As Festas de Lisboa vão fazer-se de memória: de Vasco Santana à Expo 98

Vasco Santana vai ser lembrado “na folia e no pecado”. Os Olharapos voltam à Expo. Os arraiais mantêm-se por toda a cidade mas este ano querem-se mais sustentáveis. Eis o cardápio das festas populares da capital.

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É o tempo da sardinha a pingar no pão, do copo de vinho na mão, do bailarico e do manjerico. As Festas de Lisboa, que arrancam daqui a uma semana, rimam com música e diversão, mas levam este ano uma pitada de memória. 

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É o tempo da sardinha a pingar no pão, do copo de vinho na mão, do bailarico e do manjerico. As Festas de Lisboa, que arrancam daqui a uma semana, rimam com música e diversão, mas levam este ano uma pitada de memória. 

Volta a cumprir-se a tradição lisboeta com as marchas populares a descerem a Avenida da Liberdade na noite de 12 para 13 de Junho. Será Vasco Santana quem as guiará este ano, em jeito de celebração dos 120 anos do seu nascimento. Pela avenida, todas as marchas vão interpretar o tema “Vasco é Saudade", vencedor do concurso Grande Marcha de Lisboa 2018.

Este ano, e “excepcionalmente”, vão a concurso 23 marchas, depois dos grupos do Alto do Pina, Santa Engrácia e Benfica terem reclamado a participação, levantando dúvidas sobre a entrada em vigor do novo regulamento das marchas de Lisboa. 

São a actividade "mais complexa e mais arriscada que a EGEAC [Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural] organiza ao longo do ano", reconheceu a presidente desta empresa municipal, Joana Gomes Cardoso, na apresentação do programa das festas, que decorreu esta sexta-feira, no Mercado de Arroios.

"Se pensarmos que há uns anos temíamos que as marchas populares acabassem, hoje em dia, o contexto é o oposto. Quanto muito temos algumas dores de crescimento", continuou a responsável, aludindo aos problemas que foram levantados este ano. 

Mas a festa segue, com “um programa vastíssimo, que reúne e assenta muito na manifestação que é mais tradicional, popular, bairrista na cidade”, assinalou o presidente da câmara, Fernando Medina.

Pelo terceiro ano, os lisboetas são desafiados a recriarem os Tronos de Santo António, em articulação com o Museu de Lisboa. “Os tronos já estão por toda a cidade e já não apenas nas zonas históricas”, notou Joana Gomes Cardoso. Mas a tradição há-de seguir pelos casamentos de Santo António, em que 16 casais vão dar o nó na manhã do dia 12 de Junho, na Sé de Lisboa. 

As festas chegam ainda ao Parque das Nações no ano em que passam duas décadas sobre um dos grandes momentos de “viragem na vida cultural da cidade”, a Expo 98. Há espectáculos multimédia e a actuação dos Olharapos, logo no arranque das festas, na Pala do Pavilhão de Portugal.

As fotografias de Bruno Portela, que retratam a zona antes da intervenção urbana ali feita há mais de 20 anos, vão estar espalhadas pelas ruas. Você não está aqui inaugura a 9 de Junho para dar a conhecer às novas gerações, e em 70 fotografias, uma zona que não passava de um depósito de fábricas abandonadas, onde chegou a funcionar uma petrolífera, um aterro sanitário e um matadouro. 

Várias expressões

Mas as Festas de Lisboa são também "um espaço para as várias expressões", vincou Joana Gomes Cardoso. Da arte para as crianças, com a reabertura do Teatro Luís de Camões, às artes plásticas, para quem aceitar o desafio de criar a própria sardinha, à música e ao fado. No Castelo de São Jorge, vai-se fazer silêncio para ouvir o fado pelas vozes de Carlos do Carmo, Carminho, Camané, nos dias 14, 15 e 16 de Junho, respectivamente. 

Já no próximo sábado, dia 2, a música toca no Terreiro do Paço, com o concerto da Orquestra Geração, o projecto de inclusão social que forma jovens músicos de comunidades desfavorecidas, com a Orquestra Gulbenkian, especialmente dedicada a amantes da saga Guerra das Estrelas. 

Se as festas são “uma expressão do barrismo” lisboeta, como assinalou Fernando Medina, são também uma oportunidade para mostrar “as muitas realidades” que a cidade tem. “Tudo encontra espaço nas festas de Lisboa”, sublinhou o autarca. É para promover esse "encontro de culturas" que o festival Lisboa Mistura e a Festa da Diversidade voltam com espectáculos na Ribeira das Naus, a partir do dia 7 de Junho. 

O programa das festas termina a 30 de Junho, no jardim da Torre de Belém, com um concerto de Gilberto Gil, que comemora os 40 anos do álbum "Refavela" e terá convidados como Mayra Andrade. 

Há muita programação paralela durante este mês de festa em Lisboa, que pode ser consultada em culturanarua.pt

Copos são “para repetir”

Durante todo o mês, os arraiais vão multiplicar-se pelos bairros da cidade, da Vila Berta, na Graça, ao Lumiar. No dia 23, o Terreiro do Paço volta a receber o Arraial Pride, um dos maiores eventos para s população lésbica, gay, bissexual, transgénero e intersexo (LGBTI), com festa das 16h às 4h da manhã.

Este ano, a câmara de Lisboa, em parceria com a Central das Cervejas, quer reduzir a quantidade de plástico, e de lixo, que ficam nas ruas da cidade no final de uma noite de folia.  

A mensagem vem gravada nos copos. “É para repetir”, lê-se nos copos reutilizáveis que estarão à venda e que se pretende que sejam um incentivo à reciclagem dos copos tradicionais. 

"Não será possível ainda em toda a cidade, porque os arraiais são imensos e espalham-se por toda a cidade, mas em todas as organizações de concertos em espaços organizados, será esse o método utilizado", explicou Fernando Medina, aos jornalistas, já no final da apresentação da programação das festas. 

O autarca lembrou ainda que, durante o mês de Junho, a capital poderá receber “entre um milhão a dois milhões de pessoas no centro da cidade” por causa das festas de Santo António.