Quase 70 anos depois, o Norte ainda tem pesadelos com os bombardeiros americanos
Pyongyang olha para a utilização de bombardeiros nos exercícios militares norte-americanos como uma provocação. Durante a Guerra da Coreia, os EUA bombardearam "tudo o que mexesse na Coreia do Norte".
Nos protestos da Coreia do Norte contra os exercícios militares norte-americanos e sul-coreanos na região nota-se um particular incómodo com a possível utilização de bombardeiros B-52, as fortalezas voadoras que os EUA têm na sua máquina militar desde a década de 1950.
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Nos protestos da Coreia do Norte contra os exercícios militares norte-americanos e sul-coreanos na região nota-se um particular incómodo com a possível utilização de bombardeiros B-52, as fortalezas voadoras que os EUA têm na sua máquina militar desde a década de 1950.
O problema da Coreia do Norte não é tanto o bombardeiro B-52 em particular – é a memória do devastador bombardeamento norte-americano durante a Guerra da Coreia, entre 1950 e 1953, que torna a entrada em cena dos B-52 uma questão muito delicada.
As Forças Armadas dos EUA e da Coreia do Sul disseram que não serão usados bombardeiros nos exercícios que terminam no próximo dia 25, mas a Coreia do Norte repete todos os anos o mesmo protesto, num sinal da importância desta questão para o país.
Apesar de não estar presente na memória colectiva, a dimensão do bombardeamento norte-americano sobre a Coreia do Norte é impressionante – segundo os cálculos da Força Aérea dos EUA, as bombas dos B-29 provocaram mais estragos nas cidades norte-coreanas do que os bombardeamentos na Alemanha e no Japão na Segunda Guerra Mundial. Em três anos de Guerra na Coreia, os EUA lançaram 635 mil toneladas de bombas, contra 503 mil durante os quase quatro anos de Guerra do Pacífico.
Num artigo de opinião publicado no jornal norte-americano New York Times em Março de 2015, o jornalista Blaine Harden recordou o bombardeamento na Coreia do Norte há quase 70 anos, chamando-lhe "O crime de guerra dos EUA que a Coreia do Norte não esquece".
"O bombardeamento foi prolongado e implacável, mesmo segundo a avaliação dos líderes americanos", escreveu Harden, citando o general da Força Aérea Curtis LeMay, responsável pelo comando aéreo norte-americano durante a Guerra na Coreia: "Num período de três anos, matámos – o quê – 20% da população."
Dean Rusk, secretário de Estado norte-americano entre 1961 e 1969, disse que os EUA bombardeavam "tudo o que mexesse na Coreia do Norte, cada tijolo que ainda estivesse em cima de outro".
"Quando já não havia alvos urbanos", escreveu o jornalista norte-americano, "os bombardeiros dos EUA destruíram barragens na fase final da guerra, inundando terrenos agrícolas e destruindo colheitas".