Intensas negociações mas ainda não há fumo branco em Roma
Di Maio e Salvini pediram ao Presidente Mattarella mais uns dias para chegar a acordo. Já haverá consenso em matéria económica. Surge agora um novo obstáculo: o nome do primeiro-ministro
A formação do novo governo italiano permanece no impasse. O que quase todos os dias muda são os nomes dos favoritos ao cargo de primeiro-ministro, nomes que no dia seguinte são desmentidos. Começa a instalar-se um clima de desgaste e aborrecimento. Apesar das longas e quase contínuas reuniões entre Luigi Di Maio, “chefe político” do Movimento 5 Estrelas (M5S), e Matteo Salvini, líder da Liga, não há “fumo branco”.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
A formação do novo governo italiano permanece no impasse. O que quase todos os dias muda são os nomes dos favoritos ao cargo de primeiro-ministro, nomes que no dia seguinte são desmentidos. Começa a instalar-se um clima de desgaste e aborrecimento. Apesar das longas e quase contínuas reuniões entre Luigi Di Maio, “chefe político” do Movimento 5 Estrelas (M5S), e Matteo Salvini, líder da Liga, não há “fumo branco”.
Di Maio e Salvini foram ontem novamente recebidos pelo Presidente Sergio Mattarella, em audiências separadas. À saída do Quirinale, Di Maio tinha pouco a dizer: “Pedimos a Mattarella mais alguns dias para poder fechar definitivamente a discussão sobre os temas [programáticos].” Deu uma justificação imbatível: “Estamos de acordo em andar depressa, mas tal como estamos a escrever o programa de governo dos próximos cinco anos, também é muito importante para nós fazê-lo o melhor possível.” Horas depois, Salvini pouco mais acrescentou.
Ambos os partidos estão a negociar seriamente e com pressa. Sabem que têm todo o interesse num consenso, quanto mais não seja porque uma ruptura levaria a inevitáveis eleições antecipadas. Mattarella tem no bolso um “plano B”, um governo “neutral” para fazer aprovar o orçamento e, depois, realizar eleições. Ambos poderão pagar um preço se falharem, sobretudo o M5S.
Os dois líderes recusam-se a indicar o nome do próximo primeiro-ministro pela simples razão de que ainda não puderam chegar a um acordo. No domingo surgiram novos favoritos: o economista Giulio Sapelli, que foi professor de Salvini, e o jurista Giuseppe Conte, o primeiro próximo da Liga, o segundo do M5S.
A questão Sapelli
Conte já fazia parte da “lista de ministros” do Cinco Estrelas como futuro ministro da Administração Pública, que deveria reformar de alto a baixo. Tem prestígio e é politicamente discreto. Ao contrário, Sapelli é altamente controverso e fala muito. No sábado publicou no jornal digital Il Sussidiario um artigo de elogio do programa de governo da Liga e do M5S. Foi lido como uma declaração de candidatura.
Confirmou aos jornalistas ter sido contactado e disse estar disponível, desde que fosse ele a escolher o ministro das Finanças. Horas depois, Di Maio desmentia secamente: “Não é o seu nome que será proposto à presidência.” Sapelli resignou-se: “É porque mudaram de opinião.”
Embora já fora de questão, o seu nome suscitou imediatas reacções. É um acérrimo crítico do euro e, sobretudo, um anti-germânico. O artigo de sábado tinha como título “O verdadeiro plano M5S-Liga: desmontar a UE para a refazer.” Duas semanas antes, publicara um outro com o título: “A Alemanha está a matar-nos, Trump e Putin podem salvar-nos.” Nenhum dos dois partidos quer, neste momento, acrescentar às suas dificuldades uma querela europeia, assunto adiado. Mas o caso Sapelli é significativo do clima e da possibilidade de surpresas.
Note-se que, em matéria de programa, as duas partes anunciaram um acordo quase completo em matéria económica. Mas há ainda grandes divergências no relativo à imigração, o que Salvini ontem confirmou. E não existe nenhum acordo sobre a política europeia.
Mattarella explicou que é sua prerrogativa nomear o primeiro-ministro. Exige uma figura “proeminente” e não um nome de recurso. Tornou patente que tenciona fiscalizar a acção governativa, no estrito respeito da Constituição. O posicionamento da Itália na Europa e o equilíbrio financeiro estão entre as suas preocupações. A fragilidade do acordo entre o Cinco Estrelas e a Liga reforçam a posição presidencial. Diz um analista: “O Presidente Mattarella já colocou sob tutela o futuro governo”.
A imprensa segue a crise com algum humor. O activismo de Di Maio presta-se à ironia. Cito um cronista do La Repubblica. “Quando Luigi Di Maio — o homem que trazia no bolso um contrato de governo já impresso para o fazer assinar por quem fizesse a melhor oferta — comunica que ‘estamos a escrever a História e só falta o nome do primeiro-ministro”, recorda aquele bom tempo em que anunciou no Facebook o seu casamento: ‘Está tudo pronto, igreja, recepção, loiças e a viagem de núpcias. Agora só falta encontrar a noiva.”