Responsáveis do ensino superior defendem aumento do número de doutorados nas empresas

Instituições procuram ligar-se ao tecido empresarial, mas universidades e politécnicos identificam entraves de parte a parte.

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Para os reitores das universidades e presidentes dos politécnicos portugueses, a economia nacional só tem a ganhar se uma maior percentagem de doutorados se fixar no tecido empresarial. 

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Para os reitores das universidades e presidentes dos politécnicos portugueses, a economia nacional só tem a ganhar se uma maior percentagem de doutorados se fixar no tecido empresarial. 

O director da Nova School of Business, Daniel Traça, defende que o país precisa de melhorar a qualidade das empresas, mas aponta que os doutorados não estão a entrar nesse circuito. O problema, defende, está no perfil da economia, constituída por pequenas e médias empresas cuja capacidade em empregar doutorados é limitada. 

O responsável falava num debate entre os responsáveis das instituições de ensino superior portugueses, que decorreu na segunda-feira à noite, em Salamanca, à margem do IV Encontro de Reitores Universia. Uma das formas de desfazer este entrave, considera Daniel Traça, é adoptar um modelo semelhante ao da indústria do calçado, em que foram criados programas específicos para fazer chegar o conhecimento especializado às empresas.

Em resposta a um dos reptos lançados pelo jornalista do PÚBLICO Manuel Carvalho, que moderou a conversa, o reitor da Universidade do Porto Sebastião Feyo de Azevedo comentou que “a actual política de emprego científico”, embora tenha “aspectos positivos”, em “nada ajuda a integração de doutorados nas empresas”. 

Num exercício sobre energia, o reitor da Universidade de Coimbra, João Gabriel Silva, lamentou a que despende “com coisas que não eram necessárias”. Toma como exemplo as novas regras do emprego científico, cuja implementação levanta “dificuldades operacionais doidas”, num “modelo em que o Estado emprega todos os doutorados”. 

“Três mil novos doutores por ano”

Algo que, segundo a contabilidade do presidente do Instituto Superior Técnico, Arlindo Oliveira, não é possível. O país forma “três mil novos doutores por ano”, estima, sendo que, caso o sistema universitário “estivesse em renovação permanente, absorveria 500”. Desta conta resulta que a “esmagadora maioria” dos novos doutorados “tem que perceber que tem de fazer parte do sistema produtivo”. Ou seja, procurar trabalho nas empresas e não na academia.

Pegando no aspecto “energético” levantado pelo reitor de Coimbra, Feyo de Azevedo defendeu que é necessário mudar um conjunto de instrumentos para agilizar a governação das universidades, nomeadamente o Regime Jurídico das Instituições do Ensino Superior e o estatuto da carreira de docente, que “é um desastre”.

O reitor da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, António Fontainhas Fernandes, explica que é na aposta no desenvolvimento regional – ao “recentrar” a actividade no sector agrário – que reside o esforço da sua universidade em se ligar ao mundo empresarial. Uma ligação que se torna mais ágil e produz mais valor acrescentado se a UTAD formar doutorados em áreas como as do vinho, azeite ou floresta, acredita.

Também no interior, o Instituto Politécnico de Bragança (IPB) debate-se com o problema do despovoamento do território, afirma o seu presidente, João Sobrinho Teixeira. Na tentativa de estancar a hemorragia demográfica, a estratégia do IPB passa por tentar ir buscar alunos lá fora. Dos 7500 actuais estudantes, 2000 são estrangeiros, refere o responsável, mas não deve ficar por aqui. Tanto que o IPB equaciona construir lava-pés para servir alunos muçulmanos. 

O Encontro de Reitores, que juntou cerca de 600 responsáveis do ensino superior de 26 países, terminou nesta terça-feira, com a apresentação de uma carta de intenções. Para fazer face às transformações tecnológicas, a “Declaração de Salamanca” defende a flexibilização e a aplicação de métodos educativos inovadores e a reformulação dos processos administrativos e de sustentabilidade. 

Os reitores entendem também que é necessário encontrar novos modelos de certificação global e promover programas de capacitação e actualização no espaço de trabalho. É igualmente importante enfatizar a formação humanística e dos estudantes, bem como dotá-los de competências transversais, consideram.

O PÚBLICO viajou a convite do Banco Santander