Todos estes mortos palestinianos não valem sequer a expulsão de um diplomata?
Será a humanidade capaz de ir em socorro dos que na sua terra são mortos como se fossem presas de caça e exija que se respeite a lei e as Resoluções do Conselho de Segurança sobre a Palestina?
Israel matou 92 manifestantes palestinianos, desarmados, e feriu mais de dois mil. A maioria foi morta e ferida no dia em que Trump ilegalmente inaugurou a embaixada dos EUA em Jerusalém.
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Israel matou 92 manifestantes palestinianos, desarmados, e feriu mais de dois mil. A maioria foi morta e ferida no dia em que Trump ilegalmente inaugurou a embaixada dos EUA em Jerusalém.
No seu apontamento, Trump afirmou estender a mão aos vizinhos e, nesse gesto de paz, o seu grande amigo Netanyahu mandou os seus soldados puxarem pelo gatilho e matarem a peito descoberto mais de 50 palestinianos. Parece que o mundo pouco se importa que sejam assassinados centenas ou milhares de palestinianos...
Do que o mundo ocidental se importou foi com os alegados mortos sírios com gás. Esses que ninguém confirmou terem sido assassinados com gás tiveram uma relevância que levou a que Trump, Theresa May e Macron ordenassem o bombardeamento da Síria. Porém, na frente de todo o mundo, na terra palestiniana ilegalmente ocupada por Israel, sentindo as costas quentes com o apoio de Trump, os soldados israelitas, por ordem do governo, assassinaram a tiro dezenas de palestinianos que se manifestavam no solo dos seus antepassados.
E, no entanto, nenhuma potência ordenou o bombardeamento de Israel; nenhuma potência expulsou diplomatas do país fora da lei; e, em Belém, no Palácio de São Bento e nas Necessidades, ninguém chamou o embaixador.
Neste mundo em que as palavras são atravessadas pelo veneno das conveniências e interesses mesquinhos, quantos milhares de palestinianos têm de morrer para que termine esta carnificina e a lei internacional seja cumprida?
Sim, já compreendemos que de Trump só se pode esperar brutalidade, irresponsabilidade e desfaçatez. É o que se tem visto. Mas a outra pergunta que cabe fazer pode ser esta – mas o mundo tem de se agachar e submeter-se à brutalidade e à desfaçatez? Ainda de outro modo: mesmo que Merkel, Macron, May e tutti quanti se agachem, é possível ao mundo erguer-se contra esta brutalidade?
É possível, porque o que se passou em Timor-Leste mostrou-nos que os poderosos, a partir de certa altura, já não podem continuar a puxar pelo gatilho porque o mundo não aceita. Temos, então, que aguardar por quantos mais dezenas, centenas ou milhares de mortos palestinianos para que o nosso mundo desligue do seu quotidiano e dê atenção aos palestinianos que tiveram o azar de viver ao lado de uma das potências mais ofensivas do nosso planeta?
Não é com balas reais que se enfrenta quem se manifesta pela sua liberdade de afirmar que os territórios ocupados depois da Guerra dos Seis Dias, em junho de 1967, são palestinianos e reconhecidos pelas Nações Unidas como tal e que Jerusalém Leste deve ser a capital da Palestina.
Aqui não são precisos peritos, nem perícias, o que é preciso é apenas respeitar a Resolução 242 do Conselho de Segurança da ONU.
Quantos diplomatas israelitas vão ser expulsos? Que vai fazer a União Europeia? E Portugal? Desde que Trump rasgou o Acordo assinado com o Irão a escalada do conflito não parou de subir.
Netanyahu sente-se bem com o apoio de Trump. É também a forma de fugir aos graves crimes de que é acusado no seu país, aliás tal e qual como o que se passa com Trump, sempre na mira de diversas investigações criminais.
São estes homens que detêm o poder de ordenar aos soldados que disparem e matem friamente.
Será a humanidade capaz de ir em socorro dos que na sua terra são mortos como se fossem presas de caça e exija que se respeite a lei e as Resoluções do Conselho de Segurança sobre a Palestina?
O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico