Na fila para líder do PS
Numa altura em que António Costa acaba de ser reeleito para mais um mandato como secretário-geral e a sua liderança se anuncia longa, o PÚBLICO faz o retrato dos que, na geração seguinte, estão na linha da frente para um dia liderarem o partido.
Ana Catarina Mendonça Mendes, secretária-geral adjunta
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Ana Catarina Mendonça Mendes, secretária-geral adjunta
De onde vem?
Nascida em Coimbra, a 14 de Janeiro de 1973, viveu a partir dos 14 anos em Setúbal onde ingressou na JS aos 18 anos, pela mão do irmão António Mendonça Mendes. Licenciou-se na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa e é advogada, mas a sua dedicação foi sempre a cem por cento à política.
Experiência política
Em 2000, candidatou-se à sucessão de Sérgio Sousa Pinto na liderança da JS, mas perdeu por um voto para Jamila Madeira. Entre 2014 e 2015, liderou a Federação Distrital do PS em Setúbal, cargo em que foi substituída pelo irmão, para assumir o lugar de secretária-geral adjunta. É também primeira vice-presidente do grupo parlamentar na Assembleia da República onde é deputada desde 1995 e integrou várias vezes a direcção da bancada, com os líderes parlamentares Francisco Assis e Alberto Martins. Entre 1993 e 1997 foi também deputada municipal em Almada.
Experiência governativa
Não tem. No grupo de apoiantes de António Costa com mais proeminência no momento em que este foi eleito secretário-geral em Novembro de 2014, foi a única que não integrou o elenco governativo. Foi-lhe destinada a missão de ser secretária-geral adjunta e não desvalorizar o partido como era costume cada vez que o PS era Governo.
Vantagens
Como secretária-geral adjunta tem construído o seu peso e a sua rede de apoios no aparelho, nomeadamente ao preparar o PS para as últimas autárquicas e tornando-se uma dos principais responsáveis pela vitória socialista. A isto somam-se as ligações políticas de peso que soube construir ao longo de anos no Parlamento, onde foi diversas vezes encarregada de fazer a ponte e coordenar os deputados socialistas. Na sua rede informal de apoios, tem também peso específico a sua geração da JS, que nasceu para a política sob a liderança de Sérgio Sousa Pinto. Hoje, funcionam com amigos, mas a ligação em rede existe e será activada se chegar o momento de Ana Catarina disputar a liderança. Entretanto, começou a mediatizar a sua figura ao aceitar integrar com o antigo líder parlamentar e putativo candidato a líder do PSD, Luís Montenegro, o frente a frente Xeque-mate, na TVI.
Obstáculos
Os principais obstáculos são o facto de não ter experiência governativa e não ser uma figura muito mediática. O segundo problema tem diminuído de forma acelerada, não só pelo protagonismo como secretária-geral adjunta, mas também pela sua presença semanal na TVI. O primeiro poderá ficar resolvido se o PS ganhar as legislativas, já que os apoiantes de Ana Catarina garantem que António Costa terá então de a levar para o Governo.
Fernando Medina, presidente da Câmara de Lisboa
De onde vem?
Nasceu a 10 de Março 1973, no Porto, filho dos históricos dirigentes do PCP e militantes clandestinos Helena Medina e Edgar Correia. Foi um dos líderes da luta contra as propinas como presidente da Associação de Estudantes da Faculdade de Economia do Porto e da Federação Académica do Porto. Economista, aproximou-se do PS nos Estados Gerais organizados por António Guterres, em 1995, e ingressou no partido no início de 2001, com ficha assinada pelo próprio Guterres.
Experiência política
Em 2011, foi vice-presidente da bancada do PS liderada por Alberto Martins, integrando então, em nome do PS, a Comissão de Acompanhamento da troika. Entre 2010 e 2011, foi porta-voz da direcção do partidp. Em 2013, candidatou-se como número dois na lista de Costa à Câmara de Lisboa que substitui em 2015. Em 2017, Fernando Medina recandidatou-se a presidente da Câmara e venceu as autárquicas, embora sem maioria absoluta. Integra o Secretariado do PS desde que Costa é líder.
Experiência governativa
Em 2005, no primeiro Governo de José Sócrates, foi secretário de Estado do Emprego e da Formação Profissional, na dependência do Ministro do Trabalho, Vieira da Silva. Foi responsável directo pela reforma da Segurança Social, as alterações ao Código Laboral, as negociações sobre o salário mínimo nacional. Quatro anos depois transitou com Vieira da Silva para o Ministério da Economia, como secretário de Estado da Indústria e Desenvolvimento.
Vantagens
Há anos que o PS olha para ele como potencial futuro líder e é visto como o sucessor natural de Costa. O facto de o ter substituído na presidência da Câmara de Lisboa, uma autarquia que implica uma capacidade de gestão superior à de muitos ministérios, dá-lhe o palco institucional para fazer o seu caminho para a liderança. Gere de forma discreta as suas ambições, mas consciente de como a mediatização da imagem é essencial, aceitou um espaço de comentário político na TVI, onde vai marcando posição. Foi aí, aliás, a 1 de Maio, o primeiro a exigir explicações sobre as suspeitas de corrupção que recaíram sobre Manuel Pinho, não deixando de fora José Sócrates, iniciando a onda de demarcação da direcção socialista. A 9 de Maio, volta ao assunto para considerar que a saída de Sócrates do PS era benéfica para o próprio e para o PS.
Obstáculos
O grande obstáculo para que possa ser líder é o facto de nunca ter cultivado apoios no aparelho partidário. O que pode ser decisivo para a eleição como secretário-geral, ainda que os estatutos do PS admitam que esta escolha possa ser feita em primárias abertas a simpatizantes.
Pedro Nuno Santos, secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares
De onde vem?
Nasceu a 13 de Abril de 1977, em São João da Madeira. É economista, licenciado pelo Instituto Superior de Economia e Gestão, onde presidiu à Mesa da Reunião Geral de Alunos e integrou a direcção da Associação de Estudantes.
Experiência política
Atingiu a primeira linha como dirigente ao substituir Jamila Madeira como líder da JS, cargo que ocupou entre 2004 e 2008. Já no PS, liderou a Federação do PS em Aveiro entre 2010 e este ano. Neste distrito, foi deputado municipal e presidente da Assembleia Municipal de São João da Madeira. Entrou no Parlamento, como líder da JS, em 2005 e em 2010 passou a vice-presidente de Alberto Martins na bancada socialista.
Experiência governativa
É secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, lugar em que tem ganho protagonismo político crescente já que é o responsável pela gestão das relações diárias entre o Governo e os parceiros de aliança parlamentar, o BE e o PCP.
Vantagens
Pedro Nuno Santos tem construído uma rede de apoios a nível nacional no aparelho do PS. Tem apoiantes que cresceram politicamente consigo na JS e que se mantêm leais hoje em dia, ocupando cargos no partido e na sua estrutura, aos quais soma os apoiantes e correligionários que fez enquanto líder da Federação de Aveiro. Um peso político que cresceu com o protagonismo que ganhou como secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares. Tem um claro pendor doutrinário e assume-se como líder no Governo e nas novas gerações socialistas da tendência mais à esquerda do PS. Ciente de que é preciso fazer o caminho das pedras e ir marcando lugar para ascender a líder do partido, na preparação deste congresso escreveu dois artigos de opinião claramente doutrinários no PÚBLICO e apresentou uma moção sectorial com conteúdo de moção de estratégia global – de que é segundo subscritor Duarte Cordeiro - em que propõe um novo modelo para o papel do Estado como agregador dos agentes públicos e privados para o crescimento económico. E em entrevista à Antena 1, perante a pergunta se quer secretário-geral, afirmou: “No PS, só me falta isso.”
Obstáculos
A veemência, por vezes aparentemente radical, e uma filiação doutrinária claramente à esquerda nas leituras sociais-democratas que coabitam no PS, pode criar-lhe anticorpos dentro do partido. O facto de ser um claro defensor da continuação da aliança parlamentar à esquerda numa próxima legislatura é também olhado com desconfiança nos socialistas mais moderados.
Sérgio Sousa Pinto, deputado
De onde vem?
Nasceu a 29 de Julho de 1972, em Lisboa. É jurista licenciado pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa.
Experiência política
Liderou a JS entre 1994 e 2000, sucedendo a António José Seguro. Foi o primeiro líder dos jovens socialistas a ganhar protagonismo como defensor de causas próprias em matéria de direitos individuais e questões civilizacionais. Deputado entre 1995 e 1999, liderou a luta parlamentar pela despenalização do aborto até às dez semanas de gestação e, em 1997, viu aprovada a lei de que era primeiro subscritor, para logo nessa noite perceber que o primeiro-ministro, António Guterres, tinha acordado com o líder do PSD, Marcelo Rebelo de Sousa, que a lei seria submetida a referendo em 1998. Não desistiu de romper com o conservadorismo do PS em matéria de direitos e em 1999 avançou com uma proposta de reconhecimento das uniões de facto a casais do mesmo sexo e de sexos diferentes. Mais uma vez foi travado por Guterres e o projecto, quando foi apresentado, excluia os casais do mesmo sexo, um reconhecimento que chegaria em 2001, já Sousa Pinto estava no Parlamento Europeu, onde se manteria durante dez anos e onde estabeleceu uma relação política profunda com Mário Soares. Em 2009, voltou à Assembleia da República onde é hoje presidente da Comissão de Negócios Estrangeiros.
Próximo de António Costa desde os tempos da JS, rompeu com este em discordância com a aliança que o PS estabeleceu com o BE e o PCP em Novembro de 2015, demitindo-se do Secretariado.
Experiência governativa
Nunca integrou nenhum governo, mas dentro do PS são largos os sectores e de várias gerações que defendem que ele deveria integrar um próximo executivo socialista e que o dão como inevitável.
Vantagens
A autonomia e liberdade de pensamento que tem demonstrado ao longo da vida política – e que voltou a afirmar em entrevista ao PÚBLICO –, a sua capacidade crítica e a sua frontalidade, aliadas a uma elevada preparação intelectual e política, bem como sólida consistência doutrinária, fazem de Sousa Pinto uma referência no PS que é respeitada pelas várias gerações socialistas. É visto, nas gerações de militantes e dirigentes abaixo dos cinquenta anos de idade, como o líder natural e aquele que mais qualidade política e doutrinária tem para exercer a liderança.
Obstáculos
Ao longo da sua vida política, tem demonstrado um total desapego ao poder, nunca cultivando percurso partidário nem conquista de apoios. O seu principal obstáculo é assim a sua ausência de vontade de ser líder. Mas há quem garanta no PS que, mesmo não querendo, num momento de crise de sucessão ou de divisão interna que venha a acontecer, terá de ser ele a agarrar no partido.