Cinco camiões com jóias e malas de luxo arrasam antigo primeiro-ministro da Malásia

Najib Razak perdeu as eleições de 9 de Maio, ao fim de nove anos no poder. Desde esse dia assistiu à reabilitação do maior rival, foi associado a um homicídio e a polícia encontrou em sua casa 284 caixas com bolsas de luxo e 72 malas cheias de jóias e dinheiro.

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Durante os últimos nove anos, Najib Razak liderou o Governo da Malásia como se fosse a mais recente encarnação do único modelo de primeiro-ministro que o país conhecera desde a independência – fosse qual fosse o nome do eleito, essa tarefa ia sempre para o líder da coligação de direita Barisan Nasional, no poder desde as primeiras eleições, em 1957, sob essa ou outras designações.

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Durante os últimos nove anos, Najib Razak liderou o Governo da Malásia como se fosse a mais recente encarnação do único modelo de primeiro-ministro que o país conhecera desde a independência – fosse qual fosse o nome do eleito, essa tarefa ia sempre para o líder da coligação de direita Barisan Nasional, no poder desde as primeiras eleições, em 1957, sob essa ou outras designações.

Mas tudo isso mudou em apenas nove dias, entre 9 e 18 de Maio. Não só o todo-poderoso Barisan Nasional foi varrido do poder de uma forma tão inesperada quanto expressiva, como a queda de Najib Razak neste curto período continua a redefinir a noção de uma descida ao inferno: em pouco mais de uma semana, viu o seu maior rival político ser libertado da prisão, foi proibido de sair do país por suspeitas de corrupção e viu a polícia arrastar de uma das suas casas de luxo 284 caixas com bolsas das marcas mais caras e 72 malas cheias de jóias e dinheiro.

"Não sei dizer ao certo quantas jóias. Só sei que confiscámos malas com jóias, com muitas jóias", disse o responsável pela brigada de criminalidade comercial da Malásia, Amar Singh, enquanto os seus agentes empilhavam malas e mais malas em cinco camiões perante o olhar de jornalistas às portas do condomínio de luxo Pavillion Residences, em Kuala Lumpur, onde um apartamento pode custar seis milhões de euros, num país onde o salário mínimo ronda os 200 euros mensais.

Investigado em seis países

Há anos que Najib Razak e a reputação de político impoluto e honesto tinham optado por caminhos distintos, mas ninguém conhecia a verdadeira dimensão da fortuna que o ex-primeiro-ministro amealhou com um salário a rondar os 8000 euros por mês, e estando proibido por lei de investir em negócios ou acções.

Razak sempre desmentiu as acusações de fraude e corrupção, que foram arquivadas pelo Ministério Público da Malásia. Mas o seu nome continua preso a processos em seis países, incluindo nos Estados Unidos, por suspeitas de ter embolsado o equivalente a 4000 milhões de euros de um fundo de investimento estatal criado por ele em Julho de 2009, três meses depois de ter vencido as eleições, e de que ele era presidente.

Ao perder as eleições de forma estrondosa no dia 9 de Maio, às mãos do seu antigo mentor Mahathir Mohamad, um homem de 92 anos que governou a Malásia com mão de ferro entre 1981 e 2003, Najib Razak perdeu também a sua apólice de seguros contra a desgraça política e a humilhação pública. Desde sexta-feira, as redes sociais mais usadas na Malásia têm-se enchido de piadas e de fotografias de Razak e da sua mulher, Rosmah Mansor, sentados numa cadeira numa das outras cinco casas do casal onde a polícia entrou para fazer buscas.

Mansor, comparada no seu país à antiga primeira-dama das Filipinas Imelda Marcos devido ao gosto por artigos de luxo, em particular malas Hermès Birkin no valor de centenas de milhares de euros, pediu que não se fizessem "julgamentos públicos prematuros".

Numa declaração feita através dos seus advogados, Rosmah Mansor acusou as novas autoridades do país de permitirem fugas de informação que são depois aproveitadas por "trolls das redes sociais". "Apesar dos tempos muito duros que se abateram sobre nós, iremos continuar a colaborar com qualquer investigação e estaremos disponíveis para as autoridades", disse Mansor.

Já o seu marido e ex-primeiro-ministro tem assumido uma postura mais reservada, dando conta dos seus primeiros dias do Ramadão deste ano através do Twitter. Numa dessas mensagens, publicada um dia antes das rusgas da polícia, Najib Razak citou uma passagem de um importante hadith (registo das palavras e acções de Maomé e dos seus companheiros): "Quem reza à noite durante o Ramadão com fé e esperança na recompensa, verá os seus pecados anteriores perdoados."

A vingança do rival

Mas a fúria do novo Governo de Mahathir Mohamad contra Najib Razak parece não encontrar consolo nas investigações sobre corrupção – e não é apenas o novo primeiro-ministro quem deseja ver o antecessor atrás das grades. Ou pior.

Este sábado, o maior rival político de Razak, Anwar Ibrahim, acabado de sair da prisão graças a um indulto real apoiado pelo novo primeiro-ministro, disse que a Justiça deve reabrir o caso do assassínio de uma modelo da Mongólia em 2006, a que o nome de Razak esteve associado. Na altura, dois polícias foram condenados à morte, mas Razak nunca se livrou das suspeitas de envolvimento – o seu conselheiro próximo, Abdul Razak Baginda, chegou a ser acusado de cumplicidade no assassínio, mas foi ilibado pelo Supremo em 2008, quando Najib Razak era vice-primeiro-ministro.

A declaração de Anwar Ibrahim sobre o assassínio da modelo Shaariibuugiin Altantuyaa pode também ser vista como o seu momento de vingança ao fim de anos na prisão, por sodomia, que ele diz terem sido orquestrados por Najib Razak para o afastar da política.

Vindo do nada, um dos polícias condenados à morte pelo assassínio da modelo, que fugiu às autoridades e está detido num centro de imigração na Austrália, disse este sábado numa entrevista a um site da Malásia que está "disposto a ajudar o novo Governo a descobrir o que realmente aconteceu", desde que o novo Governo lhe conceda um "perdão total".