Populismo: a expressão da inconsequência
Um dos princípios fundadores da União Europeia é o de Integração e Igualdade. No entanto, nos países da Zona Euro e da União Europeia, assistiu-se a um acentuar da divergência económica em detrimento da convergência, seu grande objetivo fundador.
Por toda a Europa temos assistido a uma ascensão de partidos e políticas populistas. Em 2016 vimos a Grã-Bretanha fechar portas à União Europeia com o Brexit. Em 2017 assistimos a uma França quase rendida à extrema direita e a movimentos antieuropeus como a Frente Nacional enquanto a Áustria se rendia ao Partido Popular e já em 2018, Itália prosseguiu a marcha ao deixar-se levar pelo partido do comediante Beppe Grillo, Movimento 5 Estrelas.
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Por toda a Europa temos assistido a uma ascensão de partidos e políticas populistas. Em 2016 vimos a Grã-Bretanha fechar portas à União Europeia com o Brexit. Em 2017 assistimos a uma França quase rendida à extrema direita e a movimentos antieuropeus como a Frente Nacional enquanto a Áustria se rendia ao Partido Popular e já em 2018, Itália prosseguiu a marcha ao deixar-se levar pelo partido do comediante Beppe Grillo, Movimento 5 Estrelas.
Mas o que define o populismo? A verdade é que não existem características exclusivas em todos os partidos, nem sequer uma orientação política comum, pois só na Europa deparamo-nos simultaneamente com a Frente Nacional, em França, de direita e o Podemos, em Espanha, de esquerda. Se quisermos escolher um ponto de convergência, este passa pela contraposição de um povo injustiçado a uma elite alienada dos seus problemas. Para a esquerda, esta elite corresponde ao poder instituído, como a União Europeia; a direita opta por acusá-la de privilegiar um terceiro grupo, como os imigrantes e refugiados.
Um dos perigos do populismo assenta nas suas propostas irrealistas, como a do Presidente americano de construir um muro na fronteira com o México... pago pelo governo mexicano! O maior perigo, a meu ver, está no facto de a afirmação do populismo estar geralmente associada a crises económicas e políticas, patente na quebra generalizada de confiança das populações dos diversos países nas políticas da União Europeia, resultante da incapacidade dos responsáveis europeus de atuarem corretamente na resposta aos efeitos da crise económica e financeira que se abateu em 2008, provocando o descrédito das suas instituições. Esta posição é, aliás, partilhada por responsáveis económicos europeus, como é o caso de Vítor Constâncio na sua mais recente entrevista ao Financial Times.
Um dos princípios fundadores da União Europeia é o de Integração e Igualdade. No entanto, nos países da Zona Euro e da União Europeia, assistiu-se a um acentuar da divergência económica em detrimento da convergência, seu grande objetivo fundador. A produção de riqueza regrediu de uma forma generalizada enquanto a desigualdade na distribuição da riqueza e de rendimento disponível se propagou, quer entre países quer dentro dos próprios países. No caso de Portugal, no auge da crise, a economia contraiu-se para níveis do início do milénio. O desemprego atingiu patamares históricos, passando de 8,8% da população ativa em 2008, para 16,4% em 2013. De acordo com a OCDE, na União Europeia e na Zona Euro, os valores passaram respetivamente de 7% e 7,5% para 11 e 12%. Consequentemente, ocorreu um aumento generalizado da pobreza que, no caso de Portugal e de Espanha, atingiu 6 pontos percentuais entre 2008 e 2013. Estes fatores contribuíram para o levantamento de uma onda de rejeição da moeda única e uma sensação de abandono por parte dos responsáveis das instituições europeias, a quem competia dar resposta aos problemas.
Simultaneamente, desde o início do século, a guerra civil na Síria e outros conflitos noutras partes do globo, têm levado a uma forte entrada na Europa de refugiados, procurando segurança, estabilidade e melhoria económica. Assim, assistimos a uma viragem no mercado de trabalho que passou a ter uma grande oferta de mão de obra pouco qualificada, disposta a aceitar baixas remunerações e trabalhos precários. Em alguns países, a falta de políticas corretoras ou estabilizadoras por parte dos governos nacionais e das instituições europeias conduziu a uma onda de insatisfação interna por parte da população, com o argumento de que esta apropriação do emprego era prejudicial para os habitantes. Os anos de crise financeira vieram acentuar este descontentamento. Em países como a Hungria, a Itália, a Polónia, entre outros, soou um discurso anti-imigração. Os movimentos xenófobos alinhados com a inação das instituições europeias no tocante à resolução dos conflitos do médio oriente, culminaram numa série de ataques terroristas por toda a Europa, com destaque para os últimos cinco anos, que agravou ainda mais o descontentamento europeu.
A verdade é que a União Europeia se depara hoje com um enorme desafio: a sua sustentabilidade. Sem uma qualquer intervenção, sem uma mudança na abordagem até agora efetuada, corre-se o risco de rutura e desintegração da União Europeia e da própria zona monetária agora existente. No entanto, infelizmente é possível dizer que os partidos populistas têm sido um elemento de pressão para uma intervenção mais consciente dos responsáveis europeus e até mesmo dos restantes partidos políticos dentro de um mesmo país. Ao proporem medidas políticas e económicas extremas, como aumentos significativos dos salários mínimos e dos benefícios fiscais, induzem os partidos políticos a convergir para os seus ideais, propondo medidas que tomem em maior consideração as necessidades e aspirações dos seus cidadãos. Fica então em aberto qual a lição a retirar destes factos e portanto qual o futuro das instituições europeias enquanto entidade autoritária: será que caminhamos para um futuro individualista e nacionalista, para uma rutura da atual união ou será que há lugar para a “nacionalidade” europeia, em que as populações são vistas como um todo e não como um aglomerado de nações independentes?
A autora escreve segundo o novo Acordo Ortográfico