O rebranding da coroa
A secular e conservadora coroa britânica está a mudar e curiosamente, ao contrário do povo, que votou pelo Brexit, não quer isolar-se do mundo.
Uma criança que cresça num agregado familiar chefiado por alguém pertencente a uma minoria étnica tem 41,9% de probabilidades de viver em pobreza contra 24,5% das crianças que vivem com uma família branca. O incêndio numa torre de apartamentos, maioritariamente habitado por imigrantes, em junho do ano passado, fez 71 mortos e a primeira-ministra demorou mais de 24 horas a deslocar-se ao local e evitou falar com algum dos sobreviventes. A ministra do Interior, provável sucessora de Theresa May, demitiu-se depois de admitir ter "inadvertidamente enganado" uma comissão parlamentar sobre "quotas de deportação de imigrantes clandestinos".
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Uma criança que cresça num agregado familiar chefiado por alguém pertencente a uma minoria étnica tem 41,9% de probabilidades de viver em pobreza contra 24,5% das crianças que vivem com uma família branca. O incêndio numa torre de apartamentos, maioritariamente habitado por imigrantes, em junho do ano passado, fez 71 mortos e a primeira-ministra demorou mais de 24 horas a deslocar-se ao local e evitou falar com algum dos sobreviventes. A ministra do Interior, provável sucessora de Theresa May, demitiu-se depois de admitir ter "inadvertidamente enganado" uma comissão parlamentar sobre "quotas de deportação de imigrantes clandestinos".
Isto tudo se passou (e passa) no Reino Unido, país que hoje estará nos holofotes mediáticos por causa de um casamento real. E é por isso que é importante falar-se do casamento de Harry, o sexto na sucessão ao trono britânico, com Meghan Markle, uma atriz norte-americana de 32 anos. A noiva do príncipe será a primeira afro-descendente a entrar na família real, a homilía vai ser feita conjuntamente pelo reverendo Michael Bruce Curry, o primeiro afro-americano a presidir a um bispado, e Meghan vai ser levada ao altar pelo braço do (talvez) futuro rei de Inglaterra. Apesar de todas as críticas que se podem fazer à coroa britânica, esta dá um exemplo de abertura e inclusão (e quer sublinhá-lo muito claramente) numa sociedade que agradece bons exemplos. “Os Windsors vão misturar o seu fino sangue azul e os Spencer a sua pele pálida e cabelo ruivo com um DNA rico e exótico”. É normal ler isto na imprensa britânica em pleno séc. XXI? Não, não pode ser.
Numa altura em que 68% dos britânicos ainda preferem a monarquia, este casamento representa também um rebranding da coroa ou talvez a sua continuidade. Como Richard Fitzwilliams, especialista na monarquia britânica, explica ao PÚBLICO, “não há dúvida que, no futuro, o círculo interno da família real será [constituído por] William e Kate, Harry e Meghan e, claro, os filhos.” O objetivo é “adelgaçar” a Casa Real e concentrá-la na jovem geração que quer ser o mais igual possível aos jovens da sua idade. A secular e conservadora coroa britânica está a mudar e curiosamente, ao contrário do povo, que votou pelo Brexit, não quer isolar-se do mundo.