Artur Santos, o jovem dândi que veste outros à sua medida
Quem pensava que o dandismo era só para Carlos da Maia e João da Ega enganou-se. Artur Santos vive no século XXI e é dândi. Criou a Art’Sartorial, uma marca que produz roupa clássica masculina por medida. Deixa o seu cunho em cada fato que cria
O bigode, só por si, já podia ser a imagem de marca. Mas tudo em Artur Santos é distintivo. Tem 31 anos, assume-se como dândi (já lá vamos) e criou a sua própria marca de roupa por medida: a Art'Sartorial.
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O bigode, só por si, já podia ser a imagem de marca. Mas tudo em Artur Santos é distintivo. Tem 31 anos, assume-se como dândi (já lá vamos) e criou a sua própria marca de roupa por medida: a Art'Sartorial.
O gosto pela imagem não é de agora, mas nada indicava que Artur iria enveredar pelo mundo do vestuário: "O futebol foi a minha primeira paixão. Com 16 anos já fazia parte da equipa do Trofense e fui alimentando o sonho", conta, ao P3, no seu atelier, em Famalicão. Mas em 2010, depois de ter estado sem receber salário durante nove meses, viu-se obrigado a procurar outra alternativa.
Foi enquanto trabalhava como consultor de imagem — curso que concluiu na Fashion School, no Porto — que encontrou uma lacuna no mercado: a falta de tamanhos adequados para os diferentes clientes. "Num pronto-a-vestir existe o protótipo de que um homem alto é forçosamente largo de ombros. Na realidade isso nem sempre acontece. Por isso, cheguei à conclusão de que [fazer roupa] à medida era a solução ideal para responder às demandas de todo o tipo de corpos", explica. Nascia assim, há cerca um ano, a Art'Sartorial.
Apesar de ser natural de Vila do Conde, foi na incubadora Famalicão Made In, em Vilarinho das Cambas, que instalou a startup e abriu o seu atelier, onde recebe os clientes. Um espaço que é uma extensão da sua própria imagem. Os chapéus pendurados na parede branca, as cores harmoniosas, os sapatos organizados de forma milimétrica, os casacos, as malas com as amostras dos tecidos — tudo espelha a importância que a apresentação tem para Artur. E tudo é reflexo do quanto o dandismo o influencia.
Não há margem para dúvidas: a Art'Sartorial dedica-se à confecção de roupa clássica masculina. Todos os fatos são idealizados por Artur, em conjunto com o cliente. Desde o tecido ao tipo de gola, tudo é escolhido neste atelier, num processo em que o freguês é também "o seu próprio estilista". As peças recuperam a tradição e transmitem o cunho pessoal do criador da marca, sem esquecer, claro, o conceito de dandismo, ao qual Artur é fiel.
Reinventar a tradição
Vestir da cabeça aos pés de forma personalizada: a linha da Art'Sartorial engloba chapéus, blazers, camisas, calças, sapatos e acessórios, tudo artesanal. E, sobretudo, exclusivo. "A exclusividade não é só ter uma peça que, provavelmente, é a única no mundo. Exclusividade também é o atendimento. Trabalho por marcação, as pessoas vêm aqui e, se for preciso, estamos uma tarde inteira a idealizar o fato", explica.
Depois da ideia, vem a criação. E é uma equipa, constituída por um alfaiate, um engenheiro têxtil e costureiras, que faz a peça. Mas o cunho pessoal de Artur continua lá, por exemplo na escolha dos materiais. Admite, entre lamentos, que prefere alguns tecidos estrangeiros: "Eu sou um apologista do made in Portugal, mas os italianos e os ingleses conseguem oferecer mais qualidade em termos de tecidos".
E as mulheres? Também podem vestir Art'Sartorial? "O conceito dândi está muito associado à área masculina", explica o criador da marca, por isso só produz para mulher "se for dentro do segmento clássico masculino". Fora isso, a Art'Sartorial cai como uma luva a qualquer pessoa: "Desde os 18 aos 65 anos, já me apareceram pessoas de todas as faixas etárias."
Quem ainda não apareceu foi Marcelo Rebelo de Sousa e era justamente para o Presidente da República que Artur gostava de fazer um fato. "Identifico-me muito com ele e acho que ele tem pinta", afirma. Além de que quer desmistificar a ideia de que apenas está habilitado a vestir dândis ou "malta que é um bocado mais arrojada". "Também consigo vestir uma pessoa obedecendo a um protocolo", assegura Artur.
No futuro, Artur deseja internacionalizar a marca: "Quero atingir mais mercados e chegar, se possível — e eu sei que é difícil — ao mundo inteiro." A internacionalização pode estar mais próxima graças a um desafio lançado pela italiana Trussardi. "Vou produzir uma peça que será vendida com um produto deles em simultâneo", explica. Para já, ainda não estão definidos os moldes em que a venda será feita, mas, para o criador da Art'Sartorial, a proposta é uma vitória. "Se há um ano me dissessem que ia despertar o interesse de uma marca como a Trussardi, se calhar não acreditava. Mas eu costumo dizer que não tenho limites e quero mais. Quero ir o mais longe possível."
Dandismo: cultivar a imagem e os valores
Mas o que é ser dândi no século XXI? Se recuássemos aos séculos XVIII e XIX, o dandismo estava associado à rejeição dos valores burgueses e ao refúgio num mundo esteticamente elegante. De George Brummell a Charles Baudelaire, o conceito foi mudando com o passar do tempo e, hoje em dia, "ser dândi é uma forma de estar e de viver", explica Artur. "É também tratar bem o próximo e ser educado, apesar de estar muito ligado à parte estética."
O jovem não é o único a identificar-se como tal: o Portuguese Dandys é um movimento — do qual é co-fundador — que une pessoas que partilham o interesse pelo dandismo. Juntos, querem "recuperar valores que se foram perdendo ao longo dos anos, talvez por causa das vidas stressantes que as pessoas têm". Ser dândi "é o todo", é aliar o culto da imagem à elegância dos comportamentos.
Isso significa que está fora de hipótese sair de casa de t-shirt e calças de ganga? "Acontece poucas vezes, mas pode acontecer", afirma Artur, entre risos. "Vestir bem — um conceito que é subjectivo — é saber adequar-se às situações. Se eu for a um estádio assistir a um jogo de futebol, obviamente não vou de fato. Até posso ir de fato de treino."
O jovem dândi não passa despercebido e sabe disso: "Eu sei que as pessoas olham, da mesma forma que eu também olho quando vejo uma pessoa cuja imagem me agrada. Óbvio que algumas pessoas olham com admiração e outras com reprovação. Mas isso não me incomoda."