Bruno de Carvalho falou de “aproveitamento”, Ricciardi pediu demissão da direcção
A violência que se registou na terça-feira, no Centro de Estágios do Sporting mereceu a condenação dos principais nomes ligados ao clube, assim como a Federação Portuguesa de Futebol, Governo e Liga de futebol.
Bruno de Carvalho:"Temos de nos habituar que o crime faz parte do dia-a-dia"
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Bruno de Carvalho:"Temos de nos habituar que o crime faz parte do dia-a-dia"
Horas depois dos episódios de violência em Alcochete, o presidente do Sporting disse que “há muito” tem alertado para a necessidade de tomar “medidas corajosas”. “Lamento ter ouvido o secretário de Estado do Desporto a dizer que era preciso ter tomado medidas corajosas, e não ter dito quais eram essas medidas corajosas”, afirmou Bruno de Carvalho à Sporting TV. “O Sporting há muito tempo que fala nisso, que fala nas claques.”
Confirmando de forma permptória que o Sporting vai estar no Jamor, o presidente dos "leões" disse que "os jogadores estão tristes com o que aconteceu, mas querem jogar".
"Temos de nos habituar que o crime faz parte do dia-a-dia", afirmou Bruno de Carvalho, defendendo que o aconteceu na tarde de terça-feira em Alcochete "não é frustração, é crime público". “Vamos aguardar para ver quem são e tomar as nossas medidas. Se tivermos de fazer melhorias na segurança da Academia com certeza absoluta que vamos averiguar o que podemos fazer”, acrescentou Bruno de Carvalho, respondendo às críticas a propósito da alegada falta de segurança do espaço.
Se os autores da violência forem associados do clube, o presidente do Sporting prometeu "agir em conformidade". "Somos o único clube que, por iniciativa desta direcção, tem adeptos proibidos de entrar no estádio. O presidente, a estrutura e a polícia estão presentes", lembrou o presidente. "Isto é um caso de polícia", frisou.
Respondendo às críticas que lhe foram dirigidas, Bruno de Carvalho defende-se dizendo que o seu modus operandi não é deixar que as agressões acontençam: "Já ouvi uma série de teorias mirabolantes. Que este é o meu modus operandi, porque já nas assembleias gerais não deixo falar quem quer falar mal. É falso. O meu modus operandi não é de certeza absoluta ver atletas e staff serem agredidos", defendeu-se.
O líder dos “leões” diz ainda que “está a haver um aproveitamento”. “Há dois ou três meses aconteceu o mesmo em Guimarães. Bem sei que o Sporting e o presidente são muito mais agraváveis de se bater. Mas foram mais ou menos os mesmos homens que entraram, os jogadores foram mais ou menos a mesma quantidade batida… É condenável em todo o lado.”
José Maria Ricciardi: “Esta direcção deve ser suspensa”
O antigo membro do Conselho Leonino disse estar "envergonhado, indignado e preocupado” com a violência que se verificou nesta terça-feira em Alcochete e salientou as repercursões económicas que pode ter no clube.
“Isto vai pôr em causa a situação económica, financeira e patrimonial do Sporting, com jogadores a poder rescindir por justa causa e o Sporting a perder milhões. Sinto-me envergonhado, indignado, nunca vi isto. Nem na América Latina… Não vejo como haverá condições para jogar a final da Taça de Portugal”, resumiu, em declarações à CMTV.
Mas vai mais longe: "Deve ser suspensa esta direcção. O presidente de Mesa da Assembleia Geral [Jaime Marta Soares] deve tomar as medidas necessárias. Tudo isto é inaceitável para um clube com esta história”. Apontando o dedo a Bruno de Carvalho, dizendo que é um elemento "destabilizador" dentro do clube, Ricciardi atirou que as agressões foram permitidas com "total incúria pela administração da SAD".
Holdimo: "Quem fez isto não é do Sporting, apesar de poder julgar que é”
A Holdimo, detentora de cerca de 30% da SAD do Sporting, repudiou os actos de violência, manifestando solidariedade com futebolistas e equipa técnica. Em comunicado, a sociedade do empresário angolano Álvaro Sobrinho expressou "o seu mais veemente repúdio pelos actos praticados na academia de Alcochete". "É importante dizer agora que quem fez isto não é do Sporting apesar de poder julgar que é".
"Os autores não podem ficar impunes, terão de ser utilizados, até à exaustão, todos os meios para apurar as responsabilidades de quem teve tão vil comportamento. A violência é um acto primário, gratuito e injustificável. Neste momento manifestamos a nossa total solidariedade com os jogadores e equipa técnica agredida e apelamos à sua superior inteligência, para não confundirem a árvore com a floresta", lê-se no comunicado da Holdimo.
"A Holdimo apela à calma dos jogadores e equipa técnica, com a garantia de que tudo, mas mesmo tudo, será feito para apurar todas as responsabilidades. É o momento de mostrarem a raça do Leão, deste lado creiam ter a determinação de não deixar nenhum responsável impune. Não regatearemos esforços para que sejam identificados todos os autores, o Sporting é o oposto da imagem que hoje foi transmitida com os acontecimentos em Alcochete", concluiu a Holdimo.
Bas Dost: "Estou vazio"
Bas Dost járeagiu às agressões de que foi alvo. Em declarações ao jornal holandês AD Sportwereld, o avançado disse que não tem palavras para definir a "angustiante" situação.
"Não tenho palavras. Não estava à espera desta situação. Foi uma situação angustiante e estamos todos chocados. Isto é um drama para todos. Estou vazio", resumiu o jogador.
Pedro Proença: "Chegou o momento de reflexão profunda dos dirigentes"
O presidente da Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP) defendeu uma "reflexão profunda dos dirigentes, porque há uma linha que foi ultrapassada", no caso dos actos de violência desta terça-feira na Academia do Sporting, em Alcochete. "Não são estes os valores que temos preservardo e temos defendido nas competições profissionais", começou por assinalar Pedro Proença, em entrevista à RTP3.
"Não podemos estar ao lado daqueles que de forma pouco sensata não percebem que tem atrás de si um conjunto de massa associativa que muitas vezes é seguidista daquilo que vai ser dito", sublinhou o presidente da LPFP. "Chegou o momento de reflexão profunda dos dirigentes. O momento em que se percebe que há uma linha que foi ultrapassada, porque o que se passou não foi um caso desportivo, é um caso de polícia, contra os verdadeiros artistas do futebol".
Pedro Proença afirmou ainda que devem ser retiradas ilações a quem "de forma absolutamente primária tem utilizado o futebol como um meio para atingir outros fins". O dirigente não quis esclarecer se incluía Bruno de Carvalho nesse grupo, dizendo apenas que se referia "a todos".
"Eu acho que os dirigentes têm de perceber que no futebol não vale tudo. Eu enquanto dirigente tenho de perceber que há uma entidade que está atrás de mim e tenho de responder por ela. As nossas discussões, as nossas reflexões têm de ser feitas dentro das próprias organizações. São esses fóruns em que os presidentes devem opinar e dar os pontos de vista", declarou, sem se referir ao presidente dos "leões".
"Ao Jorge Jesus, uma pessoa que eu aprendi a reconhecer o seu trabalho, enquanto árbitro de futebol, quero deixar uma palavra de apreço e solidariedade, assim como a todos os jogadores, que têm sabido defender as cores 'leoninas'", frisou o líder da LPFP, apelando à reflexão conjunta, porque "no futebol não vale tudo".
Classificando este episódio de agressões em Alcochete como "uma página negra do futebol em Portugal", o responsável ressalvou que "o futebol não é isto", ambicionando que a final da Taça, no domingo, entre Sporting e Desportivo das Aves, seja um momento de festa, e que a Liga reflicta antes do encontro.
Pedro Proença considera ainda que "seremos sempre poucos para inverter aquilo que hoje aconteceu e já se antecipava que iria acontecer". "Hoje atingimos um ponto que deve merecer uma reflexão muito profunda daquilo que andamos a fazer." Na mesma entrevista, deixou "uma palavra de condenação veemente de todos estes actos primários", prestando "solidariedade com os técnicos, os jogadores e as suas famílias".
Santana Lopes: "Volta sempre esta crispação"
Pedro Santana Lopes sublinha que o presidente "não pode dar voltas ao estádio quando ganha e depois quando se perde criticar alguns jogadores e o treinador".
"Volta sempre esta crispação", apontou o ex-presidente do Sporting. "Não percebo onde isto vai parar", disse em comentário na SIC Notícias.