A camada de ozono está a ser destruída por emissões misteriosas
Declínio de substâncias que destroem a camada de ozono abrandou 50% desde 2012. Não se sabe ao certo de onde vêm estas emissões, mas se continuarem vão atrasar a recuperação do buraco da camada de ozono.
Em forma de aerossóis ou refrigerantes, os clorofluorocarbonetos (CFC) foram identificados nos anos 80 como os responsáveis pelo buraco da camada de ozono. Por isso, vários países comprometeram-se a substitui-los. Agora, cientistas dos Estados Unidos, Holanda e Reino Unido voltaram a medir as concentrações de CFC na atmosfera e ficaram surpreendidos. A taxa de declínio de um tipo de CFC na atmosfera – o CFC-11 – abrandou cerca de 50% desde 2012. A equipa sugere num artigo científico publicado esta quinta-feira na revista Nature que estas emissões se devam a novas fontes. Suspeita-se de que essas emissões sejam ilegais e possam vir do Leste asiático.
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Em forma de aerossóis ou refrigerantes, os clorofluorocarbonetos (CFC) foram identificados nos anos 80 como os responsáveis pelo buraco da camada de ozono. Por isso, vários países comprometeram-se a substitui-los. Agora, cientistas dos Estados Unidos, Holanda e Reino Unido voltaram a medir as concentrações de CFC na atmosfera e ficaram surpreendidos. A taxa de declínio de um tipo de CFC na atmosfera – o CFC-11 – abrandou cerca de 50% desde 2012. A equipa sugere num artigo científico publicado esta quinta-feira na revista Nature que estas emissões se devam a novas fontes. Suspeita-se de que essas emissões sejam ilegais e possam vir do Leste asiático.
Em 1985, descobriu-se um buraco na camada de ozono sobre a Antárctida. Na altura, os cientistas perceberam que os químicos sintéticos CFC, usados em aerossóis, refrigerantes, solventes ou na produção de espuma rígida de empacotamento, eram os culpados pela destruição do ozono estratosférico. Esta camada é fundamental para os seres vivos porque absorve mais de 95% da radiação ultravioleta proveniente do Sol. Era necessária uma resposta a este problema. Portanto, em 1987, 150 países assinaram um tratado – o Protocolo de Montreal – em que se comprometiam a eliminar a produção destes gases.
“Como resultado destas acções, a concentração de CFC na atmosfera atingiu um pico em meados e finais dos anos 90 e tem vindo constantemente a descer desde então”, refere Michaela Hegglin, da Universidade de Reading (Reino Unido) e que não participou no trabalho, num comentário ao artigo científico também na Nature. “Como a destruição de CFC na estratosfera é um processo lento, a sua remoção da atmosfera levará muitas décadas.”
Equipas de cientistas têm vindo a comunicar algumas melhorias na camada de ozono. No final de 2017, a NASA revelava que o buraco da camada de ozono sobre a Antárctida encolheu para o menor tamanho desde 1988. Este assunto foi também uma das boas notícias no segundo aviso dos cientistas à humanidade.
Agora há más notícias relacionadas com um tipo de CFC, o CFC-11, também conhecido como triclorofluorometano. É um dos CFC que foram desenvolvidos para os refrigerantes nos anos 30 e também é usado em aerossóis ou solventes. Quando é libertado, pode permanecer 50 anos na atmosfera e era o segundo gás que destruía o ozono mais abundante na atmosfera. Mas, entre 2002 e 2012, conseguiu-se que as suas concentrações diminuíssem.
Vamos então às novas notícias: a partir de 2012, verificou-se que o seu declínio abrandou cerca de 50%. “Temos vindo a fazer medições há mais de 30 anos e isto é do mais surpreendente que temos visto”, reage Stephen Montzka, da agência dos oceanos e da atmosfera dos EUA (NOAA) e um dos autores do trabalho, ao jornal The Washington Post. “As emissões [deste CFC] foram mais altas cerca de 25% em 2014 do que entre 2002 e 2012”, frisa por sua vez ao PÚBLICO Michaela Hegglin.
O aumento das emissões de CFC-11 foi detectado em plumas de ar no Observatório de Mauna Loa, no Havai. No artigo científico, sugere-se que é provável que estas emissões estejam a ser lançadas no Leste asiático. Mas não é a única opção considerada pelos cientistas no artigo: “Embora esta prova [das plumas] sugira fortemente que o aumento das emissões venha do Leste asiático depois de 2012, mudanças no período de vida do CFC-11 ou da dinâmica nas trocas entre as estratosfera e a troposfera poderão influenciar a magnitude das emissões.” Ainda se refere que o aumento das demolições de edifícios que tinham antigos resíduos de CFC-11 ou uma produção acidental poderão ter causado a emissão desta substância. Contudo, isto não justificaria o aumento registado nos últimos anos.
Atrasos na recuperação
Além disso, a equipa salienta que o aumento destas emissões não foi reportado ao Programa das Nações Unidas para o Ambiente, que administra o Protocolo de Montreal. “Qualquer produção de um gás relacionado com o declínio da camada de ozono que é controlado pelo Protocolo de Montreal tem de ser reportado para o Secretariado do Ozono e, actualmente, a produção global é praticamente zero. Não sabemos de nenhuma produção, mesmo de produtos intermediários ou secundários”, indica à BBC Stephen Montzka.
Estes resultados podem assim colocar em causa o acordo estabelecido no Protocolo de Montreal. Segundo a BBC, o tratado indicava que a produção de CFC-11 devia ser proibida dos países desenvolvidos em meados dos anos 90 e no resto do mundo em 2010. “A nova dinâmica dos CFC-11 na atmosfera é, de facto, inconsistente com o que foi acordado no Protocolo de Montreal”, considera Michaela Hegglin. “Toda a produção e uso, incluindo nos países em desenvolvimento, devia ter parado em 2010. O abrandamento no declínio implica que a emissão de CFC-11 esteja a aumentar outra vez.”
Keith Weller, porta-voz do Programa das Nações Unidas para o Ambiente, refere em comunicado que estes resultados têm de ser verificados pelo painel científico do protocolo. “Se estas emissões continuarem inalteradas, têm o potencial de desacelerar a recuperação da camada de ozono”, afirma. “Portanto, é crítico que façamos um balanço destes resultados, identifiquemos as causas destas emissões e que tomemos as medidas necessárias.”
Michaela Hegglin concorda: “Precisaremos de tomar mais medidas, especialmente no Sudeste asiático, para conseguirmos identificar a localização exacta das fontes das emissões, juntamente com modelos que ajudarão a rastrear as massas de ar e os seus movimentos.”
A cientista traça-nos ainda dois cenários sobre as emissões de CFC-11, um mais optimista e outro mais pessimista. “Se as emissões pararem em breve, então não haverá grandes consequências, o impacto do ozono na atmosfera poderá ser mínimo”, explica. “Contudo, se estas emissões continuarem, o CFC-11 poderá acumular-se na atmosfera outra vez e atrasar a recuperação da camada de ozono até meados ou finais do século XXI.” Stephen Montzka salienta o mesmo à BBC: “Se as emissões continuarem a persistir, então podemos imaginar que a cicatrização da camada de ozono, que recuperou, poderá atrasar-se em uma década.”