Só a Letónia está pior do que Portugal no comércio electrónico
AICEP lança programa Exportar Online para ajudar as empresas portuguesas a aumentar a sua visibilidade nos canais de venda por vias digitais. Há mais de 900 milhões de consumidores internacionais online.
Mais do que uma oportunidade, a entrada das empresas portuguesas no mercado global online é quase uma obrigação - a confirmarem-se as tendências que caminham para um futuro não muito longínquo em que as compras se farão sobretudo através da internet. E é, seguramente, uma necessidade se o objectivo das empresas for crescer nos mercados internacionais. No seminário organizado esta segunda-feira pela Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP) e no qual foi apresentado o novo programa Exportar Online, foi ao director da Google Portugal que coube, numa frase deixada solta durante o debate, ilustrar que Portugal ainda não está nada bem na fotografia.
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Mais do que uma oportunidade, a entrada das empresas portuguesas no mercado global online é quase uma obrigação - a confirmarem-se as tendências que caminham para um futuro não muito longínquo em que as compras se farão sobretudo através da internet. E é, seguramente, uma necessidade se o objectivo das empresas for crescer nos mercados internacionais. No seminário organizado esta segunda-feira pela Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP) e no qual foi apresentado o novo programa Exportar Online, foi ao director da Google Portugal que coube, numa frase deixada solta durante o debate, ilustrar que Portugal ainda não está nada bem na fotografia.
“A penetração do e-commerce em Portugal é apenas de 36%. E, das compras que são feitas por via electrónica, 81% são feitas em sites não portugueses. Estes são os segundos números mais baixos da Europa. Pior que Portugal, só a Letónia”, disse Bernardo Correia, country manager da Google Portugal. Luís Castro Henriques presidente da AICEP já tinha dado uma ideia de que Portugal não estava assim tão avançado neste segmento de mercado, ao lembrar que “apenas 39% das empresas portuguesas tem presença online e só 27% fazem negócio através da Internet”. “O que quer dizer que 60% das empresas nacionais ainda continua no século XX”, concluiu.
Mas o século XXI já vai em velocidade cruzeiro, como se pode depreender da apresentação deixada por Wijnand Jongen, o holandês que assume a presidência executiva do E-Commerce Europa, a organização europeia do sector. Os grandes centros comerciais online já estão instalados e há gigantes como a Amazon, que já garantiu uma quota de mercado de cerca de 40% de todas as transacções electrónicas mundiais. Na verdade, se pensarmos em proporções dos marketplaces, por cada 5 na Europa há 25 na China e o resto está tudo nos Estados Unidos”.
Usar estas grandes plataformas online, como a Amazon, o E-Bay ou o Alibaba são uma opção viável, mas, recordou Wijnand Jongen, elas são como os distribuidores tradicionais, têm um custo, cobram uma margem. E, no caso da Amazon, até têm marcas próprias, fazem concorrência com os seus próprios produtos, como relembrou Fernando Aparício, membro de uma consultora que desenvolve projectos de internacionalização digital para as empresas, a AMVOS.
“O melhor é cada um ter a sua própria montra online, conhecer a sua audiência, responder aos seus consumidores”, como defendeu Bernardo Correia. Mas há casos, como o da Adidas, que fechou algumas das suas lojas físicas em todo o mundo, para dar mais atenção a uma loja própria que abriu dentro da Amazon. O pacote básico da Alibaba, que permite a qualquer comerciante expor um número ilimitado de produtos - mas que dá montra privilegiada a apenas 5 - custa cerca de 1400 euros por ano. "É um custo que qualquer empresa pode suportar", recordou Fernando Aparício. Na Ebay, as empresas pagam consoante o número de produtos que vendem, garantiu Daniel Yglesias, director da marca para os mercados de Portugal, Espanha e Itália.
Há vários modelos de negócio, portanto. Mas, se o século XXI está instalado, ouvindo Jongen é melhor ninguém se esquecer das melhores práticas que se usava ainda no século XX: “Lembram-se da senhora na mercearia que conhecia todos os clientes, o que cada um costumava comprar e sabia o que eles queriam mal lhe entravam porta dentro? As pessoas gostam de ser bem tratadas, de serem conhecidas”, recordou.
Há, pois, coisas que não mudam, e o mais importante de tudo é ter um bom produto para vender que responda às necessidades de consumidores, seja em Portugal, seja do outro lado do Mundo. A vantagem do comércio electrónico é eliminar barreiras e permitir aos empresários portugueses pensarem em grande. “Não pensem num mercado de 10 milhões. Juntem-lhe mais dois zeros e já estarão mais próximos do vosso mercado potencial”, disse Bernardo Correia.
O comércio internacional via e-commerce deverá triplicar até 2021, de 300 mil para 900 mil milhões de dólares (de 254,8 mil para 764,4 mil milhões de euros), com mais de 900 milhões de consumidores internacionais online. O Ministro do Estado e dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, que presidiu à abertura da sessão recusou a ideia de que Portugal estaria em desvantagem nesta “corrida”. Pelo contrário, referiu-se na sessão que nesta revolução industrial (a da digitalização da economia), as empresas portuguesas partiam com a mesma vantagem das grandes multinacionais. E insistiu que o Governo continua a acreditar na meta de conseguir que o peso das exportações no PIB nacional chegue aos 50% - está, actualmente nos 43%.
O trabalho que a AICEP se propõe a fazer, com o programa Exportar Online é, em cinco eixos de actuação, ajudar as empresas a acederem a informação do mercado, a formarem quadros para usarem estes instrumentos e, sobretudo, a responderem à pergunta inicial “será que vale a pena meter-me nisto?”. Só depois virá o apoio às empresas. Até ao final do ano, deverá surgir uma nova linha de financiamento, no âmbito do sistema de incentivos a lançar pelo Compete, destinada especificamente à internacionalização digital das empresas. “Primeiro vamos ver qual é a necessidade das empresas, depois veremos qual é a dimensão dessa linha”, limitou-se a afirmar o ministro, já à margem da sessão.