Bitcoin gastará 0,5% da electricidade mundial até ao fim do ano, alerta economista
Os dados foram publicados na revista científica Joule. Parte do objectivo é alertar para o impacto ambiental da tecnologia.
É preciso muita electricidade para criar e manter em funcionamento as bitcoins, as primeiras e mais populares criptomoedas, e os gastos energéticos podem vir a subir este ano para 0,5% de toda a electricidade utilizada a nível mundial, alerta o estudo de um economista.
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É preciso muita electricidade para criar e manter em funcionamento as bitcoins, as primeiras e mais populares criptomoedas, e os gastos energéticos podem vir a subir este ano para 0,5% de toda a electricidade utilizada a nível mundial, alerta o estudo de um economista.
Os dados foram publicados nesta quarta-feira na revista científica Joule. O autor, Alex de Vries, assume que a informação existente é pouca, mas estima que estas moedas já gastem, pelo menos, 2,55 gigawatts por ano (perto do total que a Irlanda gasta em electricidade). Até ao final do ano, o valor deve subir até aos 7,7 gigawatts. “Para mim, metade de 1% da energia mundial é chocante”, escreve Vries num comunicado que acompanha a análise. “Este aumento não vai ajudar a chegar aos nossos objectivos de impedir as alterações climáticas.”
Novas bitcoins são criadas periodicamente, a cerca de cada dez minutos, de forma automática, por uma rede de computadores que competem para resolver uma tarefa computacional essencial para manter o próprio funcionamento da blockchain, a base de dados que regista todas as transacções. O computador mais rápido a resolver aquela tarefa recebe novas bitcoins. O misterioso criador da bitcoin, Satoshi Nakamoto, comparou o processo com a extracção de ouro (mining, no inglês). “Só que, no nosso caso, gastamos tempo do processador e electricidade”, lê-se no seu artigo de 2008 sobre a tecnologia. A lógica é recompensar o computador que mais gastou energia, mas mesmo os utilizadores que não obtêm bitcoins gastam electricidade e poder computacional neste processo.
Para Vries, é fundamental determinar o gasto energético com bitcoins e criar políticas adequadas. “Se alguém quer uma fatia maior, tem de aumentar a electricidade gasta. Isto é um grande incentivo para as pessoas aumentarem o dinheiro que gastam em electricidade e em máquinas”, explica o autor, que pretende criar uma forma clara de descobrir quando a troca de electricidade por bitcoins deixa de ser vantajosa.
O problema, porém, é que os chamados “mineiros de bitcoins" tendem a ser bastante reservados sobre o processo, dificultando estimativas. “Temos visto várias contas por alto, mas precisamos de mais discussão sobre o futuro da rede da bitcoin. De momento, a informação disponível é bastante fraca”, escreve Vries. “Espero que aquilo que fiz sirva de base para investigações futuras.” O seu site, o Digiconomist, também foi criado com o objectivo de melhor informar os utilizadores de criptomoedas sobre o impacto das divisas.
As necessidades energéticas da bitcoin tendem a receber significativamente menos atenção do que o seu preço, que no final de 2017 rondava os 19 mil dólares em alguns bolsas e que, no último mês, tem variado entre os oito mil e os nove mil dólares, segundo dados do site especializado Coindesk.
Vries nota ainda que alguns estados nos EUA já têm restrições para a criação de bitcoin, e diz que se o preço da bitcoin continuar a subir é possível que a rede passe a consumir até 5% do total de electricidade mundial num dado momento. “De momento, não há uma estratégia definida, e comum, para estimar o consumo de energia [com bitcoins]. Quero abrir a conversa”, frisa Vries. “Para já, porém, a bitcoin é um problema grande e está a crescer rápido.”