Pedro Nuno ganhou nos aplausos, mas as alianças dividem

O debate sobre estratégia de alianças pós legislativas de 2019 atravessou todo o congresso. De um lado Pedro Nuno Santos com a defesa da aliança com o BE e o PCP, do outro os que preferem a autonomia estratégica do PS.

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Rui Gaudêncio

Pedro Nuno Santos foi ontem consagrado no 22.º Congresso do PS como o putativo candidato a líder no futuro, pelo menos no que toca à intensidade de aplausos que recebeu no final da sua intervenção. O momento foi tão simbólico que terminou com um abraço a António Costa perante os delegados. Mas se Pedro Nuno conseguiu marcar lugar na pole position para a sucessão no futuro, o que ficou claro ao longo das intervenções de todo o dia de ontem é que as suas posições estão longe de ser unânimes, já que foram vários os dirigentes que se distanciaram da tese de que o PS tem de manter a estratégia de alianças e renovar desde já a intenção de prosseguir os entendimentos com o BE e o PCP.

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Pedro Nuno Santos foi ontem consagrado no 22.º Congresso do PS como o putativo candidato a líder no futuro, pelo menos no que toca à intensidade de aplausos que recebeu no final da sua intervenção. O momento foi tão simbólico que terminou com um abraço a António Costa perante os delegados. Mas se Pedro Nuno conseguiu marcar lugar na pole position para a sucessão no futuro, o que ficou claro ao longo das intervenções de todo o dia de ontem é que as suas posições estão longe de ser unânimes, já que foram vários os dirigentes que se distanciaram da tese de que o PS tem de manter a estratégia de alianças e renovar desde já a intenção de prosseguir os entendimentos com o BE e o PCP.

Na sua intervenção, Pedro Nuno Santos foi frontal na defesa das suas posições: é com a esquerda que se faz o Estado social, que classificou como a “maior realização da humanidade política”, afirmando que o que defende “não é populismo, não é radicalismo, é ser socialista”. Deixando para a apresentação das moções sectoriais, hoje de manhã, a sua percepção do que deve ser o papel do Estado no desenvolvimento económico, Pedro Nuno fez questão de defender que o PS não foi criado “para representar a elite” e que “quem esteve na origem e criação” dos partidos sociais-democratas foi o “povo”, formado hoje pelos que “trabalham 40 ou mais horas e ganham mal”.

A sua estratégia de alianças foi secundada por dirigentes que lhe são próximos, como Duarte Cordeiro, segundo subscritor da sua moção, por Pedro Delgado Alves e até por Ana Gomes. Mas o maior apoio que recebeu foi a legitimação histórica que lhe foi oferecida por Manuel Alegre, o líder da ala esquerda do PS a quem sucede. Alegre foi cristalino a desejar o prolongamento dos acordos à esquerda. “Espero que continue a acontecer”, disse, advogando que a “viragem à direita representaria um risco de morte para o PS”.

Chegando ao ponto de considerar que o “PS não deve ter medo de pedir a maioria absoluta”, Alegre sustentou que, “se tal acontecer”, Costa “deve manter política de convergência”, argumentando que o “PS é um partido democrático e não a ala esquerda do neoliberalismo ou a bengala da direita”.

Autonomia estratégica

De forma menos veemente e por vezes até subtil, a demarcação das teses de Pedro Nuno Santos foi feita por vários dirigentes não só em relação à política de alianças, mas também quanto ao papel do Estado. Logo ao início da tarde, Augusto Santos Silva, que tem protagonizado a defesa da autonomia estratégica do PS, afirmou que não combate “nenhum socialista de nenhuma tendência”, mas “a direita”. E de forma peremptória garantiu: “Combato também todas as tentativas de retirar autonomia ao PS, de negar a natureza de espaço central, de diminuir a capacidade de afirmar-se como progressista e europeísta.”

Vários dirigentes com peso e história alinharam na mesma tese — Ferro Rodrigues e Carlos César, passando por Vasco Cordeiro e Porfírio Silva, defenderam a seu modo a autonomia estratégica. Isto, enquanto Daniel Adrião, que se candidatou a líder para apresentar uma moção de estratégia global, afirmou, sem nunca mencionar o nome de Pedro Nuno Santos, que não aceitava “o jogo táctico e apresentar moções globais como sectoriais para não ir a votos”, concluindo que “o PS não tem donos”, nem “vencedores pré-determinados”.

Coube a Francisco Assis o reafirmar frontal da sua oposição às alianças à esquerda. “Disse-o em nome da minha concepção do PS que sou contra esta solução. Acho que a solução é má”, lembrou logo de início. E concluiu: “O PS deve governar sozinho com disponibilidade para falar à esquerda e à direita.”

Mais subtil, foi Fernando Medina, que é visto como um possível futuro líder do PS. Assumiu a defesa do pragmatismo político, elogiando a acção de António Costa e demarcou-se assim de Pedro Nuno Santos, sem nunca referir sequer que estava também a falar de debate ideológico.

Logo a começar afirmou que o “ideário sem acção é um vazio”; daí a necessidade de o PS saber compatibilizar estas duas dimensões da política. E tratou de deixar a primeira demarcação de Pedro Nuno Santos: “O PS tem de saber onde procurar alianças para transformar a sociedade.”

De seguida, agarrou na moção de António Costa para garantir que é o bom caminho para o PS fazer a “actualização” do ideário. Considerou-a “socialista”, “revolucionária”, “não proclamatória”. E destacando que o combate à xenofobia e ao racismo feito por Costa “tem liderado na Europa”, apelou a “energia renovada” e a uma “força mobilizadora” para as eleições europeias e legislativas.