OPA da EDP apanha onda de fusões em curso na Europa

As empresas de energia da China estão a tentar aproveitar o movimento de consolidação que se vive no sector, em especial na Europa. E é nessa estratégia global que assenta o reforço da posição na EDP.

Foto
Reuters/DAMIR SAGOLJ

Na onda de fusões e aquisições que se vive no sector da energia eléctrica, sobretudo na Europa, os conglomerados chineses querem garantir o seu poder. E o mesmo acontece no sector do petróleo. Que o digam os gigantes controlados pelo Estado chinês e com fortes posições na EDP (China Three Gorges), REN (State Grid) e Petrogal Brasil (Sinopec).

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Na onda de fusões e aquisições que se vive no sector da energia eléctrica, sobretudo na Europa, os conglomerados chineses querem garantir o seu poder. E o mesmo acontece no sector do petróleo. Que o digam os gigantes controlados pelo Estado chinês e com fortes posições na EDP (China Three Gorges), REN (State Grid) e Petrogal Brasil (Sinopec).

O mundo da energia focou-se nos compromissos para cumprir o acordo de Paris e, por causa disso, no investimento em tecnologias de energia limpa. Especialmente na Europa, os investidores e as empresas correm agora atrás de activos com energia limpa que permitam também ganhar dimensão e compensar a redução das margens do negócio, ainda que garantidas.

Não é só a oferta pública de aquisição lançada esta sexta-feira sobre a EDP pela China Three Gorges (CTG) é disso exemplo. É-o também a guerra entre a espanhola Iberdrola e a italiana Enel pelo controlo da Eletropaulo, a maior distribuidora de electricidade do Brasil, como é a anunciada e polémica negociação da State Grid para comprar 20% do capital da 50 Herz, uma das operadoras da rede eléctrica da Alemanha e que serve 18 milhões de pessoas.

As petrolíferas europeias passaram a estar também interessadas em juntar o gás natural à electricidade, “enviando importantes sinais da sua direcção de longo prazo”, escreveu o Financial Times, o que gera também mais pressão sobre o sector. A Shell comprou uma fornecedora de gás e electricidade no Reino Unido, a Total decidiu desafiar os incumbentes no mercado francês, e a Repsol quer investir mais de três mil milhões em electricidade e gás natural em Espanha e no Peru.

A própria EDP foi alvo de especulações nas últimas semanas, com várias notícias nunca confirmadas que davam conta do interesse de eléctricas espanholas, francesas e italianas na sua aquisição. Na sexta à noite os chineses da CTG anunciaram o lançamento de uma oferta pública de aquisição (OPA) em que propõem 3,26 euros por cada acção da eléctrica liderada por António Mexia, avaliando-a em cerca de 11.900 milhões. Se for bem sucedida, terão de desembolsar quase 9 mil milhões de euros para ficar com 100% da EDP.

Chineses sem limites

Neste contexto de consolidação no sector, a ambição chinesa é dominar o investimento global em energia limpa nas próximas décadas e a grande velocidade. Estimativas do Instituto para a Economia da Energia e Análise Financeira, dos EUA, indicam que as fusões e aquisições feitas por entidades chinesas neste sector no ano passado totalizaram 44 mil milhões de dólares (37 mil milhões de euros), em parte impulsionadas pela política chinesa de concretizar a chamada Nova Rota da Seda.

No caso da CTG, os planos são ter 15% das suas receitas geradas fora da China, com prioridade para as energias renováveis (projectos hidroeléctricos e eólicos), no Ocidente, África e América Latina.

Já as gigantes estatais chinesas do petróleo, como a Sinopec e a China National Petroleum Corporation (CNPC), apostam no seu próprio negócio e no aumento do seu  investimento a nível internacional. A Sinopec anunciou recentemente que vai investir, em 2018, 18,65 mil milhões de dólares, mais 20% do que no ano passado, em novos activos de gás e petróleo, incluindo fusões e aquisições no mercado externo.

Há algumas semanas perguntaram ao responsável da Petrochina para a Indonésia, subsidiária da CNPC, quanto dinheiro tinha para investir na Ásia Pacífico e a resposta foi: “É ilimitado”, registou a Standard & Poor’s.

Mas Pequim também quer ver mudanças “em casa”, com a determinação de que as empresas estatais têm de reformar as respectivas estruturas accionistas, com abertura a capital de investidores privados e à sua entrada como accionistas. O que parece que a CTG está a seguir, com a negociação entre a sua unidade de novas energias e a China Life Insurance, detida por privados e institucionais. Por 1,5 mil milhões de dólares de capital para desenvolver o negócio eólico e fotovoltaico, abre 30% do seu capital. E dentro de três anos tenciona ter 30% do seu capital cotado na bolsa de Xangai.