O padel do Ginásio dá dores de cabeça às Águas Livres
Barulho, desrespeito pelo património, estacionamento selvagem: são estas as críticas dos vizinhos aos novos campos de padel do Ginásio Clube Português. O presidente do clube garante que tudo foi feito para minimizar impactos negativos.
Já há muito tempo que o Ginásio Clube Português ambicionava ter um parque de estacionamento maior junto às suas instalações da Rua das Amoreiras, em Lisboa. Quando essa pretensão começou a ser bem vista pelas entidades oficiais, a direcção do clube aproveitou para remodelar a zona de jogos, por baixo da qual o parque foi construído. Transformou-se um campo de futebol em quatro campos de padel e construíram-se mais dois campos desta modalidade num espaço verde que havia mais acima. O parque abriu, os campos começaram a funcionar. Os moradores da vizinhança queixam-se agora de não terem sossego.
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Já há muito tempo que o Ginásio Clube Português ambicionava ter um parque de estacionamento maior junto às suas instalações da Rua das Amoreiras, em Lisboa. Quando essa pretensão começou a ser bem vista pelas entidades oficiais, a direcção do clube aproveitou para remodelar a zona de jogos, por baixo da qual o parque foi construído. Transformou-se um campo de futebol em quatro campos de padel e construíram-se mais dois campos desta modalidade num espaço verde que havia mais acima. O parque abriu, os campos começaram a funcionar. Os moradores da vizinhança queixam-se agora de não terem sossego.
Na Praça das Águas Livres, que fica paredes meias com o Ginásio, residentes de vários prédios dizem que o ruído dos jogos de padel os incomoda até à meia-noite, hora a que quatro dos seis campos fecham. “Há aqui três problemas. O mais grave, sem dúvida nenhuma, é o barulho”, afirma António Coelho, administrador de condomínio do emblemático Bloco das Águas Livres. “Aos sábados já era frequente acordar a ouvir as aulas de bodypump. Agora os vizinhos do terceiro dizem que ouvem as batidas de manhã à noite”, comenta Pedro Pereira, administrador de outro condomínio da praça.
O padel é uma modalidade que se assemelha ao ténis, mas pratica-se em campos mais pequenos e fechados, uma vez que as paredes se podem usar durante os jogos para fazer tabelas. É, por isso, mais barulhento do que o ténis. Mas não tanto que deva deixar irritada a vizinhança, diz o presidente do Ginásio. “Tivemos o cuidado de fazer testes de som para saber se estaríamos dentro de todos os parâmetros. Os nossos resultados apontam sempre para decibéis abaixo do nível da lei”, garante Manuel Cavaleiro de Ferreira.
O dirigente diz que, ainda assim, na sequência de “várias conversas com a câmara de Lisboa e com os moradores”, foram já adoptadas algumas medidas. “Achámos por bem que os campos superiores só poderão funcionar até às dez da noite”, diz Cavaleiro de Ferreira, acrescentando ainda a proposta de pôr trepadeiras e plantar mais árvores junto aos campos para diminuir o ruído. A câmara ficou de analisar, mas ainda não terá respondido.
“As trepadeiras e as árvores minimizam o impacto visual, mas não o barulho”, considera António Coelho. Esse é o segundo problema identificado pelos moradores. Foi posta uma cobertura verde por cima de três campos que vieram ocupar o antigo recinto de futebol e está agora a ser posta outra sobre os campos de ténis, situados logo ao lado. Com o Aqueduto das Águas Livres, que é um monumento nacional, ali colado, e dado que o próprio Bloco das Águas Livres é também monumento de interesse público (desde 2012), todas as obras, incluindo as coberturas, tiveram de ser aprovados pela Direcção-Geral de Património Cultural (DGPC).
E foram: esta entidade deu indicações sobre o tipo de material a usar e a posição exacta das coberturas, acabando por aprovar o projecto em Maio de 2017, considerando que a sua colocação “não impede a leitura e fruição visual da envolvente patrimonial”.
“O que me choca mais é o barulho, mas depois venho cá fora, vejo as coberturas e já não sei o que é pior – se o barulho, se este desrespeito por dois monumentos”, opina António Coelho, que dá o exemplo do prédio de que é administrador. “O facto de este edifício ser classificado traz-nos responsabilidades. Não podemos mudar um prego, pintar uma fachada sem autorização da DGPC. Mas depois são eles próprios que promovem a desvalorização da praça e dos dois monumentos.”
Manuel Cavaleiro de Ferreira contrapõe que “a questão estética é muito subjectiva” e que o Ginásio teve a preocupação de pôr coberturas verdes “para dar a ideia de ser um espaço verde”. “Fizemos todos os esforços para que ficasse o mais bonito possível”, afirma o presidente do clube.
O dirigente explica que, na origem de todas as opções, esteve a vontade de dar novo fôlego ao clube. “O Ginásio chegou a ter 12 mil sócios e hoje estamos com nove mil. Tínhamos 50 lugares de estacionamento e estava-se a tornar cada vez mais caótico. Provocava um caos enorme na Rua das Amoreiras”, diz Cavaleiro de Ferreira. Com a abertura do parque subterrâneo com 204 lugares e a aposta no padel, “já se está a notar uma subida de praticantes”, assegura. E acrescenta que “a infra-estrutura é benéfica para a cidade”, pois antes o que havia era “um estacionamento selvagem”.
Uma visão que, mais uma vez, é contrariada por António Coelho e outros moradores. “O parque é caríssimo. As pessoas vêm estacionar aqui”, diz, alegando que a selvajaria passou de lá de baixo para a Praça das Águas Livres.
Estas críticas, no entanto, não são partilhadas por todos os condóminos. Américo Pereira, que também mora no Bloco e é sócio do Ginásio, afirma que o impacto visual dos campos e das coberturas não o incomoda e rebate a principal queixa da administração. “Não oiço barulho, sequer. Se estiver muito atento e à varanda, é evidente que oiço o barulho do padel, como oiço o dos carros, dos passarinhos, das obras, dos aviões”, afirma, desafiando os administradores a fazer medições de ruído primeiro e só depois tirar conclusões.
António Coelho diz que ainda não se fizeram essas medições, mas que isso está já combinado entre os responsáveis dos vários prédios. E critica o silêncio da autarquia, da qual não obtêm respostas há meses. “Não compreendo como a câmara autoriza uma obra destas, em cima da casa das pessoas.” Contactado pelo PÚBLICO, o município não respondeu em tempo útil.