Manifestações violentas na Nicarágua fazem mais oito mortos

Há mais de um mês que o país atravessa uma crise política que trouxe a violência para as ruas. Ao todo, já há mais de 80 mortos.

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Os manifestantes anti-governamentais têm bloqueado estradas em todo o país Reuters/OSWALDO RIVAS

Não parece haver fim à vista para a onda de protestos contra o Presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, que só nos últimos dois dias deixaram oito mortos.

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Não parece haver fim à vista para a onda de protestos contra o Presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, que só nos últimos dois dias deixaram oito mortos.

Um pouco por todo o país há estradas bloqueadas e, sobretudo, muita violência. Na sexta-feira, quatro pessoas morreram durante os protestos e no sábado houve outras quatro vítimas mortais, uma das quais enquanto era perseguida por “grupos motorizados”, de acordo com testemunhos de familiares citados pela AFP.

Ao todo, os confrontos entre manifestantes e autoridades já causaram 83 mortos e 860 feridos desde que os protestos começaram, em meados de Abril. O mais recente pico na violência surgiu após o falhanço das negociações mediadas pela Igreja Católica para tentar pôr fim aos protestos.

Tudo começou como uma revolta popular contra o anunciado corte nas pensões e o aumento das contribuições fiscais dos trabalhadores, ao abrigo de uma reforma da segurança social. O Governo de Ortega acabou por recuar no seu plano, mas as manifestações persistiram.

O ministro da Defesa, Denis Moncada, diz que as exigências da oposição – que pede a marcação de eleições antecipadas – têm o objectivo de “desmantelar o Estado constitucional legitimamente eleito”. Organismos regionais, como a Comissão Inter-Americana de Direitos Humanos, pediram às autoridades que resolvam a crise “de forma pacífica” e pedem investigações às suspeitas de abusos das forças de segurança no exercício de força contra as manifestações.

Aquilo que tinha começado como uma contestação a uma medida concreta depressa assumiu contornos mais profundos. Em causa passou a estar todo o regime autoritário de Ortega, ao lado da sua mulher e vice-Presidente, Rosario Murillo. Os protestos “transformaram-se num clamor popular pelo restabelecimento da democracia e da liberdade violadas”, escrevia no El País o ex-vice-Presidente e vencedor do Prémio Cervantes no ano passado, Sergio Ramírez.

Ortega tem dominado a vida política da Nicarágua nas últimas décadas. O ex-guerrilheiro sandinista governou o país, na sequência do derrube da ditadura de Anastasio Somoza, entre 1979 e 1990, para depois regressar em 2007, com um programa que concilia a retórica marxista com o apoio a medidas pró-mercado.

Em 2016 foi reeleito numas eleições em que praticamente não teve oposição, concentrando na sua pessoa um poder quase absoluto.