Tony Carreira: o homem que ele é
O Homem que sou é o livro autobiográfico do popular cantor que comemora 30 anos de carreira. O lançamento no Teatro S. Luiz, em Lisboa, mobilizou o seu clube de fãs.
É segunda-feira. São oito e meia da noite. A hora marcada para o lançamento de O Homem que Sou, o livro autobiográfico de Tony Carreira que chegou às lojas na última sexta-feira, é só daí a 60 minutos, mas já há dezenas de pessoas à porta do Teatro S. Luiz, em Lisboa. São fãs oficiais, membros do clube de fãs – o registo, feito através de uma ficha de inscrição disponível no site de Tony, custa 30 euros.
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É segunda-feira. São oito e meia da noite. A hora marcada para o lançamento de O Homem que Sou, o livro autobiográfico de Tony Carreira que chegou às lojas na última sexta-feira, é só daí a 60 minutos, mas já há dezenas de pessoas à porta do Teatro S. Luiz, em Lisboa. São fãs oficiais, membros do clube de fãs – o registo, feito através de uma ficha de inscrição disponível no site de Tony, custa 30 euros.
Manuela é uma dessas fãs. Está ali há quase uma hora. Segura um ramo de orquídeas. As flores, explica, são para oferecer ao próprio artista, um agradecimento “por todos estes anos”. Segue-o há três décadas, desde o início, ainda Tony era António Antunes, nome com que foi em 1988 ao Festival da Canção. Já foi vê-lo a Paris e à Suíça. É, portanto, natural que aqui esteja. Além das flores, traz com ela uma cópia do livro. “Adoro vir. Eu e as minhas colegas que estão lá dentro”, sublinha, enquanto do outro lado da entrada do teatro as amigas do clube de fãs batem na janela, impacientes para que Manuela se junte a elas.
Na apresentação propriamente dita, e em tudo o que está à sua volta, fica no ar a ideia de que o livro, que marca os 30 anos de carreira do cantor e anuncia uma pausa na sua actividade, é um agradecimento de Tony Carreira a este tipo de fãs. "No fundo, claramente que é a minha história. Houve coisas que me marcaram emocionalmente... Dou opiniões sobre assuntos que não comentei na altura, e fazia sentido dar a minha versão dos factos. É um agradecimento às pessoas da minha equipa, e dela fazem parte tanto os técnicos, como os músicos, como o público”, declara o cantor ao PÚBLICO, no final da sessão.
A equipa inclui o público? “Claro. Temos aqui pessoas tanto de Portugal como de fora de Portugal, e é uma segunda-feira à noite. Trabalham e estão aqui. É uma entrega muito bonita, tenho plena noção do que é a vida real e tenho de agradecer a essas pessoas por tudo o que fizeram por mim, porque é a troco simplesmente de canções”, responde.
Essas canções são ouvidas nos compassos de espera. Antes da apresentação, no Jardim de Inverno do S. Luiz, grupos de fãs tiram fotografias com Tozé Brito. Ao lado, Fernanda, uma consultora imobiliária do Barreiro, diz que segue Tony "há mais de dez anos", a ir a concertos de norte a sul do país. Só ainda não foi ao estrangeiro. O principal apelo do cantor, para ela, é ele ser “uma pessoa especial” e “um ser humano incrível”, proclama pouco antes de descer para a sala principal do teatro.
Dentro da sala, há três cadeiras montadas no palco. São para Rui Couceiro, o editor da Contraponto, que lançou o livro, Manuel Luís Goucha, o apresentador da sessão, e o próprio Tony. Antes deles, chegam aos camarotes os familiares do cantor: os pais e o irmão José num deles, os filhos noutro. O público bate palmas a cada um (depois gritarão "Tony!"), à medida que vão aparecendo, sorridentes. Mickael e David levantam os polegares, acenam e sorriem para pessoas específicas da audiência, algo que claramente corre na família.
No top de vendas
Rui Couceiro anuncia que o livro entrou logo para os lugares cimeiros dos mais vendidos da Bertrand e da FNAC. As pessoas batem palmas. O editor pede ainda palmas para várias pessoas, e anuncia Manuel Luís Goucha, que chega de fato azul aberto e é o foco de um dos capítulos de O Homem que Sou.
Tony surge pouco depois, de fato cinzento claro, indo da entrada da sala até ao palco pelo meio da plateia, parando para cumprimentar algumas pessoas. Goucha explica que não sabia que era mencionado no livro quando aceitou. A história que o livro (e Goucha) conta é a de como, há mais de 20 anos, Tony Carreira foi à Praça da Alegria, o programa da RTP que o comunicador fazia na altura, e o convidou para o lançamento de um disco: este rejeitou o convite do cantor com alguma sobranceria, confessa, e durante anos Tony recusou ir aos seus programas. Fizeram entretanto as pazes.
Essa história, bem como o facto de normalmente já estar na cama às nove da noite e o evento ser demasiado tarde para ele, são tópicos recorrentes na apresentação de Goucha. As origens humildes de Tony Carreira também.
Mesmo quando não está a falar, Tony mantém o sorriso de quem sabe que as atenções estão sempre centradas em si, e que o carinho e a simpatia que quem o vem ver demonstra têm de ser recompensados.
Depois da conversa entre Goucha e o cantor, o público faz perguntas. Uma senhora levanta-se e não profere frases que acabem num ponto de interrogação. Goucha, sempre com classe, pede-lhe que se despache. No início, quando ela diz ao cantor “hoje és o rei”, o apresentador comenta: “Não sou o rei, mas sou outra coisa que acaba em ‘ei'.”
Plágio ou cabala?
A questão do plágio, do processo movido a Tony Carreira entretanto suspenso provisoriamente, vem pouco à baila. Uma das perguntadoras aborda o tema sob a perspectiva de uma cabala contra o intérprete. "Das três ou quatro vezes que fui atacado de forma intensa, senti o quanto era popular", comenta o cantor.
No seu livro, há um capítulo dedicado às acusações de 2008 sobre duas canções que eram "demasiado próximas" de outras. Foi algo que, sublinha, foi inconsciente, e uma falha que resolveu ao mudar a autoria na Sociedade Portuguesa de Autores e tratar dos direitos.
O capítulo logo a seguir é sobre a relação de amizade e colaboração com o músico cubano Rudy Pérez, autor de Después de ti...¿Qué?, canção que Carreira foi acusado de ter plagiado em Depois de ti mais nada (ambos admitem as semelhanças). A seguir, há um capítulo que começa com Pérez e culmina com a forma como Tony aceitou o acordo de pagar dez mil euros à câmara municipal da sua terra-natal, Pampilhosa da Serra, e às vítimas do incêndio de Pedrógão Grande. É aliás comum os curtíssimos capítulos do livro – que incluem muitas fotografias – começarem de uma maneira e acabarem de outra.
Carreira fala com a imprensa durante pouco tempo, antes da sessão de autógrafos para fãs impacientes. Apesar de não estarem explicitamente creditados no livro, O Homem que Sou tem outros co-autores, além de Tony. “Confesso – e não gosto de fugir da verdade – que escrevi este livro com a ajuda de duas pessoas”, revela, referindo-se ao escritor Paulo M. Morais e à ex-jornalista Cláudia Vieira Borges. “É a minha história contada com alma lá dentro”, resume o cantor.