Senado conclui que "não há dúvidas" de que a Rússia interferiu nas eleições para ajudar Trump

“O esforço russo foi extenso, sofisticado, e ordenado pelo próprio Presidente Putin com o propósito de ajudar Donald Trump e prejudicar Hillary Clinton”, concluiu a Comissão de Serviços Secretos do Senado.

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À direita, Donald Trump Jr., filho mais velho do Presidente norte-americano REUTERS/SHANNON STAPLETON/ARQUIVO

A Comissão de Serviços Secretos do Senado concluiu nesta quarta-feira que “não há dúvidas” de que a Rússia tentou interferir nas eleições presidenciais norte-americanas de 2016 com o objectivo de favorecer a campanha do agora Presidente Donald Trump.

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A Comissão de Serviços Secretos do Senado concluiu nesta quarta-feira que “não há dúvidas” de que a Rússia tentou interferir nas eleições presidenciais norte-americanas de 2016 com o objectivo de favorecer a campanha do agora Presidente Donald Trump.

Depois de ouvir à porta fechada vários responsáveis das agências de informação norte-americanas, os líderes da comissão, o republicano Richard Burr e o democrata Mark Warner, emitiram um comunicado onde dizem que concordam com as conclusões das agências sobre a investigação à alegada interferência russa: “A nossa equipa concluiu que as conclusões [das agências de informação] eram precisas e estavam no ponto.”

“O esforço russo foi extenso, sofisticado, e ordenado pelo próprio Presidente Putin com o propósito de ajudar Donald Trump e prejudicar Hillary Clinton”, continua o senador Warner no comunicado.

Esta conclusão pode contrariar a da Comissão de Serviços Secretos da Câmara dos Representantes que, em Março, encerrou o seu inquérito por não terem encontrado "nenhum indício de conluio". Esta comissão concluiu que existiu uma tentativa de interferência por parte de Moscovo mas que não há provas de que essa ingerência tivesse sido feita em coordenação com a campanha de Trump ou com o objectivo de prejudicar ou beneficiar qualquer candidato.

Agora, a comissão do Senado conclui algo diferente, mas ainda não chegou a nenhum veredicto sobre o possível conluio entre Trump e o Kremlin.

Comprometer Clinton

A Comissão Judicial do Senado norte-americano divulgou esta quarta-feira milhares de documentos da investigação a um encontro entre vários responsáveis da então campanha Trump e uma advogada russa. Os testemunhos obtidos durante o inquérito parecem confirmar que o filho do Presidente norte-americano, Donald Trump Jr., aceitou o encontro na esperança de vir a ter acesso a informação comprometedora sobre Hillary Clinton, tal como já havia sido noticiado anteriormente.

Rob Goldstone, promotor musical, foi quem fez a ligação com o filho de Trump e combinou o encontro que viria a ocorrer em Junho de 2016 na Trump Tower de Nova Iorque. Goldstone diz que foi contactado por Emin Agalarov, um músico russo, que insistiu na realização da reunião. Apesar disso, Goldstone defendeu que o encontro era “má ideia”.

No centro da proposta estava a advogada russa com ligações ao Kremlin Natalia Veselnitskaia, que assegurava ter informação comprometedora sobre a candidata democrata que poderia ajudar a fazer inclinar a eleição para Donald Trump. A advogada propunha entregar essa informação em troca da revogação da chamada lei Magnitsky – através da qual Washington aplicou sanções a Moscovo devido à morte de Sergei Magnitsky, um advogado russo que denunciou a corrupção no Kremlin e que morreu na prisão.

Estes pormenores foram divulgadas em Julho do ano passado pelo The New York Times.

Tal como foi também noticiado no ano passado, o testemunho de Goldstone indica que os participantes da reunião ficaram desiludidos pela falta de informação que Veselnitskaia tinha sobre Hillary Clinton e que estes acabaram por considerar o encontro inútil.

Trump Jr. também testemunhou perante o comité do Senado e admitiu igualmente que ficou desiludido com o conteúdo da reunião: “Eu não queria ter perdido 20 minutos a ouvir uma coisa que não esperava ter sido dita reunião”, disse no seu testemunho, segundo cita o Washington Post.

Jared Kushner, genro de Trump e agora um dos seus principais conselheiros, e Paul Manafort, então director de campanha, entretanto acusado vários crimes na sua maioria de natureza financeira, também estiveram na reunião na Trump Tower mas recusaram-se a testemunhar perante os senadores.

Donald Trump desmentiu sempre que a sua campanha tenha tido qualquer relação com Moscovo para influenciar as eleições presidenciais norte-americanas de 2016, suspeitas que estão sob investigação da equipa liderada pelo procurador especial Robert Mueller e pelo Congresso.

Outra das questões levantadas pelos testemunhos agora divulgados é a forma como os envolvidos reagiram às primeiras notícias sobre a reunião com Veselnitskaia.

Os documentos mostram como os advogados do Presidente ficaram preocupados com as notícias: “[Os advogados de Donald Trump estão] preocupados por causa das ligações do Don Jr. com responsáveis da Rússia, que ele sempre negou encontrar”, escreveu Goldstone num email para Agalarov, dias depois de o New York Times ter noticiado a reunião.