Os pais têm sempre um “dedinho que adivinha”
Este "dedinho que adivinha" é assim uma espécie de entidade superior que vive dentro do coração dos pais e que nos descansa. Mas, por vezes, torna-os um bocadinho sufocantes
É invariável, por muito que os filhos tentem esconder a jarra partida, a lágrima no canto do olho, uma negativa ou até as borboletas na barriga do primeiro amor, os pais têm sempre um sexto sentido apuradíssimo, que tão carinhosamente apelidam de "o dedinho que adivinha", que consegue descobrir até o tesouro mais bem escondido dentro do coração dos filhos.
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É invariável, por muito que os filhos tentem esconder a jarra partida, a lágrima no canto do olho, uma negativa ou até as borboletas na barriga do primeiro amor, os pais têm sempre um sexto sentido apuradíssimo, que tão carinhosamente apelidam de "o dedinho que adivinha", que consegue descobrir até o tesouro mais bem escondido dentro do coração dos filhos.
Este "dedinho que adivinha" é assim uma espécie de entidade superior que vive dentro do coração dos pais e que nos descansa, pois não fosse este dedinho e todos os filhos se sentiriam assim um bocadinho mais sozinhos, um bocadinho mais abandonados.
Esta capacidade que os pais têm de adivinhar o que vai dentro dos filhos, por muito que eles protestem com este lado acutilante das mães, traz a todos os filhos uma certa sensação de segurança, de bem-estar, e faz com que estes filhos parem e pensem qualquer coisa como: “Os meus pais não só gostam muito de mim, como conseguem adivinhar sempre o que se passa cá dentro.” Isto, se equilibrado com o respeito pelo espaço de cada filho, é assim uma forma de assegurar, de proteger e de criar uma ponte de cumplicidade com os filhos, como quem, ao mesmo tempo que dá espaço, está sempre lá para amparar qualquer dificuldade, mesmo que um filho não seja capaz de a revelar.
A única coisa que nos preocupa nos "dedinhos que adivinham" é que, por terem uma sensibilidade fora do vulgar em tudo o que acontece aos filhos, estes pais, por vezes na ânsia de acalmar tudo, resvalam para um lado um bocadinho sufocante. Como se, a todo o momento, a todo o instante, eles devessem estar a par do que se passa com os filhos e fossem capazes de solucionar todos os seus problemas. É importante que, por entre a sua sensibilidade, os pais sejam capazes de dar espaço aos filhos. Que, mesmo sabendo exactamente como se soluciona uma ou outra situação, sejam capazes de deixar que sejam os filhos a solucionar as situações. Que saibam ficar numa espécie de apoio de retaguarda, deixando ser os filhos a ir a jogo, a tentar, a arriscar e a conseguir.
Assim, de “dedinho que adivinha” em “dedinho que adivinha”, temos pais cada vez melhores, temos filhos cada vez mais seguros, mais tranquilos e mais felizes. Temos a certeza que, não fosse o “dedinho que adivinha”, e todos nos sentiríamos mais incompreendidos. Por isso mesmo, todas os pais com um “dedinho que adivinha” deviam ser distinguidos com medalha de mérito, pois, ao mesmo tempo que impulsionam os filhos para os seus desafios, colocam uma almofadinha em todas as suas quedas.