Regulador chumba compromissos da Altice na compra da TVI
Autoridade da Concorrência entende que as propostas da empresa liderada por Alexandre Fonseca não são suficientes para proteger os interesses dos consumidores.
A Autoridade da Concorrência (AdC) rejeitou o pacote de compromissos que a Altice apresentou para poder comprar a dona da TVI. O PÚBLICO sabe que as medidas sugeridas pela dona da Meo não conseguiram convencer a entidade liderada por Margarida Matos Rosa quanto à eliminação de riscos para os consumidores e para o funcionamento do mercado de telecomunicações e audiovisual, seja pela insuficiência de especificação dos remédios, seja pelos riscos associados à sua monitorização e à possibilidade de um eventual incumprimento.
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A Autoridade da Concorrência (AdC) rejeitou o pacote de compromissos que a Altice apresentou para poder comprar a dona da TVI. O PÚBLICO sabe que as medidas sugeridas pela dona da Meo não conseguiram convencer a entidade liderada por Margarida Matos Rosa quanto à eliminação de riscos para os consumidores e para o funcionamento do mercado de telecomunicações e audiovisual, seja pela insuficiência de especificação dos remédios, seja pelos riscos associados à sua monitorização e à possibilidade de um eventual incumprimento.
Depois da análise às propostas apresentadas pela Altice no final de Abril, a AdC, que já tinha expressado um conjunto de reservas, manteve-se convicta que a integração vertical de um dos principais operadores de telecomunicações e de televisão por subscrição com o líder na oferta grossista de conteúdos audiovisuais e de canais de TV poderia trazer danos irreversíveis para o mercado e para os consumidores.
No entender da AdC, essa integração vertical cria incentivos à capacidade deste operador integrado de usar esse controlo para restringir a concorrência, quer por recusar fornecer os canais da TVI aos concorrentes da Meo, quer por aumentar os preços de venda desses canais. Esse aumento de preços acabaria sempre por reflectir-se nos consumidores.
Quando, em Fevereiro, a AdC comunicou a passagem da operação de concentração a investigação aprofundada, considerou existirem “fortes indícios de que a aquisição poderá resultar em entraves significativos à concorrência efectiva em diversos mercados”. Passados estes meses, os receios da AdC (que coincidem com aqueles que já tinham sido manifestados pela Anacom e pela ERC), mantêm-se. Além da questão dos conteúdos, a AdC também detectou riscos de encerramento no mercado publicitário, nomeadamente através de um eventual impedimento do acesso dos concorrentes da Meo ao espaço publicitário nas várias plataformas (TV, rádio e internet) do novo operador, ou de uma subida significativa dos preços cobrados por esse espaço. Outra área crítica é a da TDT. A AdC entende que o novo gigante Meo/TVI teria a capacidade de aumentar os preços que os concorrentes RTP e SIC pagam para poderem transmitir nestas plataformas.
Esta não é a decisão final da AdC sobre a compra da Media Capital e, como tal, não tem de ser o fim da linha para a Altice. Porém, a avaliar pelas reticências do regulador, se a dona da Meo quiser comprar o grupo que detém a TVI e a produtora de conteúdos Plural terá de se sujeitar a algo mais do que remédios comportamentais, ou seja, terá de prescindir de activos e de áreas de negócio.
A bola passa agora para o lado da empresa liderada por Alexandre Fonseca, que, perante as restrições apontadas pela AdC, poderá decidir que é hora de bater em retirada ou tentar ir ao encontro das suas preocupações, com novas propostas mitigadoras de riscos. É notório, no entanto, que as sensibilidades das duas partes quanto ao negócio são muito distintas.
Numa passagem recente pelo Parlamento, Alexandre Fonseca sublinhou que não via motivos para o negócio ser chumbado e que nem achava que os remédios apresentados fossem indispensáveis para obter luz verde. Descreveu-os mais como “um conforto” para o regulador.
Mas, além disso, o gestor assumiu que a imposição de remédios que limitassem a capacidade da Altice de “implementar o projecto plural” e de “investimento na produção de conteúdos” a que se propunha seria um dos “limites da razoabilidade” que a empresa poderia não estar disposta a ultrapassar. O outro limite seria o do tempo. Alexandre Fonseca queixou-se que o tempo de aprovação do negócio já vai longo (a operação de 400 milhões de euros foi anunciada em Julho passado) e que o mês de Junho poderia ser decisivo para decidir se valia a pena ir em frente.
Porém, mesmo que para a Altice a compra da Media Capital deixe de fazer sentido, há outra variável a ter em conta, que é o compromisso firmado com a espanhola Prisa e a sua expectativa de encaixe com a venda da Media Capital.