direita.
A preferência assumida pelo Presidente por um Governo pró-UE é um rebuçado para Salvini, que pode agora assumir frontalmente o seu eurocepticismo e transformar o próximo acto eleitoral num autêntico referendo à Europa e ao establishment italiano.
“As próximas eleições serão um plebiscito – a população e a vida real contra as velhas castas políticas”, prometeu, depois de conhecida a nomeação de Cottarelli para liderar o executivo.
Luigi Di Maio
O Movimento 5 Estrelas (M5S) foi o mais votado nas eleições de 4 de Março, mas Luigi de Maio tem uma tarefa intrincada pela frente, num cenário de novas eleições. Desgastado pela união com a extrema-direita e com Salvini mais interessado em correr sozinho, o jovem líder da plataforma anti-sistema terá de decidir se quer levar a cabo uma campanha focada na Europa, tal como a Liga, ou se pretende ir buscar mais votos ao Partido Democrático e ao centro.
Para já, o político está determinado em fazer frente a Mattarella. Já sugeriu a sua destituição via Parlamento e nos próximos dias marcará presença em comícios e manifestações de protesto contra a nomeação de Cottarelli.
“Temos de fazer barulho e é importante que o façamos todos juntos”, pediu aos italianos através do Facebook, garantindo ainda que nunca esteve nos seus planos sair do euro.
Sergio Mattarella
Com a Força Itália e o Partido Democrático reduzidos a segundo e a terceiro plano, o Presidente de Itália é neste momento o grande protagonista da ala moderada italiana e, nesse sentido, o melhor (e talvez único) amigo que Bruxelas tem em Itália neste momento.
Foi desempenhando esse papel que Mattarella chumbou a escolha do eurocéptico Paolo Savona para o Ministério das Economia e Finanças do Governo Liga-M5S – por entender que colocava em risco a permanência da Itália na zona euro – e que se recusou a ceder aos ultimatos das forças anti-sistema.
Di Maio mostrou-se inclinado a avançar com um processo de destruição do Presidente, que dificilmente reunirá os apoios necessários. Mattarella deverá, por isso, continuar a ser principal “opositor” aos partidos populistas durante os próximos meses.
Carlo Cottarelli
No primeiro discurso depois de confirmado como o homem responsável por formar Governo em Itália, o ex-director do FMI e “especialista” em políticas de redução da despesa pública – o Politico chama-lhe o “Sr. Tesouras” – assumiu, sem problemas, que é uma solução a prazo.
“Apresentar-me-ei ao Parlamento com um programa que incluirá a proposta de Orçamento para 2019. Se não tiver o seu apoio, o Governo demitir-se-á e a sua função será levar o país a eleições depois do mês de Agosto, mantendo a neutralidade”.
Sem o apoio do Parlamento, Cottarelli exercerá durante os próximos meses o papel de gestor das finanças públicas italianas e preparará o melhor que conseguir a economia do país para um eventual choque pós-eleições.
Silvio Berlusconi
O mau resultado da Força Itália nas legislativas, a subserviência a Salvini no pós-eleições e a ascensão do líder da Liga nas sondagens das últimas semanas são tudo motivos para fazer crer que o ex-primeiro-ministro dificilmente terá o mesmo protagonismo que Di Maio ou Salvini, durante os próximos meses. A isto acresce que já tem 82 anos e não apresenta a resistência física de outros tempos.
Mas quem conhece Il Cavaliere sabe que nunca vira a cara a uma luta. E ainda recentemente viu a justiça de Milão levantar-lhe a interdição a concorrer e ocupar cargos públicos, devido a uma condenação por fuga de impostos. Se a saúde o permitir, espera-se por isso uma candidatura de Berlusconi às próximas eleições, mascarado de salvador da nação italiana.