Mais vale Solo do que mal acompanhado?
A mais recente adenda ao universo Star Wars é um filme apenas simpático e competente. Uma “expansão do universo” que apenas serve os interesses do estúdio.
Já não vale muito a pena propor qualquer tipo de discurso crítico à volta de franchises, perdão, de “universos cinemáticos”: os fãs (que ainda por cima costumam ser bastante intolerantes) não querem saber de nada que conteste a sua devoção, a maior parte das espectadores quer entretenimento descartável, o estúdio quer produto que lucre nas bilheteiras. Porquê, então, perder tempo a falar de um filme destinado ao sucesso, independentemente do que se ache dele?
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Já não vale muito a pena propor qualquer tipo de discurso crítico à volta de franchises, perdão, de “universos cinemáticos”: os fãs (que ainda por cima costumam ser bastante intolerantes) não querem saber de nada que conteste a sua devoção, a maior parte das espectadores quer entretenimento descartável, o estúdio quer produto que lucre nas bilheteiras. Porquê, então, perder tempo a falar de um filme destinado ao sucesso, independentemente do que se ache dele?
Só que os críticos também são espectadores. E A Guerra das Estrelas, o filme original de George Lucas, com as duas sequelas que formam a sua trilogia central, é marco cinéfilo para muita gente. Os três filmes provaram ser possível recriar uma era dourada do cinema de aventuras nos tempos modernos — com energia, ideias, garra, e sobretudo celebração de um grande cinema popular. Alguma dessa celebração reencontra-se em Han Solo, com os seus trejeitos de western, heist movie, Missão Impossível com foras-da-lei em planetas distantes. Não é um acaso. O argumento é co-assinado por Lawrence Kasdan (que escreveu Os Salteadores da Arca Perdida ou O Regresso dos Jedi) e a realização foi entregue a Ron Howard (Apollo 13, Resgate, Uma Mente Brilhante) — gente que cresceu ainda na “nova Hollywood” dos anos 1970 e tem uma outra educação visual. É por isso que Han Solo tem personagens com um mínimo de espessura, bem defendidas por bons actores (apesar de Alden Ehrenreich não conseguir nunca convencer como um Harrison Ford jovem). E tem uma noção de história, ritmo e clareza bem-vindas nestes dias de efeitos visuais para encher o olho.
Tudo isso, contudo, tem de encaixar na gaveta do franchise: Han Solo é uma “prequela” que explica e mostra aquilo que tinha ficado subentendido noutros filmes e dava espessura à personagem (o encontro com Chewbacca, a partida de cartas pela Millennium Falcon...). Mas nada disso necessitava verdadeiramente de ser contado; é apenas mais uma peça no imenso dominó de “propriedade intelectual” da Disney, e na sua linha de montagem com prazos a cumprir (mais perto do Império Galáctico do que exactamente da Aliança Rebelde que luta pela liberdade…). Han Solo é um filme simpático, sim, assaz competente, mas é entretenimento descartável, inútil, existindo apenas para encher os cofres da Disney e apagar mais um pouco a magia que ainda guardávamos da trilogia original. Mesmo pondo de lado o crítico, nunca enche as medidas do espectador, esquece-se como não conseguiremos esquecer o primeiro.